domingo, janeiro 27, 2008

1047.ª etapa

JOÃO LAGOS É UM PERSONAGEM ÚNICO

A ÚNICA, revista que semanalmente acompanha o jornal Expresso, oferece-nos esta semana uma longa entrevista com João Lagos.
O motivo é, naturalmente, ainda a anulação da edição deste ano do Dakar mas estende-se o trabalho pelas diversas outras organizações em que a Lagos Premium Events se desmultiplica.

O curioso é que eu, coleccionador militante de recortes de jornais, acho que apenas tenho guardada uma outra grande entrevista a este homem que personifica, em Portugal e sem sombra para dúvidas, o Desporto promovido a partir de uma entidade privada.
Têm como objectivo o lucro? Claro que sim.
Estamos a falar de uma entidade privada.
Mas quem lhe negará o papel de enorme destaque que tem em vários campos do Desporto profissional, do ténis – claro -, ao golfe, do desporto automóvel ao Ciclismo...

O que me impressiona é a sua coragem e isso ficou bem claro agora, com a anulação do Dakar.
O Raid automóvel foi suspenso por razões (que agora acho) mal explicadas e João Lagos – ele não se chocará se tiver acesso a estas palavras -, tem a coragem de dizer com as letrinhas todas: “Posso fazer o Dakar sozinho” – o título do trabalho jornalístico do Expresso, assinado pela colega Alexandra Simões de Abreu e se estende por seis páginas da revista ÚNICA.

Como há uma mão cheia de anos, teve a coragem – ou visão? – de responder afirmativamente ao apelo – desesperado, é verdade – desse outro grande homem, este do Ciclismo e que a memória colectiva parece querer esquecer, que foi Francisco Nunes quando a PAD agoniava e muita gente já se dispunha a festejar antecipadamente a sua morte para o que apenas faltava… desligar a máquina.

Onde todos viam um buraco sem saída, João Lagos viu mais uma oportunidade de se afirmar como o grande – o único – empresário português capaz de fazer dinheiro. Arriscando muito. É verdade.

Aliás… a decisão da ASO deixou-o a arder com 6 milhões de euros…
Não é brincadeira.

Mas volto atrás.
Impressiona-me, para a além da sua coragem, como já referi, a simplicidade como encara qualquer adversidade.

Para ele tudo parece ser simples.
Propõe-se a fazer algo – há-de, com certeza, pensar duas ou três vezes – mas decide rápido (é esse o seu segredo) e chega sempre à mesma conclusão: basta trabalhar (muito, às vezes), mas trabalhando consegue o que quer.

Ok… soube, ao longo dos anos, rodear-se de executivos que cumprem religiosamente as suas indicações. Mas isso é mais um ponto a seu favor.
Ao que acrescento algo que a maioria não se terá ainda dado conta: a sua simplicidade, como homem.

Quando de cada uma das edições anuais do Estoril Open, em ténis, ou do Troféu de Portugal e também, claro, da Volta a Portugal em bicicleta, é evidente que todos os OCS fazem uma pequena peça com o patrão João Lagos…
O que eu escrevi logo no início é que conheço muito poucas, pouquíssimas entrevistas que revelem um pouco do João Lagos, homem.

Tem apenas o antigo 5.º ano do Liceu mas a coragem de “ameaçar” a poderosíssima ASO de que é capaz de fazer o relevo em relação à empresa francesa e assumir por sua conta e risco o Dakar.
Faz bluff?
Não creio!
Não mais do que aquele que qualquer homem de negócios fará sempre em circunstâncias especiais.

Já tive oportunidade de falar duas ou três vezes com ele, sempre informalmente.
Nunca o entrevistei.
E dele tenho a imagem de um homem simples que se distingue dos outros exactamente pela tal coragem que tem demonstrado em aceitar desafios que poucos outros teriam aceitado.
Aliás… dêem-me outros exemplos semelhantes.
Não se preocupem.
Eu também não encontro.

Mas ao ler entrevistas, como esta, da ÚNICA, cresce em mim a admiração por este homem.
Posso estar enganado, claro, mas das duas ou três conversas que tivemos em particular – embora todas em eventos públicos – e daquilo que acho perceber nas entrelinhas das tais poucas entrevistas de fundo que li com ele, parece-me ser um homem que não terá o mínimo problema em ir ali à tasca da esquina beber uma mini e comer um prato de caracóis.
Embora a imagem que dele fazem se encaixe melhor na tulipa de champanhe caro e acepipe a condizer.

Provavelmente sente-se à vontade tanto numa como noutra das situações, o que faz ser mais especial ainda.

Tiro daqui o meu chapéu a este homem que contraria o cinzentismo institucionalizado a nível nacional.

No Ciclismo – que é o que justifica este artigo aqui – da Volta a Portugal (e obrigações inerentes e consagradas no pacote posto à venda pela FPC), rapidamente alargou a sua presença – ou a da sua empresa – a mais duas ou três provas e é neste momento o maior organizador do calendário nacional…

Para além da extraordinária visão – mais uma – de impulsionar, ele próprio, o regresso dos Três Grandes ao pelotão nacional.
Desafio apenas assumido pelo Benfica.
Mas sabem uma coisa?
Acho que ele não desistirá e voltará a insistir.
Quando Sporting e FC Porto voltarem ao pelotão nacional, aí vai ser mais fácil convencer a televisão a tratar melhor o Ciclismo.

Com mais directos, claro. Talvez não de três horas – como a RTP faz com a Volta – mas sabem quem era o director de programas de RTP até há bem pouco tempo?
Sabem para onde ele foi?

A Volta, creio não estar enganado, é da RTP ainda por mais alguns anos…
Mas as transmissões, em directo, nem que seja da última meia hora - com mais meia hora de entrevistas e rescaldo - das voltas ao Algarve, Alentejo, Troféu Joaquim Agostinho, Volta ao Distrito de Santarém ou Grande Prémio de Paredes não têm dono.

Às três e meia ou quatro da tarde os três canais a transmitirem em aberto estão a passar programas com estruturas quase milimetricamente iguais…
Oferecer uma alternativa aos espectadores – vejam as audiências e o share que a RTP consegue em Agosto com a Volta – ainda por cima com a possibilidade de entrar num mercado publicitário bastante direccionado é ou não um desafio para as outras duas estações?

Mas quem sou eu para sugerir seja o que for à João Lagos Sports?
Sei que estou a ser insolente…
Mas faço-o por amor ao Ciclismo.

Pode ser que alguém leia isto...

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