domingo, março 08, 2009

II - Etapa 338

«NEM QUE EU TIVESSE QUE DORMIR
NO SOFÁ DA RECEPÇÃO...»


A primeira vez que estive em Andorra foi em 2000. Precisamente no dia 4 de Setembro.
Foi, também, a primeira Vuelta que cobri para a A BOLA (já tinha feito uma para A Capital) e, claro, tive por companheiro o saudoso Bruno Santos.

A etapa anterior terminara na estância de Inverno catalã de Alp. Não levávamos alojamentos marcados. A experiência e os conhecimentos do Bruno sempre nos desenrascou, mas nesse fim de tarde de 4 de Setembro de 2000 as coisas complicaram-se. Apesar de a oferta ser grande, a verdade é que não conseguimos hotel. Ainda procurámos pelos arredores mas, com o aproximar da noite tomámos a decisão de avançar para Andorra, onde a jornada do dia seguinte terminaria.
Em Arcalis-Ordino, a 2230 metros de altitude.

Jantámos, lembro-me, ainda em território espanhol, por isso chegámos tarde a Andorra-la Vella e as primeiras tentativas para encontrar quartos não foram animadoras.

Foi quando aconteceu esta estória, uma das muitas que guardo na memória.
O Bruno parou em local proibido, frente à porta de um hotel - cujo nome agora não recordo, mas sei onde é, pois voltei a Andorra por mais quatro ou cinco vezes... -, de dentro surgiu uma figura imponente, homem na casa dos 60 anos, bigodaço tão imponente quanto a figura em si.

Que não... No nos quedan mas habitaciones!

Contudo, e antes que tivéssemos tempo de reagir, eu e o Bruno, e já em português o homem acrescentou: «Para A BOLA, nem que eu tivesse que dormir no sofá da recepção mas arranjava-se sempre um quarto que não fosse.»

No carro do Bruno Santos destacavam-se os autocolantes que nos identificavam como Prensa e, naturalmente, como o carro de A BOLA.
Claro que havia quartos, e lá ficámos duas noites, pois que a etapa a seguir a Arcalis era uma crono-escalada, ainda em Andorra.

E foi quando fui, pela primeira vez ao La Estació, restaurante propriedade de beirões, situado junto à Central de Camionagem da cidade, onde se fala português e se come a nossa comida. Até Sport-Tv havia. Voltei lá em quase todas as visitas, depois já com o Fernando Emílio.

Mas estive também, com o Bruno, na Casa de Portugal, em Andorra, onde os matraquilhos têm, como não podia deixar de ser, Benfica e Sporting como antagonistas. E, mesmo com dois dias de atraso, em Andorra sempre encontrámos A BOLA, onde podia ver impresso o trabalho que estava a fazer.

Outra estória que não mais esqueci.
Na manhã seguinte fomos dar uma volta por Andorra-la-Vella. O Bruno levava uma lista de compras, eu nem por isso, então separámo-nos. Eu estava mais interessado em conhecer a cidade. Num cruzamento, porque não vinha carro nenhum, embora o sinal estivesse vermelho para os peões, à portuguesa eu preparáva-me para passar para o outro lado, até porque estava em frente da loja que o Bruno me indicara como a que vendia A BOLA. Mal pus o pé na passadeira ouvi um estridente apito e o abanar de cabeça, reprovativo, de uma jovem polícia, naqueles uniformes encarnados, que me apontou ostensivamente para o sinal vermelho.

Dei um passo atrás. E como ela não mais deixou de me marcar, depois de o sinal abrir, só depois de contar até dez é que me atrevi a por o pé na passadeira. Foi há quase nove anos. E, entretanto, o Bruno deixou-nos. Servem estas recordações também para, onde quer que ele esteja, lhe enviar um grande abraço.

Sem comentários: