UM MUI SENTIDO OBRIGADO AO SENHOR
CLAUS MICHAEL MÖLLER
Chegou a Portugal em 2000 e, confesso, era para mim um perfeito desconhecido. Veio para a Maia. Aconteceu num ano extraordinário para mim, em termos profissionais e de ligação – cimentação – em relação ao Ciclismo. Contas por baixo, nesse ano somei mais de 150 dias de Ciclismo. Cinco meses na estrada. Nas últimas duas décadas acho que só o Fernando Emílio fez mais.
Logo no ano em que chegou à Maia, o Claus Möller somou sete vitórias e foi segundo na Volta a Portugal, atrás do Vítor Gamito. E ganhou a Volta ao Alentejo numa festa que foi feita junto ao Rossio de S. Brás.
Bem em frente do hotel onde mais vezes dormi.
O D. Fernando.
Em 2001 o Claus proporcionou-me um dos mais emocionantes momentos da minha carreira, ao qual só comparo a vitória do Zé Azevedo (ainda na Maia), na etapa que acabou no alto do Viso (na Volta às Astúrias) quando vestiu a camisola amarela e, claro, o triunfo de outro nome que já abandonou as estradas, o de Andrei Zintchenko (LA-Pecol), no mesmo ano de 2000, quando venceu nos Lagos de Covadonga, na Vuelta.
Em 2001 o Claus ganhou uma das etapas mais difíceis da Vuelta, com meta no alto de Aitana.
Provavelmente (quase de certeza) já aqui escrevi sobre isso, mas nunca será de mais relembrar aquela tarde, ali, para os lados de Alicante, em Espanha, quando o Claus ganhou essa etapa. Feito que só foi testemunhado, no local, pelo Teixeira Correia e por mim.
O Teixeira lá fora, na estrada, correndo uns bons quilómetros para aceder às declarações.
Eu, sozinho na Sala de Imprensa – montada numas instalações militares, com soldados de metralhadora à ilharga (o ataque ao WTC, em Nova Iorque, tinha acontecido meia dúzia de dias antes), gozando com o desespero dos colegas jornalistas espanhóis por nem Heras, nem Sevilla… ninguém, ter conseguido evitar a vitória na etapa de um corredor de uma equipa… portuguesinha.
Em 2002, o Claus volta a deixar indelevelmente marcada em mim mais uma “estória”.
Quando ganhou a Volta a Portugal, no crono final, em Sintra, quando destronou o maiorquino Joan Horrach, seu companheiro de equipa.
Aliás, nesse ano a Maia fez o pleno no pódio, com o Rui Sousa a ser terceiro.
Mas volto atrás.
O Claus é um rapaz extraordinário, humilde, que sempre se apresentou despojado de qualquer tique de vedetismo.
E volto a recordar a forma como me concedeu a entrevista no dia seguinte à vitória em Aitana, dia que era de descanso. Os dois sentados no lobby do hotel, em Alicante, as constantes interrupções – o seu telemóvel não parava – e ele a desmultiplicar-se em desculpas.
Mas, tanto da Dinamarca – e era perceptível, porque eu não percebia nada do que ele dizia – como, inclusivé, de jornais portugueses directamente concorrentes de A BOLA – o único jornal português que acompanhou a corrida (e ele fez questão de me avisar a dizer que pediria para lhe ligarem mais tarde) – foram mais do que muitas as solicitações…
Mas o Claus tinha combinado comigo uma entrevista de fundo, logo a seguir ao almoço da equipa, e cumpriu religiosamente o prometido. Com as tais duas ou três interrupções para falar em… dinamarquês.
Que eu entendi perfeitamente.
Ainda com as cores da Maia, ganhou em 2001, o GP da Região de Lisboa e a Subida al Naranco (Astúrias, em Espanha). E foi 8.º na geral final da Vuelta.
E em 2003 ganhou a Volta ao Algarve.
Depois acelerou-se a queda da equipa da Maia e ele saiu para a italiana Alessio para, em 2005, regressar a Portugal, pela mão do Carlos Pereira. Para a Barbot.
Nesse ano ainda ganhou o crono final, na Volta a Portugal.
Agora, creio que se decidiu, em definitivo – fez 39 anos em Outubro –, pelo fim da carreira.
A História é escrita por homens vulgares, na maioria das vezes. De certeza, sempre menos importantes que os historiados. Por isso aqui estou eu a sublinhar, dentro daquilo que me é possível, a carreira portuguesa de um grande Corredor e de um excepcional ser humano.
Tenho 17 anos de pelotão (mesmo que tenha estado de fora nos dois últimos anos) e só encontro, em termos de corredores portugueses, dois nomes que podem equiparar-se – no que respeita às relações com a CS – com o Claus.
São o Joaquim Gomes e o Orlando Rodrigues.
Mas houve tantos Corredores os que correram com o Claus que, espero sinceramente, o seu exemplo não tenha caído em saco roto.
Entretanto, Claus, daqui te envio um forte e apertado abraço.
Não será possível escrever a história do Ciclismo em Portugal, nos seus últimos 10 anos, sem que se fale do teu nome.
1 comentário:
Exlente e merecida reportagem a um dos melhores ciclistas do pelotão nacional dos últimos anos. Claus Moller foi sem dúvida um grande ciclista e com uma personalidade que merece ser seguida por todos. Parabens.
Enviar um comentário