sábado, maio 23, 2009

II - Etapa 431

DE EQUÍVOCO EM EQUÍVOCO,
ATÉ AO DESCRÉDITO TOTAL

O Ciclismo português está, definitivamente, à deriva. Não arrisco lançar culpas. Não. Ou se perderam as cartas de marear, ou a bússola avariou, ou o timoneiro deixou de saber ler o firmamento.

Que o 'barco' vai à deriva, disso restam cada vez menos dúvidas.
E a todos nós, que vivemos apaixonadamente esta modalidade mas que estamos por fora, sem nada poder fazer, atormenta-nos a ideia de um pré-anunciado naufrágio do qual poucos, muito poucos, escaparão.

Que está... preto, está!


Desde controlos surpresa a mecânicos e massagistas, mui espertamente inscritos como corredores para baixarem a médias de idade da equipa - o que só pode acontecer com o beneplácito de quem superintende as inscrições -, a "castigos" sucessivamente anulados pelo órgão competente, passando por suspensões sem culpa formada, assentes em documento em forma jurídica do qual, tirando o supérfluo, só sobram "ses" - muitos, "ses" -, o nosso Ciclismo tem vindo a ser abanado de forma, diria eu, masoquista.

Como se nenhum dos agentes envolvidos não tivesse a perfeita noção de que as bases sobre as quais se sustenta não aguentam nem um sopro mais forte.

Agora, no mesmo dia, soubemos que, usando o mesmo estratagema que outros usaram - esta temporada, mas também nas anteriores, e podemos recuar para aí cinco anos (dentro daquilo que eu sei) - uma equipa foi suspensa pela UCI porque não conseguimos libertar-nos da nossa triste pequenez.

Achamos, sempre, que 'ninguém vai dar por isso'.

Tanto quanto sei - e continuo a ter as minhas fontes porque jornalista que é jornalista não tem uma única fonte, mesmo dentro da mesma casa - essa equipa inscreveu como corredor alguém que não iria correr e depois resolve denunciar o contrato. 'Ninguém ia dar por isso!'
Pois claro.
Agora está suspensa.

Tanto quanto sei - e continuo a ter as minhas fontes porque jornalista que é jornalista não tem uma única fonte, mesmo dentro da mesma casa - a Federação Portuguesa de Ciclismo fez o tinha a fazer (respeitem a minha inteligência, não 'digo mal' da FPC por despeito, critico quando acho que tenho motivos para tal), e avisou a equipa que estava a incorrer num erro tremendo, passível de vir a ser punido.

Tanto quanto sei - e continuo a ter as minhas fontes porque jornalista que é jornalista não tem uma única fonte, mesmo dentro da mesma casa - a equipa foi avisada e... nada fez.

Lamento. Pela equipa mas, principalmente, pela dúzia de Corredores que, de repente, ficou... sem equipa.
Ficou sem emprego.

Tanto quanto sei - (.../...) - a FPC ainda está a tentar 'desenrascar' (aqui no bom sentido) o caso e, tanto quanto sei (.../...) muito provavelmente vai consegui-lo.
Mas caramba!, parem de dar tiros nos pés.

É que só temos dois pés e depois de 'desfeitos' se continuamos a dar tiros em nós próprios corremos o sério risco de atingir algum órgão vital e... é o suicídio!

Mas escrevi lá atrás que, no mesmo dia em que fiquei a saber que uma equipa (das tão poucas que temos) fora suspensa pela UCI, soube também que uma outra enfrenta uma penhora, por parte do fisco, que ascende a mais de 95 mil euros.

Porquê? Por um erro primário.
O município local ajuda a equipa com determinada verba que foi inscrita na contabilidade do clube como subsídio. Ora este - as pessoas desconhecem a legislação, mas a primeira Lei é aquela que diz que o desconhecimento da Lei não iliba ninguém -, só é aceite, em termos de fisco, se como contributo à formação.

Não é o caso.
Logo, as Finanças 'leram' o que, na realidade, estava a acontecer (está a acontecer): estamos perante um patrocínio publicitário, sujeito ao pagamento do devido Imposto.

A equipa em causa - reconhecendo o erro - já está a negociar o pagamento da dívida, mas pronto... o dinheiro que vai ser necessário canalizar para o pagamento dessa dívida não irá fazer falta noutros sectores?
Digo eu... não se reflectirá, por exemplo, no cumprimento contratual para com os seus Corredores?
Espero que não.

Terceira situação que me foi dada a conhecer no mesmo dia: uma equipa que, até pelo peso do nome que carregava, e da qual toda a gente - dizem que seis milhões - esperava o máximo, comunica, dois meses antes do início da Volta a Portugal, ao Director-desportivo e ao primeiro chefe-de-fila que não continuará no pelotão.

Que em 2009 (este ano) já não estaria no pelotão, isto depois de ter anunciado com pompa e em circunstância, que o projecto (ambicioso, reconheça-mo-lo) era para durar por cinco anos. Durou ano e meio.

Termino como comecei.
O Ciclismo nacional está sem motor nem velas.
Anda à deriva e nem o homem do leme lhe pode valer.

DECLARAÇÃO DE INTERESSE: O VeloLuso é um espaço explorado pelo cidadão Manuel José Madeira, indefectível amante do Ciclismo. Já esgrimi, em situações pontuais que, independentemente do facto de o Manuel José Madeira ser Jornalista de profissão, o que aqui escreve fá-lo na qualidade de simples adepto. Ora, nesta Etapa, e por mais de uma vez, fiz referência ao facto de ser Jornalista. Impunha-se, porque fazia referência a fontes. Ora, estas são, por Lei, reconhecidas e protegidas. E é o Jornalista que tem as fontes, não o cidadão. E só assumindo-me Jornalista as posso proteger.

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