domingo, agosto 16, 2009

II - Etapa 505

CABREIRA 'OFERECE' A VOLTA A NUNO RIBEIRO

(A estratégia estava estudada e preparada. Assim que um 'tavira' lançasse um ataque, levando consigo David Blanco, o bloco azul unia-se à volta de Plaza - a pensar no crono de hoje - e ao Nuno... que tivesse toda a sorte do Mundo; não se lembraram que o Cabreira é suficientemente 'louco' para lançar um ataque a quase 20 quilómetros da chegada; o Nuno só tinha que o acompanhar...)

E TUDO FICOU SUSPENSO DE UM SEM NÚMERO DE… ‘SES’
(Com a devida vénia, que a frase é do João Pedro Mendonça)


Sem ter sido épica – e, felizmente, tive oportunidade de assistir a algumas, no local – a etapa de ontem, com chegada à Torre, voltou a proporcionar a todos os amantes do Ciclismo um espectáculo inolvidável.
Grande jornada de Ciclismo.

Óptimo para a modalidade, um dia depois de um jornal lhe ter prestado um verdadeiro serviço ao chamar a atenção para o facto de, provavelmente mais do que qualquer outra modalidade, ser uma área onde vale a pena apostar em termos financeiros, enquanto inigualável montra para marcas patrocinadoras.

Neste à parte, recordo que mais de 700 mil pessoas viram pela televisão a chegada à Senhora da Graça, número esse que, não será de estranhar, há-de ter sido ontem ultrapassado.

Mas vamos à etapa…
Fazer a antecipação do que pode acontecer numa jornada destas, quando é a penúltima da Volta, antecedendo o crono final, é um exercício que acarreta riscos. Percebeu-se ao não ter visto tanta gente assim a arriscar-se a isso.

Relendo a Etapa anterior, sem ponta de arrogância, acreditem-me, só fui surpreendido com o facto de a Barbot não ter arriscado um milímetro…

Colocou o Bernabéu onde deveria estar, mas ficou a ver como parariam as modas. Como ficou a Palmeiras-Tavira.
E continuo – posso estar enganado, sei que não sou o ‘dono’ da verdade – a achar que todo aquele andamento imposto pela Liberty Seguros, que tinha obrigação de o fazer, tinha a Camisola Amarela a defender, sempre foi mais para tentar ‘sacudir’… por exemplo o David Bernabéu (porque o outro David, o Blanco, e isso também não foi surpresa, foi quem contou sempre com melhor guarda de honra).

E posso aqui meter já um daqueles ‘ses’
Não fora aquela avaria mecânica numa das piores alturas da corrida, que… corrida teríamos tido?
Pese embora reforce o que já ontem escrevi, o Blanco não me parece tão bem como estava o ano passado.

Conhecendo, até as características pessoais, dos corredores que iam – e ainda vão, quase todos – na frente da tabela classificativa, o menos difícil era adivinhar que o primeiro ataque seria do João Cabreira.

Agora, à posteriori – e dando razão a quem um dia disse que… ‘prognósticos só no final’ -, apenas assinalaria que o ataque do João foi perpetrado cedo de mais.

Faltavam 18 quilómetros, recordam-se?
E, em relação à situação na sua equipa – pese embora o encalorado incentivo que viria, mais tarde, a receber do seu carro e apoio – o Nuno Ribeiro mostrou que estava avisado.

Certo que, se o ataque é lançado pelo homem que o precedia na geral, o Camisola Amarela podia assumir ele a resposta, mas isso poderia ter sido feito por outro colega de equipa, poupando-o.
A equipa é obrigada a defender o seu líder.

Mas correu tudo a contento e sei que posso ser veemente desmentido. Mas ninguém vai negar que sou capaz de ler uma corrida.

Aqui chamo ao tema a equipa de Tavira. Se os dois primeiros da geral se destacam e rapidamente ganham quase 50 segundos de vantagem… esperaram pelo quê?

Mas regresso à situação concreta do Nuno Ribeiro.
Em condições normais – e daqui só excluo uma avaria ou uma queda por parte do Nuno – o João Cabreira não era o seu maior rival.
Então porque é que ele aproveitou para ir com ele?
Sei que esta pergunta jamais terá direito a resposta.
Mas também sei que o Nuno sabia que podia ‘haver-se’ com o louletano e disso tirar proveito.

Mais… corria menos riscos do que se ficasse à espera que outro companheiro de equipa tivesse assumido a resposta.

