segunda-feira, abril 10, 2006

63.ª etapa



GRANDE CORRIDA... GRANDE BARRACA!...

Todos os amantes de Ciclismo terão ficado extâseados com a espectacular corrida que foi, ontem, a 104.ª edição do Paris-Roubaix. Especialistas em clássicas ou não - o Bérnhard Eisel não o é, em definitivo, e fez uma corrida enorme - os corredores entregam-se à corrida com um único objectivo: dar tudo o que têm para dar. Ali não moram sentimentos do género "eu sou sprinter, só tenho que estar na frente nos últimos 350 metros" ou "eu sou trepador, lá à frente há uma contagem que me interessa, por isso não tenho que puxar agora..."

É outro ciclismo.

E foi uma corrida espectacular manchada por um erro inadmissível por parte, mais da equipa de juízes do que da organização.

Em declarações ao cyclingnews.com, um responsável da ASO, sem o dizer, lamentava o sucedido, chamando apenas a atenção para o facto de a corrida ir cerca de 15 minutos adiantada em relação ao melhor horário previsto quando esta foi "cortada" pela passagem de um comboio de mercadorias.

Grande corrida, repito, organização excelente mas, no melhor pano cai a nódoa e desta não se livra a equipa de juízes que acompanhou a prova.

Factos: A 10,32 km da chegada havia uma passagem de nível que Fabien Cancellara terá passado ainda aberta (porque as imagens o não mostraram) e que o primeiro trio de perseguidores - Leif Hoste, Peter Van Petegen e Vladimir Gusev - contornou, aproveitando o facto de ser uma passagem de nível com duas "meias-guardas". Claramente - ainda agora estou a rever as imagens que gravei - com aquelas já em baixo.

14,9 segundos depois, Tom Boonen, Juan António Flecha e Alessandro Ballan foram hostensivamente parados por um estafeta-moto (vestido de vermelho) e um outro elemento (de negro) apeado que não me pareceu poder ser um dos juízes de corrida. um décimo de segundo a seguir um comboio a alta velocidada cruzava a passagem de nível. Não acredito que nenhum dos três corredores em causa não tenham sentido um arrepio na espinha. Esteve à vista um drama de dimensões não mensuráveis.

Na altura, e pelo que vejo na gravação da EuroSport, Cancellara levava, instantes antes de atravessar a linha férrea, 32 segundos sobre o primeiro trio de perseguidores - que se esgueirou pelo meios das "meias-guardas" - e 55 segundos sobre o segundo trio que ficou parado 20 segundos, arrancando logo que o comboio passou, também antes que as guardas abrissem.

Onde estavam os juízes de corrida?

Cancellara terá passado à "queima" - não se viu e eu não sei se já passou ou não com as guardas em baixo -, com o primeiro trio perseguidor passaram uma moto da Mavic (apoio neutro) e uma outra com um fotógrafo. Ainda deu para perceber as indicações do mecânico que ia na moto de apoio que indicava, claramente, que os escapados deviam parar, mas se ninguém estava lá para os parar...

E o segundo trio foi salvo, no mais puro sentido da palavra, por aquele estafeta-moto que se pôs à sua frente e, ainda antes de Juan António Flecha, que encabeçava o grupo, por o pé no chão, já o comboio cruzava a passagem de nível. Nem quero pensar no drama que estivemos à beira de ver em directo!

Mas voltemos ao importante da questão. Onde estavam os juízes de corrida?

Cancellara passsou ou não com as guardas já em baixo? Os outros três passaram, de certeza, que isso vimos todos, olhemos então ao que dizem os regulamentos.

SE... SE... Cancellara passou ainda com as guardas abertas, prosseguiria, sem impedimentos, a sua corrida. Os outros três tinham, obrigatoriamente, que parar e, como seriam alcançados pelo segundo trio, largariam retomariam a corrida com aqueles 14,9 segundos que traziam até ali. Depois sairia o grupo de Boonen. O resto da corrida não seria afectada com o incidente, chamado isso mesmo, "incidente de corrida", previsto e regulamentado.

Mas não havia, incompreensivelmente, juízes de corrida naquela passagem de nível. Tanto que NINGUÉM mandou parar o primeiro trio e razão tem Leif Hoste que, em declarações, também ao cyclingnews.com, lamentava o facto de, nos dez quilómetros que faltavam NINGUÉM lhes tenha dito nada de nada, para depois, no final... os desclassificar!

Desrespeitaram os regulamentos, é certo. Mas o seu esforço, na tentativa de alcançarem Fabien Cancellara, também foi desrespeitado.

Enfim, como disse lá atrás, no melhor pano cai a nódoa...

Para o ano que vem já ninguém se vai lembrar do incidente mas atentem... Quem é, agora e em consciência, capaz de garantir que, arrancando do zero, o primeiro trio manteria os 23 segundos de vantagem sobre o segundo, desvantagem, para este, agravada em 20 segundos com a sua própria paragem?

E, tendo parado e esperado, mesmo que depois tivessem partido com os tais 23 segundos de avanço em relação ao grupo de Boonen, quem pode garantir que não decidiam juntar esforços na perseguição ao suíço? E com seis a puxar... teria Cancellara chegado isolado?

E em grupo? O resultado teria sido o mesmo?

Uma nota final: Tenho estado a rever a parte final da corrida e, em momento algum o comentador da EuroSport tocou sequer no facto de, como escreveu noutro site, "os 3 ciclistas não tinham aceite as ordens dadas pelos comissários da prova para pararem no local". E não devo ter sido só eu a gravar a corrida. É falsa, portanto, esta afirmação. E o "nunca pensei era que o castigo fosse a eleminação (sic)", é uma afirmação gratuíta, chamada à posteriori, pois na altura nem lhe passou isso pela cabeça.

Mas registei duas coisas: o pelotão está recheado de jovens de 25 e 26 anos - nem um com mais de 40, para amostra!!!! - e em relação ao peso dos ciclistas, o comentador está bem informado. Um ex-speaker da Volta a Portugal insistia em dizer-nos que o corredor tal calçava o 44... Este deixa-nos completamente a par do quanto pesa cada um. Há-de haver quem ache interessande, não digo o contrário. Ah!... e à enéssima vez que apareceu o nome do Fabien Cancellara antecedido da bandeirinha vermelha com uma cruz branca... descobriu que ele não é italiano. Pediu desculpa. Por mim está desculpado, ninguém é obrigado a conhecer as bandeiras de todos os países.

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