quarta-feira, dezembro 10, 2008

II - Etapa 288

DESEMPREGO, SOLIDARIEDADE E…
NINGUÉM COM "ELES NO SÍTIO"


Alguns jornais falavam hoje do espectro – que é mais do que isso, é mesmo uma situação real – do desemprego que se adivinha no pelotão nacional.

Os exemplos apontados eram os de Hugo Sabido e de Joaquim Andrade, mas há muitos, muitos mais Corredores no risco de não terem emprego na próxima temporada.

A redução do número de equipas – o ano passado tínhamos oito, este ano e para já, só há seis, sendo que duas delas estão com dificuldades em preencher os requisitos da UCI – e o aproveitamento da crise que se alastra à vizinha Espanha e deixa no mercado Corredores experientes e a preço de saldo, levam a que os conjuntos nacionais que ainda conseguem resistir aproveitem esse mercado deixando de fora muitos Corredores portugueses.

É triste saber, numa altura em que, pelos regulamentos, já se fecharam as inscrições, que Corredores como o Hugo Sabido não tenham equipas interessadas no seu concurso.

É mais triste ainda a possibilidade de vermos o Quim Andrade desaparecer do pelotão desta forma. Porque já não há quem o queira, ele que dedicou dois terços da sua vida ao Ciclismo, sempre com a maior das honestidades, ele que foi campeão nacional, ele que ganhou corridas...

Não merecia uma saída assim, pela porta das traseiras.

Não saber reconhecer a importância que Homens como o Quim tiveram no Ciclismo português é um inequívoco sinal de que não há, neste momento não há, a mínima ponta de solidariedade na Família do Ciclismo.

Não é novidade.

Os jornais falam daqueles dois casos, mas eu não deixo passar em claro mais um ou dois exemplos.

Não falta muito para que passem sete meses - 210 dias – sobre a suspensão de vários Corredores do sacrificado Póvoa Cycling Clube. Já há decisões finais? Já foi provada a culpa dos suspensos? Que eu saiba ainda não. E se o foi a Comunicação Social – que grande alarido fez com o acto suspensivo - ficou calada.

E quem já reparou que, para a próxima temporada, o Campeão Nacional de fundo não tem equipa?

O João Cabreira também está suspenso. Sei que ele iria recorrer. Nos regulamentos diz-se que o Corredor tem 24 horas para se sujeitar aos controlos inopinados, alínea que o Conselho Disciplinar da FPC mandou às malvas. Não o encontraram quando o procuraram, mas também não lhe deram a oportunidade de, nas 24 horas seguintes, se apresentar voçuntariamente. Regulamentarmente, a decisão de abrir um inquérito e depois de o suspender está ferida na legitimidade. Os regulamentos são para ser cumpridos por TODAS as partes.

E o Pedro Cardoso? Já ouvi dizer que optou por terminar a carreira. É pena que o faça nas circunstâncias em que é obrigado a fazê-lo.

Andamos há 24 anos a chorar lágrimas de crocodilo por o pelotão português não criar ídolos e eis-nos a matar nomes de referência.

E aqui posso juntar o Cândido Barbosa.
Neste momento tem um contrato válido até 31 de Dezembro de 2009 com uma entidade que, já se sabe, não o vai cumprir, com a curiosidade de, até hoje, não ter havido uma declaração oficial do fim da equipa profissional do Benfica.

Cândido Barbosa. Com certeza o nome que, nos últimos anos, mais paixões despertou junto dos adeptos pode não voltar a correr. Compreende-se isto?

A política da FPC parece ser a da destruição dos ídolos, daqueles que ainda levavam as pessoas à estrada. Em nome de quê? De uma farisaica campanha de limpeza?

Tem quase 2000 anos a expressão à mulher de César não basta ser séria, tem, também, que parece-lo.

A FPC, e a PJ e o MP – se é que têm alguma coisa de concreto que possa castigar publicamente a equipa profissional do Póvoa Cycling Clube – nestes quase sete meses. lá está... para parecerem sérios já deviam ter feito mais raids semelhantes àquele, junto de mais três ou quatro equipas.

Quem é que é tão ingénuo assim que consiga acreditar que o mal do Ciclismo português se confinava à equipa de Manuel Zeferino? Só quem é parvo ou então completamente cego.

Mas não termino sem aqui deixar uma coisa que me está atravessada desde há quase sete meses. A falta de solidariedade, publicamente demonstrada, por parte, quer das outras equipas, quer do todo do pelotão ciclista.

