domingo, novembro 26, 2006

334.ª etapa


PRIMEIRO A VOLTA, DEPOIS DIRECTOR-DESPORTIVO

Curiosa, a entrevista dada por José Azevedo ao site Sportugal. Para começar, as perguntas foram feitas pelos adeptos e foram várias as que o confrontaram com o facto de, sendo adepto confesso de um clube, vir agora a representar um outro emblema. Rival.

Não sei se é um bom caminho a trilhar. Na verdade, o clube pelo qual o Zé torce até nem tem, nem teve nos últimos 20 anos, ciclismo, pelo que ele sempre representou outras instituições. Mas, conhecendo alguns sítios na internet, sítios onde se fala sobre ciclismo, consegue-se descodificar a insistência nesta questão. Creio que o Zé o terá percebido, mas o que esses adeptos querem mesmo dizer é “até podes gostar de outras cores, mas acolhemos-te com o maior dos respeitos e uma grande ilusão e fé em ti”.

É isto o que eu leio nas entrelinhas. O José Azevedo, profissional exemplar, é supra-clubes.

Também curiosa é a fase da entrevista na qual, provavelmente induzidos por tudo o que se ouve e lê em relação à Discovery Chanel, principalmente a Lance Armstrong, as perguntas – indiscretas, puras, vindas dos simplesmente adeptos – buscam saber se o Zé teve, ou não, um papel directo na escolha do grupo de trabalho.
Para quem o conhece, não surpreende a honestidade. Quem escolheu os corredores com quem vai trabalhar foi o director-desportivo, Orlando Rodrigues, mas sim, ele foi consultado em alguns casos e deu a sua opinião.

Conscientemente, ou não, esta resposta (sem máscaras) deve servir como cimento que unirá mais o grupo. E o Zé esmera-se um pouco mais à frente quando recusa a hierarquização dentro do grupo de trabalho. “Para mim, são todos número um!”, responde quando a pergunta era “quem será o seu braço-direito? O número 2?”.

Saber que a figura da equipa (e a isto o Zé não pode fugir) é ouvida pela direcção técnica, que lhe pede opiniões, será sempre algo a capitalizar como confiança e vontade de trabalhar por parte dos demais companheiros. E aqui justifica-se um parêntese para dizer que é de todo revelador do carácter e forma de estar do Orlando Rodrigues este pormenor de ouvir aquele que é o seu corredor com maior experiência

No resto da entrevista, que pode ser lida aqui, José Azevedo reforça o seu desejo de ganhar uma Volta a Portugal, assume que a equipa aparecerá em algumas ocasiões com outro chefe-de-fila que não ele e lamenta a abrupta clivagem que o ProTour trouxe ao ciclismo internacional, relegando para planos secundários alguns projectos que hoje poderiam estar a tentar lutar por chegar ao topo, na busca de um lugar nas principais corridas.
E, desassombradamente, diz que Portugal tem tudo – menos dinheiro, pois claro! – para ter uma equipa na alta-roda do ciclismo mundial.

E fala do pós carreira, o que, curiosamente, creio não ter sido antes falado.
Tem como objectivo continuar no ciclismo e sonha com um bom projecto no qual possa ser director-desportivo.
Mas isso ainda pode esperar. Não é Zé?

4 comentários:

Pedro disse...

ola amigo Manel!!

e o que tem a dizer sobre a possibilidade do José Azevedo vir a ter sucesso nesta Volta?

É certo que ainda não conhecemos o traçado deste ano. Mas acha que ele tem chances reais, ou é daqueles (como eu) que pensa que por muito que ele já tenha dado ao nosso ciclismo, o perfil típico de "chefe de fila" não se adequa ao seu perfil?

aquele abraço!!!

Jorge-Vieira disse...

Viva amigo Madeira:

Eu sinceramento acho que o José Azevedo, mesmo sendo adepto de um clube do norte, não me parece que isso o vá influenciar estando a representar um clube do sul e rival do seu clube do coração. Afinal o Azevedo é um profissional e pagam-lhe para ele representar a instituição que lhe dá trabalho, se formos a ver isso passa-se com muitos outros desportistas (principalmente os dos futebol) e não me recordo de isso ter trazido problemas de maior quando os seus actuais clubes defrontavam o seu clube do coração.
E aqui, todos nós amantes do ciclismo, reconhecemos o excelente profissional que o Azevedo é, e penso que ninguém pode pode por em causa isto, bem como dizer que o Azevedo é actualmente o nosso ícone em Portugal na modalidade.
Um abraço,


Jorge Vieira

mzmadeira disse...

Caro Pedro,
é evidente que, com todo o historial que traz consigo, o Zé Azevedo entra directamente para a linha dos grandes favoritos à vitória na Volta a Portugal. Então, se houve quem não tivesse receio do ridículo e o apontou - o Zé vai entender-me - como favorito à vitória no Tour... como o não poderia ser em relação à Volta a Portugal?
E em relação ao traçado... não se sabe ainda mas tamém não é totalmente desconhecido. Vão mudar dois ou três locais de partida e um ou dois de chegada. Não há espaço de manobra para mais.

Quanto ao facto de o Zé não encaixar no perfil de típico chefe-de-fila... isso numa corrida de apenas dez dias quase não faz sentido. O que é que "faz" um chefe-de-fila nas grandes competições? Rsguarda-se (e é resguardado pela equipa) para as etapas que se adivinham à partida serem as decisivas. E resguardam-se em que sentido? Não vão à frente puxar pelo pelotão, não encetam eles as perseguições... Mas isso, na Volta, é mesmo preciso ser feito pelo Zé Azevedo?
Claro que, com o Zé de regresso a Portugal se redescobriu a sua "inata" tendência para claudicar na Estrela - mas eu vi-o ganhar lá um GP Portugal Telecom - só que, ao fim de seis anos a subir e descer Alpes e Pirenéus, será que a nossa Estrela ainda causa "tremores"? Não a um corredor maduro, experimentado, sabedor...

Pedro disse...

sem dúvida que a Serra já não é o "monstro sagrado" que foi outrora. Ainda para mais nos últimos 2 anos, em que a chegada foi sempre bem longe da mítica Torre.

Quanto ao J.A. gostava muito que conseguisse a vitória. O que questiono é que consiga assumir o tal favoritismo que lhe vai ser atribuído. É que na verdade, sempre que ele foi chamado a assumir a sua condição de líder acabou por claudicar. Tenho para mim que será uma Volta para um outsider, poderá mesmo ser para um ex-favorito (e porque não Nuno Ribeiro??).

Acima de tudo há uma coisa a destacar....a 10 meses da primeira pedalada, a Volta já começa a mexer!!

Um abraço Manel!!