quarta-feira, abril 12, 2006

66.ª etapa



É BOM NÃO ESQUECER

Passaram há poucos dias DOIS anos sobre uma reportagem-choque, que o jornal desportivo madrilenho AS deu à estampa, na qual o ex-corredor Jesús Manzano denunciava, com pormenores que só quem tenha passado por essas situações poderia saber, alguns métodos usados no ciclismo de alta competição (em algumas equipas, pelo menos, porque nos meses subsequentes foram "apanhados" mais do que um e de mais do que uma equipas) para... melhorar os índices físicos dos corredores, principalmente nas corridas de três semanas.

Afastado da minha actividade, "preso" em casa - que não, felizmente, à cama - venho a entreter-me a tentar por alguma ordem nos "quilos" de recortes que pretendo organizar em termos de arquivo. E cheguei à reportagem assinada pelo Juan Gutti tendo, como personagem principal, o dito Jesús Manzano, entretanto ostracisado por todos, quase apagado da história do ciclismo recente.

Aliás, esse trabalho, que não foi expontâneo, todos o sabem - Manzano "vendia" a estória a quem pagasse mais e foi o AS quem ficou com ela, embora a concorrência, mortinha de inveja, está bom de ver, depois de batida no "leilão" se tenha apressado a criticá-lo - parece que só serviu para duas coisas:

Primeiro, Jesús Manzano "acabou" como ciclista.

Será que inventou aquilo tudo? E as simulações que fez para o complemento fotográfico da reportagem... foram com seringas e máquinas arranjadas aonde? Não eram mesmo as que ele tinha para poder cumprir os planos previamente estabelecidos (e não posso falar de nomes, embora os saiba...) ?

Segunda consequência:

o Juan Gutti teve, praticamente que se esconder. Em 2004 não fez nem a Vuelta nem mais corrida nenhuma depois de a reportagem ter saído e, no ano passado, apesar de assinar uma crónica diária no seu jornal, voltei a não o ver na Sala de Imprensa da corrida espanhola.

O odioso da questão, branqueada pela equipa, pela federação espanhola, pela autoridade responsável pela luta anti-doping, em Espanha... mesmo pela AMA e pela UCI, ficou todo por conta do corredor e... olha que conveniente!... do jornalista que se limitou a recolher o depoimento e passá-lo a escrito. Foram 20 páginas, divididas por cinco dias, cheias de pormenores.

E passados dois anos e duas semanas da publicação do depoimento... nada aconteceu. Tirando o que já referi.

As transfusões de sangue são pura ficção... as auto-medições dos níveis de glóbulos vermelhos também, os medicamentos vaso-dilatadores igualmente e as hormonas de crescimento a mesma coisa.

E a história, bem mais recente, do uso anormal, em homens (ciclistas) de 20 e poucos anos do Viagra (que não é mais do que um vaso-dilatador que é, naturalmente, potencializado pela líbido para o efeito para o qual foi fabricado, mas que não deixa de ser um vaso-dilatador)... são invenções de quem só fala mal do ciclismo. Não existem!

Fechamos os olhos, não vemos logo, se não vemos... não existem.

Mentes menos descomprometidas poderão pensar que este texto é mais um "ataque" ao ciclismo.

Nada disso. O Ciclismo que não "deve... não teme".

Foi só para recordar que há precisamente 106 semanas ficámos todos à espera de uma verdadeira depuração naquilo que acontece nos bastidores do Ciclismo e... nada aconteceu. Com as tais duas excepções.

Manzano não voltará a ser corredor em nenhuma equipa e Juan Gutti foi obrigado a esconder-se - por pressão de quem? É uma pergunta que acho muito pertinente - atrás da sua secretária na redacção do AS. Sem ordem para sair à rua.

Ainda não há muito tempo que, a um outro nível, bem mais provinciano, responsáveis - no verdadeiro sentido da palavra - repito: responsáveis pela maioria das equipas nacionais (e não só, e não só...) também, perante uma notícia menos agradável acharam que "suprimindo" o mensageiro... a mensagem deixaria de ter valor.

Ai, Ciclismo, ai, ai...

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