terça-feira, setembro 09, 2008

II - Etapa 234

ÁGUIAS DE ALPIARÇA SEM CICLISMO

Parece que há já dois anos que o clube de Alpiarça deixou de ter Ciclismo.
Fiquei a sabê-lo através de um jornal regional. É uma pena porque o Águias de Alpiarça é um dos nomes emblemáticos do Ciclismo português em geral, e do Ribatejano, em particular, e até andou vários anos entre a élite. As últimas aparições aconteceram pós-74, com o nome de Águias-Clock, quem não se lembra? E depois, nos anos de 1999 a 2001 ligada à equipa da LA-Pecol.

Mas recuando na História do Ciclismo português, embora cingindo-me apenas às participações na Volta a Portugal, reparem no palmarés das diversas formações que levavam o nome de Alpiarça.



A primeira aparição da equipa ribatejana aconteceu logo na 2.ª edição da Volta, em 1931, repetindo-se no ano seguinte, para depois só voltar a aparecer 23 anos depois, na 18.ª Volta, em 1955, para uma sequência de três participações, até 1957, não havendo, até aqui, quaisquer dados relevantes a destacar.

Em 1958 a equipa volta a não aparecer, mas em 1959 regressa e começam a aparecer os tais destaques.


Mesmo sem ter ganho qualquer etapa, o Águias de Alpiarça teve a honra de andar de Camisola Amarela. Foi só um dia, mas andou.
Foi no final da 9.ª etapa, que ligou Moura a Estremoz e que foi ganha por Sérgio Páscoa, do Ginásio de Tavira, que António Pisco ascendeu à liderança. Perderia o primeiro lugar no dia seguinte - aquele em que, de facto, correu de amarelo (8 de Agosto de 1959) -, após a ligação entre Estremoz e Castelo Branco.
Na classificação final, António Pisco foi 10.º, numa Volta ganha pelo portista Carlos Carvalho. Na classificação por equipas o Águias de Alpiarça terminou na 3.ª posição.

Em 1960, o Águias esteve muito mais visível.
Lima Fernandes venceu a 4.ª etapa (Vila do Conde-Braga), António Pisco ganhou duas, a 6.ª (Viseu-Penhas da Saúde) e a 9.ª, corrida na Pista de Alvalade e Agostinho Correia venceu a 15.ª etapa que saíra de Ferreira do Alentejo para terminar em... Alpiarça. Calculo a festa que não terá sido.
Na geral individual final, António Pisco foi 6.º. O vencedor dessa edição da Volta foi Sousa Cardoso, do Futebol Clube do Porto.

Na 24.ª edição da Volta (1961), o Águias venceu, nada mais, nada menos que cinco das 25 etapas e todas por Lima Fernandes. A 4.ª, Figueira da Foz-Malveira; a 16.ª, Chaves-Braga; a 18.ª, Circuito de Vila do Conde e depois, e no mesmo dia, 14 de Agosto de 1961, ganhou de manhã a 21.ª etapa (Vila Nova de Gaia-Sangalhos) e à tarde a 22.ª, o Circuito da Cúria. Mário Silva, ainda do FC Porto ganhou essa Volta, não constando nenhum corredor do Alpiarça entre os primeiros dez da geral final.

Passemos a 1962. 25.ª edição da Volta. Mais três etapas para o Águias de Alpiarça.
O insistente Lima Fernandes somou mais um êxito à 4.ª etapa que, partindo de Ovar terminou em... Alpiarça. Festa, de novo, para os locais. O mesmo Lima Fernandes voltou a ganhar o Circuito na Pista de Alvalade (6.ª etapa) e João Centeio venceu 12.ª etapa, Portalegre-Penhas da Saúde. Uma vez mais não terminou nenhum corredor do Águias nos primeiros dez da geral final ganha, outra vez por um portista, desta feita José Pacheco.


