sexta-feira, setembro 29, 2006

243.ª etapa


LIÇÃO DE AMOR PELO CICLISMO


A grande transferência para a próxima época – estamos a falar do ciclismo português – é, e não há hipóteses de fugir a isso, a, senão inédita, pelo menos muito pouco usual troca de equipa por parte de um patrocinador.

Conheço o Luís Almeida (“patrão” da LA Alumínios). É uma pessoa simples, de gostos simples e franca convivência. E uma paixão inimputável pelo ciclismo.

Mas porque é que o Luís Almeida resolveu pôr fim a uma ligação que era – sei-o – já mais emocional que… racional com a formação do filho do homem que o convenceu a vir para o ciclismo?

O Vítor Paulo – é um daqueles que não dispenso da minha pequena roda de amigos do peito – terá percebido. Ainda não falei disto com ele, e por isso mesmo escrevo ainda mais à vontade. Também não falei com o Luís Almeida!

O Luís Almeida ganhou amor pelo ciclismo. Deixou que ele dele se apossasse e conseguiu uma coisa digna de relevo, conseguiu reagir de uma forma mais calculista que emocional, sem deixar de ser de forma… apaixonada. É evidente que, emocionalmente, o Luís Almeida nunca esquecerá que há dez anos foi “aliciado” para esta modalidade, que todos amamos, por essa enorme figura que foi Manuel Maduro e por Joaquim Gomes quando, com um grupo de corredores em vias de ficarem desempregados – aquando da extinção da Sicasal-Acral – lhe foram bater à porta. E durante dez anos foi a “almofada” onde a formação nascida na Charneca do Milharado se acomodou.

De há dois anos a esta parte, e graças ao valor da equipa – e disso só são responsáveis (pelo bem, é evidente) – o Vítor Paulo e o Américo Silva, a equipa conquistou o estatuto de a mais forte do nosso pelotão.

Mas atenção – sei o que já estão a pensar – nem a Liberty “abafou” a LA nem o apoio desta passou a ser… residual. Não foi isso. Nem tem nada a ver com alguma coisa que se relacione com a passagem da “marca” LA para segundo plano. Foi mais o Luís Almeida ter percebido que já fizera tudo o que podia fazer por aquela equipa, especificamente, sentindo, ao mesmo tempo, que podia ainda fazer mais alguma coisa pelo… ciclismo.

Não percebo como a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não instituiu um galardão, sei lá, qualquer forma de retribuir o quanto de bom alguns vão fazendo pelo ciclismo luso. Se isso já tivesse sido “inventado”, naquilo que concerne a patrocinadores o Luís Almeida ganhava o prémio. De certeza.

O Luís Almeida mostrou que a sua paixão pelo ciclismo vai muito além da sua ligação mais ou menos estreita com uma equipa. Sabe que não será compreendido por todos, mas não deixou de dar o passo que achou devia dar neste momento.

A equipa que só aconteceu com a ajuda da sua empresa cresceu, de menina fez-se adulta e hoje já anda pelo próprio pé. Como bom “tutor”, o Luís Almeida abraçou-a, num forte abraço e, abertos os braços mostrou-lhe que agora é ela quem fará o seu próprio caminho.

Mas como a tal paixão pelo ciclismo não esmoreceu, ele escolheu outra equipa a quem ajudar agora.

Que todos aceitem com desportivismo aquilo que este homem – que ganhou, por si, o direito a ser considerado como membro da família ciclista – decidiu fazer.

Eu, por mim, tiro-lhe o meu chapéu.
Só precisávamos de mais meia dúzia de “luíses almeidas” para que o nosso ciclismo desse um passo gigantesco em frente. E que as habituais “comadres” deixassem de fazer intriga.

Um grande, grandeeee… enorme abraço ao SENHOR Luís Almeida.


Post Scriptum
Escrevi este artigo há cerca de duas horas e meia atrás. Depois, lembrei-me de uma coisa: estou aqui a falar do Luís Almeida mas... quantas pessoas o conhecerão? E gastei estas duas horas e meia a rebuscar na minha biblioteca de livros e revistas de ciclismo (que os que conhecem sabem que não é pequena) e... nada! Francamente não sei quantas revistas folheei. Vi barrigas e barriguinhas, gravatas e gravatinhas, ministros, presidentes de câmara, speakers, "turistas" q.b., e nem uma foto do Luís Almeida. Hei-de ter por aí concerteza, mas por hoje desisti de procurar. Logo que a ache hei-de pô-la aqui, mas creio que fica demonstrado o quanto este homem é diferente. Nem na entrevista que o Record lhe fez e publicou no passado dia 5 sai a foto do Luís Almeida...
Será que o homem não existe? Existe, mas é dos pouquíssimos que nunca se utilizou do ciclismo para aparecer e a prova é que em mais de 5 metros de prateleiras não encontrei uma única foto sua em nenhuma revista ou jornal. Isto diz alguma coisa acerca da sua personalidade.
Renovo o abraço que lhe enviei há duas horas e 40...
(Não foi fácil, tem pouca qualidade, mas encontrei o "rosto" da notícia!)

Sem comentários: