terça-feira, março 18, 2008

1112.ª etapa

NÃO PERCEBEM A IMPORTÂNCIA,
ESTÃO-SE NAS TINTAS, OU...

Sou Jornalista profissional há 20 anos e trabalho em OCS de âmbito nacional há 18. Há 17 que sigo atentamente o Ciclismo.
Não é grande coisa, enquanto currículo, não o discuto.

Nesta mais de década e meia de estreita ligação com o Ciclismo conheci apenas duas organizações da Volta a Portugal e, pela primeira vez nestes 17 anos, soube hoje – que é ontem, pois se comecei a escrever antes da meia-noite, já vi que o artigo sairá com a data de 18 de Março – através de um e-mail, aquilo a já me tinha habituado a ser eu a dar em primeira mão.

Tem explicação.
As equipas, as organizações, estão hoje dimensionadas de uma nova forma. Têm os seus assessores, canal previlegiado para a divulgação de notícias.
Mas há mais explicações.
Não há, hoje em dia, e por culpa de alguns jornalistas, aquela aproximação entre as partes que permitia obter uma notícia em exclusivo. Em primeira mão.

Foram, ao longo dos últimos anos, demasiados tiros-nos-próprios-pés.
E, sem que isso belisque nem um pouco as regras pelas quais nós, os Jornalistas, nos regemos, não acredito que haja hoje confiança em nós.

Só temos que, sem medos nem hipocrisias, denunciar quem fez gato-sapato dessa confiança que se quer mútua. Dos cata-ventos que hoje são amigos de uns e amanhã de outros.

Sem pôr em causa o natural desenvolvimento daquilo a que se chama, genericamente, assessoria de Imprensa que, equipas e organizações, vão adoptando cada vez mais.

Indo directamente ao assunto: os Jornalistas foram confrontados hoje [que já foi ontem] com uma notícia que não se pode dizer seja apenas uma notícia.


Ninguém conseguiu adiantar-se e foi a própria Organização a revelar publicamente que a Volta a Portugal de 2008 vai acabar em Felgueiras.

Daqui a algumas horas os jornais – nomeadamente os desportivos – vão avançar com uma página sobre a coisa.
Não sei de nada, apenas tento adivinhar…
Vai haver quem tenha tido noção da importância da coisa e tenha falado com os mais directamente interessados.
Provavelmente haverá quem só vai transcrever o mesmo e-mail que eu recebi…

Subsistirá – no caso de informação manca – a mensagem de que… não havia espaço para mais.
É aqui que começa o problema.
Perceber que interesse tem cada acontecimento.

Sorte minha que aqui não tenho condicionantes físicas. Posso escrever os caracteres que me apetecer…
Provavelmente por isso, serei o único com espaço para daqui tirar o meu chapéu ao Joaquim Gomes.

Nos últimos anos - muitos, até de mais - a Volta acabou por se decidir no crono final. Este ano TODAS as formações portuguesas se reforçaram com contra-relogistas puros preparando-se para a mais que provável repetição da cena e a Organização tira da cartola, um crono, largo - vai andar aí pelos 40 quilómetros - mas cujos derradeiros 1600 metros são a subir, e com rampas já significativas. Resultado: mantendo-se o crono a fechar a Volta, este já não vai ser igual para todos os especialistas.

Não me refiro à estrada e à sua inclinação, nem à distância. Refiro-me, é evidente, a que os homens que se dão bem na luta contra o cronómetro, acabaram de ser divididos em dois lotes: os que até nem sobem mal, e os que, a subir não rendem o mesmo.

Esta é a notícia que eu escreveria para amanhã.

Entretanto, Joaquim, deixa-me peguntar: não teria sido melhor ter convocado a CS?
Ok… a empresa (ou a Volta) tem uma assessoria de Imprensa...

Mas insisto com a pergunta: Sabes qual é a diferença, em termos de tratamento, de uma notícia “nossa” e uma ”injectada” por uma empresa de comunicação e imagem?

O simples destacar um jornalista para cobrir um determinado evento garante, à partida, uma maior percentagem de centímetros quadrados da notícia.
Mas ninguém perguntou a minha opinião e por aqui me fico.


O que não significa que estejam certos.
Percebes, Joaquim?

1 comentário:

Carl Floyd disse...

Não queria incomodar, Madeira, mas isto de agora estar do lado de cá é tramado. E, por uma vez, estás enganado.

Continuam a existir jornalistas capazes de "sacar" as notícias.
Dá-las em primeira mão é que por vezes se torna mais difícil, sobretudo quando do lado de lá existe a preocupação primeira de tratar todos por igual ou, dito de outro modo, de não deixar nascer a suspeita de algum favorecimento. O que, embora possa não me agradar, até consigo comprender.

Embora nesses casos - neste caso - acabe por ser um só jornalista a, indirectamente, fazer a "papinha" para todos os outros.