Nos registos de 1963 não constam "feitos" de corredores do Águias, mas no ano seguinte, na 27.ª edição da Volta, Agostinho Correia venceu a 3.ª etapa (Vila do Conde-Fafe), João de Brito ganhou as duas etapas (a 8.º e a 9.ª) disputadas no dia 21 de Agosto, Beja-Tavira, e depois o Circuito na Pista do Ginásio, e João Centeio ganhou a 19.ª etapa, a ligação Cartaxo-Malveira. A curiosidade de, mais uma vez o vencedor da prova ter sido um portista, Joaquim Leão.

Em 1965 não há destaques para a equipa ribatejana e, segundo os meus arquivos, em 1966 a equipa não participou na Volta, ausência que se prolongaria por longos dez anos, até 1977, quando, como referi no início, arrancavam em força as equipas de patrocínios e a formação de Alpiarça passou a ser Águias-Clock.
E ganhou três etapas. Duas pelo sprinter Alexandre Rua, em dois dias seguidos, na 2.ª etapa (Circuito de Vila do Conde) e na 3.ª, Vila do Conde-Chaves. Joaquim Carvalho ganharia a 9.ª tirada, o Circuito da Mealhada.
Esta Volta foi ganha por Adelino Teixeira, do Lousa e num honroso 5.º lugar final aparecia um então ainda muito jovem Marco Chagas, do Águias-Clock. Joaquim Carvalho também entrou no top-10, foi 7.º, e a equipa venceu a Volta colectivamente e ainda a classificação por pontos, com Alexandre Rua.

1978, 40.ª Volta a Portugal. Dezanove anos depois de António Pisco ter andado de amarelo, um outro corredor do Águias voltou a liderar a classificação e conseguiu mantê-la quatro dias, se bem com um dia de descanso - no qual não a poderia perder - pelo meio. Foi Alexandre Rua que a conquistou no final da 8.ª etapa Castelo Branco-Seia e haveria de a perder no final da 11.ª, Espinho-Guimarães.

Quanto a etapas... o Águias-Clock ganhou sete, em 18. E apenas por dois homens. Alexandre Rua ganhou cinco - a 3.ª, Lisboa-Ferreira do Alentejo; a 5.ª, Almodôvar-Beja; a 9.ª, Seia-Sangalhos (quando envergava já a Camisola Amarela); a 12.ª, Circuito de Vila do Conde - e aqui fica a curiosidade, neste dia15 de Agosto de 1978, disputaram-se duas etapas, de manhã a ligação Espinho-Guimarães, exactamente aquela em que Rua perdeu a Camisola Amarela, e à tarde o Circuito de Vila do Conde ganho pelo mesmo Rua, mas a liderança já estava perdida -; Alexandre Rua ganhou a sua 5.ª etapa nesta Volta na 14.ª tirada, a ligação Mondim de Basto-Macedo de Cavaleiros (no dia seguinte à estreia da subida para a Senhora da Graça, ganha por João Costa, do Campinense). As últimas duas etapas ganhas pelo Águias foram consecutivas, a 16.ª e a 17.ª, corridas, respectivamente, entre a Guarda e Mangualde e no dia seguinte, Mangualde-Aveiro. Quem as ganhou foi outro jovem - na altura uma grande promessa do Ciclismo caseiro - Alfredo Gouveia.

A Volta ganhou-a Belmiro Silva, do Coimbrões, que tinha terminado em segundo, por desclassificação do vencedor, Fernando Mendes, do FC Porto. Alexandre Rua foi 4.º na geral final, voltou a vencer os pontos e e equipa voltou a ganhar colectivamente.
Apesar da excelente Volta feita, a equipa desmembrou-se e tiveram que passar 21 anos, até que em 1999 o nome Águias de Alpiarça voltasse ao pelotão principal português, agora recebendo o bloco da LA-Pecol que desde 1996 estivera ligado ao Malveira, e que em 2002 se mudou para o Bombarral.

