domingo, abril 02, 2006

56.ª etapa



VOLTA A PORTUGAL.2

Com um abraço do tamanho do Mundo para o meu amigo Joaquim Gomes e ressalvando que sou suficienemente humilde para, aqui, publicamente, reconhecer que eu era incapaz de fazer o trabalho que ele vem a fazer na PAD, gostava de falar num aspecto que tem escapado à maioria dos observadores do Ciclismo em Portugal. E acho a ideia pertinente, principalmente agora que já não temos no pelotão as grandes equipas do Circo Internacional, com algumas das suas "feras".

ATENTEM: Qual é a primeira preocupação dos italianos quando desenham o Giro? Traçar uma corrida ao jeito dos... italianos.

O que fazem os espanhóis? A mesmíssema coisa, a pensar nos Heras (já foi!), Beloki's, Valverdes e companhia...

E o que fez o Tour ao longo destes anos? Malgrada a azia, desenhava as corridas de forma a que o Induráin, primeiro, e depois o Armstrong, as ganhassem. Os franceses, mesmo com a "guerra" que fizeram, a partir de Julho do ano passado, a Lance Armstrong, preferiam mil vezes que ele ganhasse o 5.º, o 6.º, o 7.º... - e só não foram mais por decisão do próprio Armstrong - para poderem dizer que... o TOUR foi ganho pelo maior corredor da actualidade. E não por um Menchov, ou um Salvodelli qualquer - com o devido respeito que estes corredores me merecem. Isto porque há mais de uma década que nã aparece um francês com qualidades para se impôr numa corrida de três semanas. Nem nas de 5 dias!!!

Onde é que eu quero chegar?

Tracemos uma Volta para um português ganhar. Depois da "loucura" de 2003, com o triunfo de Nuno Ribeiro, e do apoio popular que o Cândido Barbosa teve o ano passado... não será por aqui que devemos começar a "reconstruir" a credibilidade do ciclismo português?

É evidente que a Volta, e porque cá não acontece como em Espanha onde a Organização gasta três meses a seleccionar quais as cidades que hão-de receber a corrida, tal é o volume de ofertas, não pode evitar a parte mercantilista (sem desprimor, porque sem dinheiro não há corrida) e isso limita o mapa de Portugal à meia dúzia de localidades que QUEREM a Volta e obriga a esgotantes negociações com outras autarquias que ficam no caminho porque não se pode fazer uma etapa entre Portimão e Castelo Branco.

Olhemos para o nosso pelotão no iníco de cada temporada, ou para os corredores que na temporada transacta deixaram sinais de que podem ser candidatos. Não... acabemos com isso dos candidatos "honnoris causa". É pelo que fazem na estrada e não pelo currículo que podemos "descobrir" um novo campeão.

Dois exemplos: etapas longas para as equipas mais pequenas mostrarem as camisolas? Riscava! E à Senhora da Graça ia só pelo público, que aquilo já mostrou que, sem uma equipa verdadeiramente forte e coesa, como a Maia de 2002, não dá mais do que uns míseros segundos de diferenças entre os principais candidatos.

E vou dizer uma autêntica heresia: uma etapa a terminar na Torre não é obrigatório.

Agora peguem nos corredores mais jovens que poderiam reconquistar o público para a paixão pelo ciclismo.

Quem temos?

O Sérgio Ribeiro... o João Cabreira... o Tiago Machado... o André Vital... o José Vaz... o Filipe Cardoso... o António Jesus... o Bruno Pires... o Gilberto Sampaio... o Rui Pinto... o Macael Isidoro... o Bruno Sá... o José Martins... Vejam só quantos! E têm quase todos as mesmas características. Não o fiz "inocentemente"...

Tracem-se etapas curtas - como os espanhóis fazem - para que não haja grandes diferenças nas chegadas (ah, pois é!... eles "inventaram" isso e deixavam que a alta montanha decidisse o vencedor), deixemo-nos de cronos colectivos que deixariam alguns deles irremediavelmente afastados da discussão pela vitória, ou cronos individuais que não chegam para diluir as diferenças ganhas numa fuga louca - ainda por cima se for de um corredor que depois tem por trás uma equipa que saiba controlar - ou de uma etapa de 190 km a terminar na Torre.

Imaginem uma Volta com etapas de 140 ou 150 km, com chegadas em pelotão quase garantidas - e com o espectáculo que isso oferece ao público que, aos homens que andam fugidos 100 km só os vemos nos resumos da televisão que quando começam os "directos" já vão a andar para trás - e com, a um ou dois dias do final, uma crono escalada (cá está a explicação para os nomes escolhidos; nem todos fazem bons cronos, mas todos sobem muito bem), por exemplo... da Covilhã para as Penhas da Saúde. Que durante tantos anos se fez.

Os estrangeiros, medianos, como os que têm vindo a apresentar-se entre nós, na Volta, iam ficar nos primeiros dois quilómetros de paralelo e - digo-o em consciência, perdoem-me a franqueza - com os corredores, cada um por si, livres da ditadura, como eu lhe chamei algumas "etapas" atrás, do auricular e dos medos dos directores-desportivos... estou já a imaginar o espectáculo que não seria.

E querem apostar que ganhava um daqueles que apontei? Com a importante conquista conseguida por esse senhor do ciclismo que é Francisco Nunes - é bom que os homens não percam a memória - de pôr a Volta sempre a acabar num dia feriado e que tira esse final do habitual domingo, já preenchido com o futebol por essa altura do calendário... com portugueses a lutar pelo triunfo final não era só o povo amante do ciclismo que acorreria a uma etapa destas, eram também os jornais, com mais espaço, livres da jornada do futebol, a potenciarem, em termos de impacto, aquilo pelo que todos nós lutamos: o Ciclismo.

Não cobro nada pela ideia.

4 comentários:

RuiQuinta disse...

(Mais uma vez) Muito bem!
E quem diz a crono escalada a começar na Covilhã, diz a cronoescalada na 4ª ou 5ª etapa na Foia (já estou a puchar para o Algarve), mas é claro que para isso a Volta teria de começar de cima para baixo e no dia de descanso voltar a Norte, o que já é uma ideia "complexa"

mzmadeira disse...

Caro Ace, neste deserto de ideias, as poucas que se têm nunca serão complexas.
E em França, Espanha e Itália fazem-se neutralizações de 500 quilómetros. Eu já fiz Córdova-Madrid de noite, depois de tr acabado de escrever...

RuiQuinta disse...

Por isso considero complexo uma neutralização de 200 km's. O que no estrangeiro e normal em Portugal não se ve.

mzmadeira disse...

Nem faria sentido... era um exemplo, mas não devemos perder as proporções entre Portugal e aqueles países... Em POrtugal, e em anos não muito distantes, já se fizeram neutralizações de Tavira para Évora... de Leiria para Santiago do Cacém...

Mas isto é assunto para outro tópico.
Obrigado ACE