terça-feira, abril 18, 2006

72.ª etapa



DON QUIXOTE, OS MOÍNHOS, CONSCIÊNCIA E VERGONHA

Já aqui o tinha referido - e não referenciado (É VER NO DICIONÁRIO QUAL É A DIFERENÇA), como alguém com responsabilidades na divulgação do ciclismo insiste em babosear - que é com algum orgulho que vou recebendo mensagens de gente ligada ao Ciclismo, desde jovens atletas a outras pessoas com maior "peso específico" na modalidade, passando, naturalmente, por alguns colegas e amigos.

Que preferem não utilizar este espaço. Mas, e na verdade, ele não serve para que me dêem palmadinhas nas costas, mas para que DISCUTAMOS o Ciclismo. Por isso aceito o argumento de um grande amigo, pessoa que anda aí, na estrada (e não é jornalista) que, e muito bem, me disse que não contesta os meus artigos porque está de acordo com a esmagadora parte dos meus argumentos. Também não ia querer que as respostas a cada um dos artigos que aqui deixo fosse apenas para dizer: concordo. Eu sei que há quem concorde. Sei até quem concorda. Não é surpresa, pois, o ter na caixa de correio mensagens de apoio.

Este post sai à laia de resposta a um dos mais velhos e queridos Amigos que tenho no pelotão. Homem a quem o ciclismo muito deve e a quem os homens (de hoje) tardam a reconhecer o muito que ele fez, homenageando-o condignamente. Como ele merece.

Caro amigo, gostei da sua comparação. Terá esta tarefa, a que me propuz, muito de "queixotesco". Se calhar tem mesmo. Mas só quem não leu Miguel de Cervantes pode interpretar mal o termo. Caricatura de uma certa "casta" de Cavaleiros Andantes, Don Quixote não era o louco que parece ser, mas sim a consciência de todos os que preferiram ficar quedos e mudos, ante uma sociedade que mudava. Curvo-me perante a sua sapiência e só lamento a parte final da sua mensagem onde diz que está "descrente e desiludido". Não estamos todos?

Assim, acumulo os papéis do "lunático" Don Quixote e da bem mais pragmática (por retratar a voz do povo) figura do Sancho. E, se por vezes cavalgo o escanzelado Rocinante, noutras sujeitar-me-ei à bem mais segura rota da pachorrenta mula do fiel aio do Cavaleiro da Triste Figura. Ciente que, tal como quem tem o mínimo de cultura percebe a deliciosa parábola que Miguel de Cervantes nos deixou com esta obra, quem tem o mínimo de conhecimentos e paixão pelo Ciclismo perceberá contra que "moínhos" eu invisto de lança em riste.

Não me desmotiva o meu grande Amigo, antes pelo contrário. Dá-me alento. E, quanto aos resultados (leia-se influência que este espaço pode ter num eventual processo de regeneração do Ciclismo em Portugal)... a verdade é que, por enquanto, não espero nada.

Escolham uma boa peça de um excelente dramaturgo e, mesmo que o encenador seja só aceitável, se o grupo de "actores" for mau... e se forem sempre os mesmos... a peça será um fracasso. Ora, se compete ao encenador por o espectáculo em palco, terá de ser ele a correr com os maus actores e escolher melhor elenco.

Diz o Amigo que eu já deveria ter "percebido que esta luta está condenada a arraster-se..."

Tenha eu Vida e Saúde para a manter, que se arrastará até onde e quando for preciso. Não ando à "caça de moínhos". Sei, e digo-o as vezes que me apetecer, o que está mal e, pior ainda para o establishement que reina, sou capaz de ter ideias para mudar o estado das coisas. Se isso não servir para mais do que para que todos percebam quem é que controla o "sistema" - usando uma terminoligia que se tornou famosa com o futebol - então já será uma vitória para mim.

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