Que agora já sei que o João iria estoirar?
Mas não sabia.
Nem ele, Nuno, mas sabia que enquanto tal não acontecesse – mesmo que isso não acontecesse – o lugar mais seguro para a sua legítima pretensão a ganhar a Volta era ser ele a assumir o risco.

Foi feliz, a expressão do João Pedro Mendonça (RTP) ao dizer que iam ficar uma série de ‘ses’ pendurados
E jamais saberemos o que teria acontecido de diferente.
Mas ficaram indícios.

Quem não se lembra ainda da chegada a Santo Tirso quando, numa situação um pouco semelhante, o Nuno Ribeiro procurava um companheiro de equipa no grupo da frente, porque o Cabreira não o largava, e… não viu ninguém para depois ser ultrapassado pelo Rubén Plaza que viria a acabar a etapa à sua frente?

E como ler a reacção do valenciano quando, no preciso momento em que o João Cabreira claudicava e o Nuno se isolava na frente, desferiu – pelo menos esboçou – um ataque na cabeça do grupo perseguidor?

Certo que logo logo se viu que ‘aconchegava’ o auricular ao ouvido e refreava a iniciativa. Que leitura fazer desta situação concreta e indesmentível?
Não alimento teorias de conspiração e até sou capaz de adiantar uma explicação: seguindo a corrida pela tv, o Américo poderá ter exclamado algo do género: ‘descolou’.
E o Plaza, pensando que teria sido o Nuno logo saltou.
A rápida emenda de intenções encaixaria aqui.

Do carro teria vindo o complemento da informação: ‘Calma, que quem descolou foi o Cabreira!’.

Mas que Plaza andou esta última semana em pulgas, lá isso andou.

E é verdade que, depois deste… incidente, o carro de apoio da Liberty foi até ao Nuno e apoio-o de forma inequívoca.

Que havia hesitações no seio da equipa também não nos deixa dúvidas.

Quando, exactamente na etapa da Senhora da Graça, com o mesmo João Cabreira como parceiro, o Nuno Ribeiro vestiu a Camisola Amarela, o Américo abandonou o discurso dos dois trunfos para o triunfo na Volta, que eram o Guerra e o Plaza, garantindo que a equipa agora só tinha um líder, o Nuno Ribeiro.
Tenho gravado.

Dois dias depois, em Santo Tirso – depois daquela cena estranha do Plaza se ter omitido à ajuda ao Camisola Amarela – o mesmo Américo (e também tenho gravado) recuou e afirmou que a equipa contava com DOIS candidatos

Por isso termino assim:
O João Cabreira ofereceu a Volta ao Nuno Ribeiro.

Acima de qualquer estratégia que possa estar a escapar-me… o Nuno fica a dever esta Volta ao Cabreira.

7 comentários:

Paulo Sousa disse...

Madeira,

Globalmente concordo contigo, contudo não vamos transformar a “avaria” do Blanco na sua mais do que provável não vitória na Volta a Portugal 2009, repara, utilizo a expressão “não vitória” em vez de “Derrota”.

Repara, quanto segundos lhe custou a “avaria”?
Porque é que o Nelson ou o André não lhe cedeu a Bicicleta?

A mais do que provável vitória do Nuno nesta edição da Volta começou no seu ataque no inicio da subida para Lamas de Olo e continuou ontem.

Bem mesmo esteve o Marco Chagas nos seus comentários sobre o ataque do Plaza e do Jiménez e quem sabe se não terá sido esse comentário que terá mudado a história da Volta? Não nos podemos esquecer que os carros levam televisão e que os patrocinadores das equipas seguem também com redobrado interesse estes directos – mas tudo isto são “ses” pois só mesmo os directores desportivos e respectivos atletas é que saberão os factos reais e concretos.

E no Ciclismo do que eu percebo mesmo é das funções ligadas aos motociclos e aos regulamentos devido á minha formação como comissário, no resto sou mesmo tão-somente mais um simples amante da modalidade.

cristina neves disse...

Parabens ao Nuno Ribeiro...beijos Raquel, voces pelo que passaram já mereciam isto.

João Cabreira és o NOSSO HEROI.

Premio de falsidade...JIMENEZ e PLAZA.

beijinhos Zé

carneiro disse...

ehehehe, Senhor Madeira. Como eu gosto das suas entrelinhas....Abraço.

José Rito disse...

