sexta-feira, setembro 15, 2006

227.ª etapa


SEGUIR A LA MANADA


Conheci o Kiko Garcia ainda ele era corredor. Representou a ONCE entre 1993 e 1998 e chegou a vir correr a Portugal. Um dia, já lá vai quase meia dúzia de anos, chegado à Vuelta, vi que era ele quem coordenava as entrevistas nas conferências de Imprensa à distância (sim, as tais video-conferências que parecem ser um bicho de sete cabeças), no final das etapas. Poliglota (nasceu em França), é também dele a voz do Rádio Volta. E assina semanalmente, há já uns anos também, uma coluna no semanário Meta2Mil. Gostei tanto da desta semana que vou transcrevê-la aqui. Não a traduzo porque o meu castelhano poderia atraiçoar-me, mas quase todos vão perceber. O título é mesmo aquele, ali em cima...

«Señoras y senõres, toca baloncesto. Somos los nuevos campeones del mundo y de la noche a la mañana nuestro país se ha convertido en el más entendido y forofo del deporte de la canasta. El diario Marca dedicó nada más y nada menos que 35 páginas a la victoria española en el mundial de basket, y su eterno rival, el dirio As, otras 24, lo nunca visto. Algo similar ocurrió cuando Alonso comenzó a dar muestras de su potencial em la Formula 1. Nunca antes habíamos hablado de boxes ni de safety car, pero ahora todos somos unos expertos, y nombramos a Briatore o a Eclestone como se fuesen nuestros amigos de infancia.
Lo cierto es que somos como los borregos y nos conformamos con seguir a la manada, sin percatarnos de que lo que nos venden, no es más que la victoria o el impacto mediático que un deportista o una disciplina puedan lograr en un determinado momento, sin detenermos a pensar si realmente nos atrae o nos interessa, y lo más triste, sin que nos importe lo más minimo convertir al héroe en villano en cuanto las victorias desaparezcan.
A los del ciclismo nos tocó vivir este movimiento "borreguil" a principio de los noventa com el nacimiento del mito Indurain. Todo el país desterró las siestas de julio para ver a Miguel dominar el Tour de Francia durante media década, pero cuando el navarro decidió marcharse, se marcharan con el los falsos aficionados, ésos que solo están si lo dice el telediario o la noticia es portada de los periódicos, y nos quedamos cuatro gatos, los locos de siempre, los auténticos.
El baloncesto me gustaba antes, disfrutaba con Larry Bird y el Doctor J., y por supuesto, lo sigo haciendo ahora, ahora que somos campeones del mundo, pero ni más ni menos. Veía las carreras de Formula 1 cuando Alain Prost dominaba el circo, y las sigo viendo ahora que reina el asturiano prodigioso, pero ni más ni menos. Sin embargo, lo que siento por el ciclismo es diferente, es como una adicción de la que no puedes despegarte, y cuando peor están las cosas, más profundo es el sentimiento, más profunda es la pasión, más auténtico es el amor.»

Claro que subescrevo estas palavras como se tivesse sido eu próprio a escrevê-las. E nelas, ou nas entrelinhas - e aí vi a qualidade deste texto - ficam "barretes" que muitos entre nós bem podiam enfiar. Há muitos que, enquanto o ciclismo lhes der alguma coisa, nem que seja viagens à borla, parecem ser os maiores adeptos, mas acabe-se-lhe a "mama" e rapidamente partirão para outra.
Por outro lado, neste texto toca-se ainda num outro ponto sensível. E diz respeito aos jornais, mas principalmente à rádio e à televisão. O exemplo está aí, vivo e ainda quente. Falou-se na Vuelta e no Sérgio Paulinho no dia em que ele ganhou uma etapa... agora... mesmo aquele generalista que fez meia capa com a foto do Sérgio... o que dá de ciclismo? E o que dá de ciclismo durante a época? Ah!... Vai à Volta. Pois!...
E depois há o tal sindroma dos "borregos". Porque é que não é discutível o espaço que se dá nos jornais à Fórmula 1 e é preciso mendigar meia página para as principais corridas de ciclismo? Por acaso agora até lá anda um português, mas sempre foi assim, mesmo antes do Tiago Monteiro ter aparecido. Porque é que as transmissões da Fórmula 1 - e do futebol - adiam ou antecipam telejornais, e uma telenovela "chuta" as etapas da Volta para as 5 da tarde?
Porque é que a NBA raramente deixa de ter um espaço nobre nos jornais (e não só nos desportivos!)?
Finalmente, e fechando o circulo - que é como quem diz, voltando à crónica do Kiko Garcia - aquela dos "quatro gatos" que, indefectivelmente, se mantêm fiéis ao ciclismo é bem verdade entre nós também. E eu nem falo dos que pagam do seu bolso para o acompanhar - não os "turistas", mas a trabalhar - porque ninguém me ia acreditar.

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