terça-feira, dezembro 11, 2007

1003.ª etapa

CONTUDO, SE NÃO HÁ DINHEIRO…

Enfiarei as “orelhas de burro”; aplicar-me-ei o respectivo castigo de ficar duas horas sentado virado para a parede, sem falar com ninguém e até confessarei publicamente que “sou mais ingénuo que uma criança de 2 anos de idade!”.

Porquê?
Passo a explicar.

Li, hoje, a, interessante, como sempre foram as anteriores, notícia que ontem saiu no Público e onde se insiste que, e cito: “[O] ciclismo português sob suspeita de manipulação sanguínea”.

Esta ideia é defendida, nada mais, nada menos, que pelo presidente da União Ciclista Internacional, o senhor Patrick McQuaid, em declarações ao próprio Público.

No artigo fala-se do que é a hemoglobina e o que são os reticulócitos e volta a sublinhar-se que Corredores portugueses e espanhóis fogem aos padrões estipulados, o que os coloca sob suspeita. E, apesar dos múltiplos problemas que tem entre mãos, a primeira figura do Ciclismo mundial assume ele próprio a preocupação em relação a este assunto particular. E está de olho nos Corredores ibéricos, só não sabe [o senhor Patrick McQuaid] é se os registos irregulares recentes (?) – quais?, de quem?, recentes de… quando? – estão ligados ao médico Eufemiano Fuentes que, héllas!... se suspeita ter-se mudado de Espanha para… Portugal!

Só que no meio de todo o longo folhetim que envolve o galeno canário se foram perdendo dados. À memória dos homens não se pode fazer um upgrade nem acrescentar bites… mas eu recordo que, na fase quente da Operação Puerto, logo quando a coisa rebentou, na primeira acção material da Guardia Civil espanhola, o senhor Manuel Sáiz, que alegadamente ia às compras foi apanhado com uma maleta onde havia dinheiro que quase dava para cobrir o orçamento de cada uma de meia dúzia de equipas portuguesas.

E depois há a questão dos ordenados que se pagam em Portugal. Isto apesar de eu próprio ter escrito aqui, transcrevendo declarações de um Corredor que para o ano vai representar uma equipa portuguesa – vindo de uma espanhola – e que confessou que vinha ganhar mais do que ganharia em qualquer das espanholas que se tinham mostrado interessadas no seu concurso. Ainda assim.

O que me anda a chagar os miolos é uma questão muito simples: com ordenados médios que não fugirão muito aos 1500 euros mensais (eu disse médios), como é que os Corredores portugueses recorrerão ao doutor Fuentes? Ou este anda a fazer promoção nos seus serviços? Se calhar tem um acordo com a Caixa…

É que, e isso saber-se-á dentro de poucas semanas, iremos ter a maioria das equipas portuguesas com orçamentos a rondar os 400 mil euros… para um plantel de 10 corredores, um só técnico, dois mecânicos e dois massagistas, se o dinheiro fosse só para vencimentos e se todos ganhassem o mesmo, dava… ora, 400 mil… a dividir por… façam as contas…

Não, não sou o Guterres, e já fiz as contas, dava 2.222,22 euros a cada um, por mês.
Só que o dinheiro não é só para pagar ordenados, pois não? Quanto é que sobrará para isto? Dois terços? Então aquele número baixa para os 1.481,48 euros mês… como eu referi que será a média no pelotão nacional.

Quando assisto ao desaparecimento de equipas, quando percebo que outras vão sair (sairão?) para a estrada sem patrocínios... quando todos sabem de prémios em atraso - de ordenados não se fala, mas não ponho as mãos no lume -, pergunto-me: serão de borla as transfusões ou manipulação do sangue?

É que não se diz: há quatro ou cinco Corredores portugueses sob suspeita; a coisa é generalizada e de dimensão tal que parece ser o primeiro problema do presidente da UCI…

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