terça-feira, setembro 19, 2006

235.ª etapa


QUEREM UM EXEMPLO DE... "AUTO"-SUICÍDIO? (EU SEI QUE É ANEDÓTICO...)


Apesar de afastado fisicamente da redacção – e depois de um período de algum abaixamento da “forma”, em termos psicológicos –, vou reganhando os habituais contactos com muitos dos meus amigos e vou ficando (ainda) mais a par das novidades.
E algumas são de bradar aos céus.

Primeiro ponto: ainda que só oficiosamente reconhecida existe uma “Comissão de Estrada” para o ciclismo profissional português. Nela estão representadas, para além da federação, delegados das organizações (presumo eu) e das equipas (isso sei que é certo).

Segundo ponto: ainda hoje está para saber-se (oficialmente) de quem foi a ideia de inscrever a LA Alumínios-Liberty como equipa Profissional Continental na temporada de 2005 (quer dizer… eu sei, mas não consigo uma confirmação oficial), o que foi uma asneira de todo o tamanho porque à equipa portuguesa intersar-lhe-ia correr em Espanha, mas lá nunca pode correr porque a Liberty-“mãe” lhe tapava o lugar (não podem, segundo os regulamentos, uma equipa e uma sua filial competirem nas mesmas corridas) e, sendo ela Profissional Continental, não podia correr as provas nacionais – o que, por exemplo, nos dois anos anteriores aconteceu à Maia-Milaneza –, de repente surge nos regulamentos da FPC uma alínea que permitia (a qualquer equipa, porque isto não estava determinado no tal regulamento) apresentar-se como “equipa-mista” e, assim, disputar todo o calendário nacional.

E a Liberty, levando, ora um jovem da Feira, ora outro de Alpiarça… lá participou em todo o calendário. Houve, que eu sei que houve, resistências em relação a esta situação, mas a equipa não ficou uma corrida sem correr.

Este ano o problema nunca se pôs porque todas as formações eram do terceiro escalão mundial.

Entretanto, aparece o projecto-Benfica que se anuncia candidato a ter uma equipa no pelotão Profissional Continental.
Os seus mentores – quem vai negar que não foi olhando o exemplo de 2005? – avançam com duas equipas: uma elite, outra equipa de clube (vulgo, sub-23).

Eu próprio o escrevi aqui, não que a ideia não seria brilhante, mas que assim o Benfica assegurava poder participar em todas as corridas do calendário nacional. Bastava pôr 3 ou 4 dos seus corredores da equipa principal a fazer equipa com o SL Benfica que “entraria” com 4 ou 5 dos seus jovens.

Pelo menos não aconteceria o que aconteceu este ano na Volta a Portugal do Futuro na qual uma das equipas mais fortes do pelotão, no escalão sub-23, hipotecou a possibilidade de um seu corredor disputar o triunfo para “escudar” um corredor profissional que fazia dela uma… equipa-mista. Corredor esse que ganhou a Volta, está bom de ver.

Claro que nada tenho contra esse jovem profissional. Mas já questiono a intenção da sua equipa e a atitude subserviente da equipa que o acolheu.

Mas o que é que aconteceu nestes últimos dias?
Pois o tal "Conselho de Estrada" reuniu e DECIDIU que em 2007 equipas mistas só… feitas por duas do mesmo escalão. Isto é, se conseguirmos alhear-mo-nos do absurdo, apesar de, obrigatoriamente ter que ter 10 corredores, no mínimo, a Maia, para correr o GP Abimota (é um exemplo de uma corrida nacional) deixa metade dos seus profissionais em casa e põe 4 ou 5 a correr em conjunto com 5 ou 4 do Tavira (outro exemplo académico, apenas), fazendo os algarvios a mesma coisa; em vez de rodarem e darem competição aos seus corredores, deixa metade de férias.

Equipas mistas entre profissionais e sub-23… já era! Não vale mais.

Primeira consequência: o Benfica só correrá as provas nacionais se uma outra equipa elite resolver deixar os seus próprios corredores em casa e se "coligar" com os encarnados.
Isso de Gonçalo Amorim poder aparecer a comandar o Zé Azevedo, o Pedro Lopes, o Rui Lavarinhas e o Hélder Miranda, mais 4 dos seus jovens pupilos da equipa de sub-23 não vai ser possível porque, assim o decidiu o tal "Conselho de Estrada".

Chamando os bois pelos seus nomes: se a primeira alteração aos regulamentos não se livra de parecer ter sido um “fato” feito à medida para servir a uns… esta segunda alteração “cai” perfeitamente nas medidas do outro. E, tal como se diz desde os primeiros séculos da nossa era… à mulher de César não basta ser séria, também tem que parecer que o é.

Quando se se lamenta a falta de público, quando o regresso do Benfica ao ciclismo podia vir a dar uma preciosa ajuda no chamamento de mais gente à estrada… a primeira coisa que aqueles que lamentam não haver público fazem... é cercearem a presença do Benfica na mesma estrada.

Os pareceres deste “Conselho de Estrada” não são vinculativo. Mas estou com uma curiosidade enorme de ver o que vai fazer a federação. É que um daqueles “fatos” foi confeccionado na Rua de Campolide…

E digam-me lá que o ciclismo português não é autofágico?
Pelo menos gosta de dar tirinhos nos próprios pés!...
O pior é que a Associação de Equipas – que deverá acolher o Benfica – é um dos membros desse “Conselho de Estrada”.

Expliquem-me para ver se eu entendo…

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