quarta-feira, abril 19, 2006

74.ª etapa



A IMPORTÂNCIA DAS CORRIDAS DE UM DIA

Depois de ter assistido hoje à Flèche Wallone - e de ter visto as últimas grandes clássicas que a EuroSport nos tem oferecido -, depois de, apesar de lá não ter estado, fisicamente, ter lido que, tanto o Troféu Sérgio Paulinho como a Clássica da Primavera (um grande abraço ao Manel Zeferino que, apesar das dificuldades, conseguiu pôr a corrida na estrada), dou comigo a pensar: mas porque é que deixámos "cair" a... como é que se chamava? Taça Nacional das Clássicas? Já não me lembro!...

É apenas coincidências este artigo vir a seguir aqueloutro que revela a vontade de as equipas do Norte não comparecerem a duas corridas de um dia que vão realizar-se no Algarve, e se só a esta hora estou a escrever é porque, depois de rever a gravação, fiquei de tal forma sensibilizado que não resisti.

Corridas únicas, nas quais só pode haver uma táctica: trabalhar para ganhar. E ponho-me na pele dos patrocinadores. Não é para isso que investem o seu dinheiro? Para ganharem?

Com um calendário de Corridas de Um Dia - desculpem lá, mas a história do nome "clássicas" é como a dos "derbies", no futebol. Um FC Alverca-UD Vilafranqense até pode ser apodado de derby pela imprensa local, mas não será, nunca, mais do que a cópia, a um determinado nível -sempre mais baixo - dos verdadeiros "derbies" que, e não sou tão purista como alguns colegas, não se resumirá apenas aos Benfica-Sporting ou vice-versa; só há três clubes em Portugal que participaram em todos os campeonatos da I Divisão, ou Liga, o que lhes queiram chamar, logo, os jogos entre Sporting, Benfica e FC Porto serão os "derbies" ao nível do futebol português porque há mais de 60 anos que se encontram entre eles.

Clássica, em Portugal, e voltando ao ciclismo, só houve uma - infelizmente posta de lado, temporariamente, desejo eu -, o Porto-Lisboa.

O resto são corridas de um dia. E fiquei muito satisfeito, o ano passado, quando a FPC decidiu organizar o Troféu Sérgio Paulinho, fugindo à malfadada (no sentido de mal empregue) "clássica". E como sou apologista de que as pessoas que se destacaram de algum modo na sua actividade, e dessa forma fugiram à nossa condição de simples mortais, tendo garantido a perpectualidade do seu nome, porque é que o CD Navais não há-de rebaptizar a sua corrida como Troféu Manuel Zeferino? Filho da terra, vencedor de um Volta a Portugal e o técnico luso com mais provas dadas além fronteiras? Claro que agora, com o Manel na direcção, aceito que não se dê esse passo... Mas bem que poderão pensar nisso.

Como a Associação de Ciclismo de Aveiro, por exemplo, podia criar o Troféu Alves Barbosa, ou irmãos Sousa Santos, ou Joaquim Andrade (pai)... e dar mais visibilidade ao nome de Fernando Mendes; como a Associação de Ciclismo do Porto podia criar o Troféu Ribeiro da Silva...; a de Braga, o Troféu José Martins... ou Coelho de Lima, um homem a cuja memória o ciclismo nunca conseguirá retribuir no justo valor àquilo que ele fez pela modalidade; a de Santarém o Troféu José Maria Nicolau e Troféu Alfredo Trindade... e o Troféu Marco Chagas; como a AC Algarve já podia ter dado o nome de Jorge Corvo a uma das suas corridas... e que não se esqueçam do meu muito querido engenheiro José Manuel Brito da Mana.

Já viram o painel de grandes campeões - e não só, e não só... - que podiam emprestar os seus nomes a uma grande competição - a tal Taça Nacional... de Clássicas (já dou isso de barato, mais pelos nomes do que por outra coisa) - homenageando anualmente ALGUMAS das principais figuras que construiram a história do nosso Ciclismo?

E dos que (ainda) vão à estrada ver passar as corridas, quem não se lembra deles?

Torres Vedras é terra de ciclismo e de ciclistas... mas o facto de a sua grande corrida levar o nome de Joaquim Agostinho não pesará muito no facto de ser umas das que conheço que mais público atrai?

Pois é...

Por enquanto, ter ideias ainda não é matéria colectável para o IRS...