E logo em 1999, pela 3.ª vez na sua história o Águias voltou a ter uma Camisola Amarela. Foi no final da 4.ª etapa (Évora-Portalegre) que foi ganha pelo lituano Saulius Sarkauskas que, com a vitória na etapa subiu ao 1.º lugar da geral. Mas foi também só um dia já que na jornada seguinte, o crono Portalegre-Marvão, a Camisola Amarela mudou para o corpo de Vítor Gamito que só a perderia na véspera da chegada a Matosinhos para o espanhol David Plaza, do Benfica.

Em relação a etapas ganhas, foram três. Logo a 2.ª, Santiago do Cacém-Loulé, com Youri Sourkov; depois aquela do Sarkauskas e a 10.ª, Bragança-Senhora da Graça que foi ganha pelo italiano Michelle Laddomada.
Na geral individual final, o então muito jovem Bruno Castanheira foi o melhor da equipa, em 10.º, seguido de Laddomada, na posição seguinte. Castanheira foi o vencedor do Prémio da Juventude.

Em 2000 a equipa só ganhou uma etapa na Volta. A última, Évora-Lisboa, outra vez com o lituano Saulius Sarkauskas. O russo Andrei Zintchenko foi 3.º na geral final - o primeiro foi Vítor Gamito - e Joaquim Gomes o 7.º. o Águias venceu a Volta colectivamente e Sarkauskas venceu a classificação por pontos.


Neste ano de 2000, não posso ignorar aquele que terá sido o maior triunfo de sempre da equipa de Alpiarça, aconteceu na Vuelta, na etapa que terminou nos Lagos de Covadonga e que foi ganha por Andrei Zintchenko.

Zintchenko que, até agora, foi o último corredor do Águias de Alpiarça a andar de amarelo na Volta a Portugal.
Foi em 2001, depois de ter ganho a etapa Reguengos-Portalegre (Cabeço do Mouro), mas tal como acontecera, primeiro, e no longínquo ano de 1959 com António Pisco, e quarenta anos depois desta primeira amarela, em 1999, com Sarkauskas, também Zintchenko só foi líder por um dia perdendo a camisola na 7.ª etapa que ligou Portalegre à Torre. E também só ganhou aquela etapa que levou o russo à liderança.

Na geral individual final, Zintchenko foi 2.º (o melhor lugar de um corredor do Águias na Volta), Orlando Rodrigues foi 9.º e Youri Sourkov 10.º. Por equipas o Águias foi terceiro.

Entretanto, depois da saída do bloco da LA-Pecol, o Águias ainda manteve uma equipa de sub-23 que, vim hoje a saber, também foi extinta em 2006 e há dois anos que não há Ciclismo numa das terras que mais gosta de Ciclismo, numa das localidades onde está uma das raríssimas pistas de Ciclismo que há em Portugal...


Esperemos que esta situação seja apenas passageira. O Ribatejo merecia uma equipa no primeiro pelotão nacional.
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NOTA: Neste artigo, e embora tenha recorrido também ao livro "História da Volta", do meu caríssimo Guita Júnior, as classificações e outros dados retirei-os do meu arquivo pessoal.

Em relação às fotos a preto e branco, retirei-as do livro "História do Ciclismo em Alpiarça", uma obra assinada por João José Marques Pais, com quem tive o privilégio de já conversar, ainda que por telefone, e ao qual comprei dois exemplares. Isto foi há já quatro anos. Contudo, e como foi uma edição do autor, que dificilmente terá sido monetariamente compensada, para os que estiverem interessados - o livro tem 716 páginas repletas de documentação interessantíssima - na sua compra deixo aqui a forma como contactarem o senhor João José Marques Pais: jjmarquespais@iol.pt.

2 comentários:

Barbaçana disse...

Para que conste publiquei um link para este post num blog em que sou um dos autores - http://rotundaseencruzilhadas.blogspot.com/2008/09/guias-de-alpiara-sem-ciclismo.html

Triatleta disse...

Olá!
Se não estou enganado, o C.D. Águias de Alpiarça tem equipa de amadores (Elites e Veteranos)com a designação Iberud/Afer/Águias.
Cumprimentos,
Pedro Pinheiro