domingo, novembro 19, 2006

331.ª etapa


MAS… PORQUE INSISTE ESTA GENTE EM FICAR?

Já passaram vários dias desde que a Imprensa espanhola, nomeadamente, o diário desportivo madrileno AS, trouxe o assunto ao conhecimento público; diversos sites na Internet fizeram eco da mesma notícia (incluindo portugueses) por isso, creio já poder referir-me aqui a ele.

Em meia dúzia de telefonemas, o AS chegou à conclusão que a anunciada nova equipa de Vicente Belda, a Fuerteventura-Canárias – que vinha para “substituir” a Comunitat Valenciana – simplesmente… não existe. Dois meses depois do fecho oficial das inscrições de equipas para 2007, a Real Federação Espanhola de Ciclismo não só não tinha nenhuma ficha de inscrição – há ainda a hipótese de regularizar a situação, mediante o pagamento de uma “multa” prevista nos regulamentos da UCI – como, dessa equipa só tinha conhecimento através da CS.

Pior. As autoridades máximas, políticas e civis, do Governo Regional das Canárias – que presumivelmente estaria directamente ligado ao “projecto” – revelaram estar na mesmíssima situação do RFEC. Tinham lido “qualquer coisa…”. Contactos, nem que fosse apenas para sondarem o seu interesse em patrocinarem uma equipa de ciclismo… nada!

Da parte da RFEC, o AS soube mais. Tal como em qualquer parte do Mundo, uma “equipa” de ciclismo só pode ser aceite e registada na respectiva federação como… clube. E acontece esta singularidade: nas Canárias não existe um único clube de ciclismo e o Fuerteventura (nome de uma das ilhas do arquipélago) até é nome de clube… mas de futebol e sem outras modalidades.

Para “evitar” problemas, essa nova equipa escolheu um homem de fora do ciclismo, Jorge Sastre, um arquitecto de profissão, para manager, e convidou Oscar Guerrero – ex-técnico da Kaiku – para DD. Contudo, Vicente Belda aparecia no organigrama como… assessor desportivo. Seja lá isso o que fôr.

O pior veio a seguir, sempre revelado pelo AS.
Na “sombra”, quem é que realmente se iria movimentar em redor da equipa? Yolanda Fuentes – que era a médica responsável pela formação da Kelme naquela Volta a Portugal em que todos os corredores desistiram ainda antes de a corrida sair do Algarve e é irmã de Eufimiano Fuentes (que tinha sido afastado da mesma equipa) – foi taxatia: “Os mesmos de sempre!”

Eu escrevi na “sombra” porque assim seria. O médico oficial da Fuerteventura-Canárias seria Eduardo Biasco. Ninguém o conhece, pelo menos por maus motivos, mas aqui retornam as “más ligações”. Biasco é o namorado-companheiro de Yolanda.

Logo quando li esta notícia pensei o mesmo de sempre. Toda a pessoa é inocente até que, em tribunal, ser provado o contrário. Verdade que Ignácio Labarta, o braço-direito de Belda, foi apanhado pela polícia espanhola… mas está na mesma situação que os demais, corredores presumivelmente implicados incluídos. Até que a Justiça Desportiva os “apanhe” – a partir de agora, a Justiça Comum já tem uma ferramenta legal, aprovada pelo Congresso espanhol que lhe permite agir, numa eventual réplica da Operação Puerto – ninguém os pode condenar. Não mudei de ideias.

Mas fiquei preocupado com os corredores. A verdade é que há 14 envolvidos nesta equipa a que o AS chamou de… “fantasma”.

E hoje ainda fiquei mais preocupado porque o mesmo jornal traz uma entrevista com o presidente do Fuerteventura que, se por um lado confirma que houve contactos e que ele próprio incentivou a que o projecto fosse por diante, diz agora que se Vicente Belda vier, de alguma forma, a ser apontado como suspeito de alguma coisa e, na sequência disto, vier a ser condenado… retira o seu apoio.

E eu volto a pensar: e os corredores? E os homens que formam a equipa técnica? Mais de 20 cabeças-de-família que, mesmo que a equipa se legalize, vão ficar permanentemente com o pescoço sob o cutelo. Com um futuro intermitente. Amarelo a piscar, à espera que caia o vermelho e aí… o fim. E depois? Que vai ser deles?

Por isso me pergunto. Porque é que pessoas que dizem gostar do Ciclismo, como Belda, como Manolo Sáiz – que voltou na busca de poder continuar a deter a Active Bay – insistem em continuar lados à modalidade se, é perfeitamente visível, a simples menção dos seus nomes põe toda a gente de pé atrás? Não seria uma muito maior demonstração de amor pela modalidade o escolherem, de livre vontade, a auto-exclusão? Pelo menos aliviariam todos os outros de terem, solidariamente, que acarretar, também eles, com as tais suspeitas que eu acho serem injustas uma vez que nunca nada indicou, em sede própria, que tenham usado de métodos ou produtos proíbidos pelos regulamentos.

Se estes senhores gostam assim tanto do Ciclismo, por favor, afastem-se. Todos ficaríamos agradecidos. E um dia em que tudo venha a ficar definitivamente esclarecido, no caso de nada ter sido provado, ou nada tivesse sido encontrado que os pudesse vir a condenar, só os poderíamos admirar.

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