Mas volto ao princípio. À Flèche Wallone que ainda há pouco acabei de rever (sem som... acrescento, por respeito à verdade). Que corrida! Outra, a somar-se às que já aconteceram. E que ponderem todos nisto: o facto de a EuroSport nos oferecer estas corridas de um dia... não levou ainda ninguém a pensar como eu? Como podíamos ter no calendário provas do género? Exigentes, duras... para que só os melhores pudessem sobressair.

Para que, quando chegássemos à Volta a Portugal, a maioria das fugas não merecesse mais destaque do que o que merecem... na maior parte, nenhum. São fugas para a televisão. E que um lugar nos primeiros 20 na Volta não servisse de objectivo a ninguém.

Com um calendário preenchido, todos os fins-de-semana, de Março a Junho, com corridas de um dia... chegados a Agosto ou se ganha a Volta (ou se luta por ela até ao último metro) ou não se é motivo de notícia. E as equipas podiam jogar diversos trunfos ao longo da temporada.

Assim, como estamos, um terço do pelotão sabe que não querem dele mais do que trabalhar para o chefe-de-fila, na Volta, e os outros dois terços só têm um objectvo: andar numa fuga num dos nove dias da Volta a Portugal. Como é que motivam estes atletas a treinarem-se meses e meses, ao sol e à chuva?

Os dois primeiros meses de competição são encarados sem pressão porque são os próprios Directores-desportivos que vêm dizer que "eles" - os estrangeiros - vêm melhor preparados (não percebendo que estão, implicitamente, a reconhecer que não quiseram, ou não souberam, preparar melhor os seus próprios corredores); a partir de Maio... os potenciais candidatos à vitória na Volta, e os seus "peões de brega", são hostensivamente resguardados para não se "cansarem" ou sofrerem lesões...

Os outros corredores de cada uma das equipas, que são a grande maioria, se verdadeiramente profissionais hão-de sentir uma tremenda frustação por nunca merecerem a confiança para, num golpe de asa, se libertarem do anonimato a que as próprias equipas os condenam.

Talvez por isso, mesmo nos treinos - e todos sabemos que é verdade - limitam-se a cumprir os "serviços mínimos"...

2 comentários:

mzmadeira disse...

Paulo,

tú também exageras logo! Tens que perceber quando a crítica é genérica (no caso), ou precisa em casos reais e concretos. É evidente que não posso dizer que o coredor A, ou B, ou C... são calões, ou o contrários, que são esses os mais aplicados.
E olha que genericamente não tiro nem uma vírgula ao que escrevi. E, como em qualquer área de actividade, o barrete só serve quem o enfiar... e quem não deve não teme.

mzmadeira disse...

Caro Paulo,

não percebi, não percebi mesmo, o primeiro destes teus dois últimos comentários..., com a excepção da parte do "será que o Organizador manteve o convite...", estamos a andar para trás, é? Os convites fazem-se, são aceites ou não (dentro dos prazos regulamentados) não se mantêm ad heternun...
Embora possa acontecer o mesmo que vai acontecer em Julho, apesar de ter havido quem se tenha esquecido de confirmar a presença.
Sim, é isso... vão mesmo TODAS as equipas do elotão nacional...
Só espero que para o ano, e dado que o "esquecimento" não terá consequências, não se "esqueçam" mais equipas ainda de devolver o convite devidamente preenchido...

-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Quanto ao último dos teus "posts"... não tenho resposta!... aliás, posso tentar isto, para tu tentares perceber: quando digo genericamente não quero dizer TODOS... nem a maioria... mas muitos... genericamente, neste contexto, pode significar que há exemplos suficientes para que não minimizemos, ou o lado bom, ou o mau, de uma determinada situação.

Por acaso, continuo a fazer a arumação do meu arquivo e ainda não há uma hora reli, extasiado, uma entrevista de quatro páginas que o mestre Emídio Pinto deu ao Costa Santos (Record) em 30 de Agosto de 1998.
Cito só ma pequena passagem: Pergunta - Mas diz que eles [corredores] não trabalham?
Resposta: É muito difícil... sabe o que é mau? Olhe, na preparação de um corredor, diz-se que ele deve fazer, por dia, suponhamos, 150 ou 200 km. E ele faz, não duvido, mas...
Pergunta: Mas à velocidade de cruzeiro...
Resposta: Viu? Está tudo dito, meu caro amigo.