
Disputou-se hoje.
Nem uma linha, em nenhum jornal, a dar conta disso.
Já não questiono nada.
Apenas registo.
É forte - e a utilização do presente do indicativo é propositada - o que me liga ao Bruno.
Tenho (ainda tenho) - e hoje tive o grato prazer de perceber que tenho mesmo - muitos amigos no pelotão, mas aquele recíproco sentimento de que o que nos unia ia muito para além de uma simples simpatia, entre mim, e o Bruno Neves senti-o hoje.
Quem me conhece sabe que não sou crente, sabe que não sou de 'palpitações'... algo de especial nos ligou desde o início, era ele ainda um jovem sub-23 na equipa de Vila do Conde e eu um quase veterano no pelotão dos Jornalistas de Ciclismo, 'raça' em completa vias de extinção.
E, corrida após corrida, dia após dia dentro da mesma corrida, apertava-se - foi apertando-se - o 'laço' que nos ligava, não como Corredor/jornalista, mas como amigos. Tenho outros, vários outros, com os quais esta relação sobressaiu.
Que bom foi abraçar-te hoje Pedro; que bom foi abraçar-te hoje João; que bom foi abraçar-vos hoje Afonso, Rogério, Tiago... que bom foi abraçar-te hoje Manel... que bom foi abraçar-te hoje Bruno...
Hoje disputou-se, entre Oliveira de Azeméis e Nogueira do Cravo a primeira edição do Memorial Bruno Neves. Foi ganho, cumpridos os mais de 150 km, por um jovem a quem auguro um futuro seguro e sustentado, Edgar Pinto (na foto), da Liberty Seguros, de Américo Silva.
Mas o dia foi indelevelmente marcado por outras sensações.
O carinho do acolhimento por parte da Cristina Neves, o suporte da Patrícia. A força daquele aperto de mão do Senhor Neves... as lágrimas que a Dona Lina deixou escapar no meu ombro quando nos encontrámos... o indescrítivel sentimento de (perdoem-me a ousadia) me sentir quase membro da família. Aceito ser...
Não sou religiosamente crente. Em nada. Assumidamente agnóstico. Irredutivelmente agnóstico.
Definitivamente auto-excluído de quaisquer intenções de 'não acredito, mas, porém, contudo...'
Não acredito mesmo.
Por isso me sinto confuso. Me senti desarmado, na altura, e me sinto confuso agora...
Na habitual cerimónia do pódio (será que vai sair em algum lado?), quando olhei o cartaz com a foto do Bruno... tive a certeza que ele me estava a olhar. E o seu sorriso, o mesmo de sempre, interpretei-o como de agrado por eu estar ali. Tenho a certeza de que, esteja o Bruno onde estiver... naqueles momentos, o olhar - e o sorriso - fixado há já algum tempo por uma fotografia, estavam vivos. E me fitavam. Senti o Bruno feliz por eu estar ali.
TINHA de estar, meu amigo. Ou que raio de amigo seria eu....
Um grande, grande beijinho para a Dona Lina - o Bruno está em paz -, mais outro para a Cristina, mais um para a Patrícia... um forte e apertado abraço ao Senhor Neves.
Contem comigo para o que for preciso.
...
Serei tudo o que os que me desdenham quiserem - não lhes dou mais importância do aquela que têm... NENHUMA - mas também aqui estou para agradecer a quem o merece.
Obrigado Maria João... por tudo.