Venha ou não ser provada a culpa do PCC, a verdade é que enquanto houve tempo para deixar claro que ninguém terá aprovado os métodos utilizados pela FPC, CNAD e PJ, todos ficaram calados.

A questão que deixo no ar é esta: PORQUÊ?

Os meus vizinhos, aqueles cujas moradias confinam com a minha, são pessoas de bem que conheço há muitos anos. Claro que não conheço tão profundamente que me predisponha a meter as mão no fogo por eles, mas confio neles até porque nunca fizeram nada que ponha em causa essa confiança que neles deposito. Ora, se algum deles tivesse sido alvo de qualquer acção semelhante, eu não hesitaria em sair em sua defesa...

Agora… nenhum dos outros sete DD, e alguns deles já trabalharam directamente com o Zeferino, acredita na possibilidade de nada se poder provar contra ele? E se não, porquê? Quem lhes pões esta questão?

Serão mesmo TODOS virginalmente puros? Ou não se manifestaram porque os telhados de vidro são tantos e o que menos desejam é que aconteça uma saraivada de pedras?

E a FPC demorará ainda quanto tempo para esclarecer este caso?

É que não são só o Joaquim Andrade e o Hugo Sabido quem corre o risco de não encontrar emprego. Há mais, muitos mais Corredores na mesma situação. E que se sentem – sei-o eu – abandonados pelos seus colegas. Estes que pensem que o mesmo lhes pode acontecer.

E porque não sou ingénuo ao ponto de acreditar em equipas virginalmente puras, e porque acho que a solidariedade não se pode negar a ninguém, e porque não quero acreditar que tenha havido, nem que tenha sido por auto-defesa, uma situação de corporativismo entre as outras equipas – embora já acredite que algumas ficaram extremamente aliviadas com o facto de a FPC ter resolvido o problema assassinando o PCC – ainda cheguei a acreditar que, para que a situação com esta equipa seja de vez esclarecida, as outras (é ridículo que a Associação de Equipas nunca tenha sido mais do que uma miragem) se recusassem a inscrever-se.

Gostava te ter visto que a Família do Ciclismo estava unida. Já percebi que não está. E que, perante as prepotências vindas da Rua de Campolide todos se comportem como eunucos.

E se parecem eunucos… não será exactamente porque o são?

2 comentários:

cristina neves disse...

ola Zé,
já tinha saudades dos teus comentários sempre verdadeiros.
Mas como nada neste momento é verdadeiro no ciclismo...não adianta, mas posso dizer que apesar de não desejar o mal a ninguém, é bom que alguns sintam na pele (espero eu por pouco tempo para bem do ciclismo), o mesmo que sentiram os colegas da Povoa, sem ordenado, sem trabalho, abandonados pela APCP, e FPC, para perceberem que o bico do prego depressa se vira para eles, e não é estarem a esconder a cabeça na areia, para ver se se esquecem deles que resolvem as coisas.

um grande abraço
cristina

Unknown disse...

O reflexo do desemprego no ciclismo nacional acaba por ser também um efeito da crise económica a nivel mundial e nacional. Acredito que poucas empresas poderão dar-se ao luxo de patrocinar uma modalidade que é cada vez menos divulgada e não se sabem se obterão retorno desse investimento.
Esta falta de investimento dos patrocinadores acaba por prejudicar o número de equipas e consequente número de ciclistas, o que irá levar a uma oferta muito grande e pouca procura ou seja salários mais reduzidos...penso que é necessário existir uma reflexão sobre como alterar este ciclo vicioso que acaba por prejudicar o nosso ciclismo.

Em relação ao Joaquim Andrade, ciclista de grande qualidade, com um enorme palmarés, mas acima de tudo de grande profissionalismo desejo boa sorte na procura de nova equipa.
Caso não consiga arranjar uma equipa penso que também não será assim tão negativo uma vez que ainda sai do ciclismo por cima, não saindo arrastando-se como muitos outros sairam ainda muito mais novos que ele. Se a vaga dele também for ocupada por um ex-sub23 penso que também não será assim tão negativo porque pelo menos assegura-se o futuro de um jovem para a Modalidade.

Em relação à falta de solidariedade entre as equipas, penso que é um fenómeno que abrange toda a modalidade,o ciclismo é mundo muito volátil,há que ter sempre um pé atrás em relação a tudo,todos somos importantes enquanto somos necessários, no dia que não precisarem de nós somos esquecidos com facilidade.
Vai acontecer a todos (sem excepção) nós que estamos ligados ao ciclismo...não duvidem :-(

Felicitação pela qualidade de comentário do seu blog

Carlos Nogueira