Concordo em absoluto contigo. O Nuno deve esta volta ao Cabreira. E pergunto eu, porque é que na Sª da Graça o Nuno não ajudou o Cabreira, para os dois ganharem ainda mais tempo. De certeza que foi o Américo que o mandou não ajudar. A Liberty é grande mas o Américo não me parece grande coisa. Faltam mais treinadores competentes em Portugal. Abraço e continua com este blog espectacular que eu visito todos os dias.

mzmadeira disse...

;-)

Mas se não tirar o Senhor... eu vejo-me OBRIGADO tratá-lo por DOUTOR...
abraço

MzM

mzmadeira disse...

JNewton...

actualmente, e a não ser a minha consciência, não há nada que me impeça de ser... parcial.

De puxar a brasa, não à 'minha sardinha' - como diz o ditado - mas aos meus amigos. Que até poderia não o ser.

Recordo, para os mais distraídos, o que aconteceu há dois anos.

'Pegando' num corredor que se tornara profissional em 2003, sem ter conseguido qualquer destaque, Corredor que, em 2004 correu em Portugal... sem ter tido nenhuma vitória, que, por acaso, em 2005 e por total inépcia da equipa (portuguesa) que representara o ano anterior... ganhou a Volta ao Alentejo e que em 2006 não ganhou absolutamente nada...

... em 2007 o Manuel Zeferino chegou e disse: 'Vamos ganhar a Volta com o Xavi Tondo'.

E ganhou.

Num pelotão dez vezes mais competitivo do que este, deste ano. Por isso, enquanto analista, tenho que aceitar todos os 'bluffs' que nos queiram impigir. Como conhecedor não me engamam.

Dois candidatos - e não, não foi a CS quem os 'inventou' - à partida, naipe reduzido a um líder inequívoco que só lá chegou (não quero ser injusto para com o Nuno, por iso refraseio: que soube lá chegar) graças ao esforço de terceiros, que passaram outra vez a ser dois depois de uma atitude feia, em termos de colectivo (que não foi denunciada), para, finalmente e outra vez graças à intervenção de terceiros - e à sensata atitude do Nuno que, melhor do que ninguém sabe que esteve sempre só até à última das milhentas rotundas de Viseu, esta tarde - não me convence de que hávia um... 'trunfo secreto'.

E mostrou o quanto a leste da forma dos seus corredores estava o DD daquela equipa, mau grado o Guerra tenha ganho o crono de hoje.

Assim por assim, dou a minha preferência a quem, sem medo de poder vir a ser contrariado pela corrida diz claramente: Vamos ganhar a Volta com ESTE Corredor.
E ganha.

Significa que sabe muito bem como estão todos os seus homens e, mais do que isso - porque isso é fundamental - que conta com todos eles para levar O candidato à vitória. E que este não falhará.

Curiosamente, recordar-se-ão, a meio da primeira etapa chefou a parecer que tudo estava perdido...

aamorim disse...

Pois, Madeira, mas essas "pequenas coisas" só as entende (e sabe) quem ia acompanhando (com as devidas distâncias) aquela familia, perdão, aquele grupo, aquela equipa. Que eu tive a felicidade de "ir conhecendo".
Esperemos que a travessia do deserto esteja para acabar e que o Manel possa reunir uma nova familia para voltar a disputar as nossas provas e quem sabe, as outras...
Prefilam-se novas equipas, espero que algumas acabem por acontecer!
Se o deixarem, pois continuamos o ciclismo luso continua a viver a politica da terra queimada. Muitos pretendem que a modalidade continue a ser o "quintal" de alguns, onde dominam os bastidores (e não só) a seu bel prazer. Enquanto assim for, como se viu ao longo da época (e na volta agora terminada), o futuro do ciclismo luso permanece sombrio.
Curiosas as palavras do Nuno Ribeiro que na hora dos agradecimentos, da equipa (além dos colegas, mas isso é obrigatório...), apenas teve palavras e reconhecimento para o Presidente da Liberty!!! Sintomático, não será?

Uma última palavra para o João Cabreira, que com "meia preparação", fez a volta que fez! Um verdadeiro herói, um exemplo do querer, do saber sofrer até à exaustão. Mas sempre de cabeça bem levantada, de forma digna. Um HOMEM de verdade. Como ele disse, SE O DEIXAREM, para o ano voltará mais forte que nunca, pronto para discutir a volta.

Abraço