segunda-feira, dezembro 31, 2007

1022.ª etapa

A MORTE LEVOU-NOS MAIS UM HOMEM
APAIXONADO PELO CICLISMO


Este artigo,

escrevo-o em memória de um jornalista.
Um jornalista que muito deu ao Ciclismo.


Soube há pouco que perdemos mais um companheiro. Já retirado, é verdade, mas um companheiro a quem o Ciclismo ficou a dever muito. É sempre penoso falar de alguém que partiu, mas – e já perceberão mais à frente – o falecimento do Homero Serpa deixou-me mais triste ainda porque… nunca conheci o Homero!

Vi-o, e creio não me enganar, uma vez. Uma única e vez e nunca falámos.
Em frente à redacção de A BOLA há uma livraria (que nem sempre está aberta) - os livros e a literatura eram a sua outra paixão - e uma tarde, aproximava-me eu para começar mais uma jornada de trabalho, vi-o a atravessar a Travessa da Queimada, a entrar no edifício de A BOLA mas ele subiu as escadas sempre à minha frente e perdi a oportunidade de falar com ele. Também, confesso-o, não me seria fácil chegar-me junto a ele e ser eu a meter conversa. Acho que não seria capaz.

Interpretem-me como quiserem. Estou a ser totalmente honesto.
Aconteceu-me antes, com outros grandes nomes do jornalismo, ligados ao Ciclismo. Sou de carácter reservado. Envergonhado. Tímido. Já não mudo.
Custou-me ainda um bocado estabelecer alguma relação profissional com alguns outros grandes jornalistas.

Não era fácil chegar assim, perto de quem era meu ídolo, e aparecer a apresentar-me – o que, com a minha forma de ser, seria sempre qualquer coisa de… impertinente – quase impossível.

Acabou por ir acontecendo, com os que ainda estavam em actividade.
Os passados eram quase inacessíveis. Eu sei que estou a exagerar.
Aliás, e em relação ao Homero Serpa, nem seria assim tão difícil, embora não o tenha sabido mais de duas ou três vezes n’A BOLA, até porque o Vítor serviria sempre como ponte… Esperei de mais e perdi a oportunidade.

Há aqui, sei lá… quatro anos, um dia o João Bonzinho chamou-me para me dizer que o seu pai – entretanto também já falecido – preparava um encontro de homenagem ao Homero e pediu-me para o ajudar. Mas o meu querido Boaventura Bonzinho assumira decididamente a iniciativa e a minha participação diluiu-se. Ainda por cima, esse encontro aconteceu durante uma Volta ao Alentejo, que eu cobria para A BOLA, o que me impediu de estar presente.

Parecia que estava destinado que eu não haveria de poder estar um bocado a falar de Ciclismo com uma das minhas referências.
Era leitor do Homero. Há muitos anos, muitos, mas mesmo muitos antes de eu chegar ao Jornal onde ele tinha encerrado a carreira.

A BOLA, que está fortemente ligada ao Ciclismo, terá como primeiro nome – aquele que as pessoas mais depressa se lembrarão – o do Carlos Miranda, por causa do Tour e do Joaquim Agostinho, e o mítico chefe-de-redacção, Vítor Santos foi, durante anos, o homem da Volta a Portugal.

Mas o Homero Serpa terá sido o mais abrangente, aquele que colocou no mapa – porque sobre elas escrevia, procurava informações e divulgava – um incontável número de corridas. Das mais sonantes, porque levavam os principais nomes do pelotão nacional, a outras que só n’A BOLA tinham alguma divulgação.

Se o Vítor Santos é ainda o Homem-da-Volta; se o Carlos Miranda será para sempre o Homem-do-Tour-e-do-Agostinho, o Homero Serpa foi o primeiro Homem-do-Ciclismo de A BOLA. No sentido em que, nos seus escritos, coube sempre TODO o Ciclismo.

Morreu hoje, enchendo-nos a todos, os que amam o binómio jornalismo-ciclismo, tristes e mais pobres. E a mim, pessoalmente, eternamente frustrado porque nunca cheguei a sentar-me com ele e ouvi-lo.

Que descanse em Paz!

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