quarta-feira, junho 18, 2008

II - Etapa 101

E SE NOS PREOCUPÁSSEMOS,
ANTES DE MAIS,
EM PROCURAR A VERDADE (PARTE 2)

(acrescentado FACTO)

No artigo anterior falo de Justiça e de Verdade.
Sigamos em frente, olhos postos nas mesmas metas.

Sou pela Justiça, anseio por que a ela se chegue rapidamente, desejo que seja justamente exercida, não discutirei ou porei em causa as decisões que vierem a ser tomadas.
Sempre, e com essa única obrigação que é o de Ela, a Justiça, não fuja nunca à Verdade.

Não a qualquer verdade. À Verdade.

Por isso coloquei em causa algumas coisas que li.
Porque, e como escrevi, consciente ou inconscientemente, há coisas que se escrevem que se proporcionam a interpretações erradas. Ao aparecimento de muitas “verdades”.

Até se pode dar aos leitores, amantes do Ciclismo, uma série de dados dispersos, ainda que cronologicamente alinhados, e se deixe que cada um faça a sua leitura, mas há “truques” que não podem ser usados.

Deixar uma lista de factos é uma coisa, deixar “comentários” disfarçados de factos, é outra. E esta é perigosamente perniciosa.

Já o escrevi mais do que uma vez, toda a gente tem direito a ter a sua opinião. Era o que faltava, eu não reconhecer isso se eu próprio me bato pelo direito de ter a minha. Mas a opinião é um exercício que nos media tem, obrigatoriamente de ser separado da informação. Claramente identificado. E isso acontece na esmagadora maioria das vezes.
Mas cada vez mais vou detectando uma crescente promisquidade entre uma coisa e outra. Em coisas tão simples como a apresentação cronológica de “factos” que, mesmo que inadvertidamente – e o contrário seria duramente condenável – induzem quem lê num erro, sendo que esse erro é perfeitamente identificável: é arregimentar terceiros a uma opinião disfarçada que o leitor terá tendência a partilhar, uma vez que “viu escrito”. Que leu. Que “veio no jornal”.

Ligar declarações de uma pessoa com muitas responsabilidades no Ciclismo, como é o seu presidente, que há seis meses afirmou saber da existência de uma investigação policial relativa ao tráfico [em Portugal, deduz-se] de produtos dopantes a um caso concreto que, muitos meses depois, envolveu uma equipa, quando, passado um mês dos acontecimentos que todos conhecem ainda não há uma única conclusão palpável, é arriscado. E distorce e practicamente desloca a informação revelada então pelo presidente da FPC para este caso.

Quem viu e quem leu ontem o artigo a que me refiro não ficará com muitas dúvidas. “Era deste caso que o presidente falava”. Seria?
Fica a insinuação. É já impossível “apagar” da cabeça de milhares de leitores que sim, era, e isso impede-os, aos leitores, de olharem o caso com imparcialidade, lá está… porque foram induzidos a formar uma opinião pré-formatada. A esmagadora maioria dificilmente voltará atrás e a equipa em causa passa a ser vítima de um pré-conceito.

Depois, e sempre com o mesmo caso como pano de fundo, recupera-se – vá lá perceber-se onde é que foi possível encontrar uma ligação entre as duas coisas – o caso do chamado Acordo-Comum. Uma combinação entre a associação patronal (a das equipas), dos Corredores, da própria federação. Mais da Comissão Nacional Anti-Doping. Por acaso o artigo ainda poderia ser mais negativo para a equipa, se se tivessem lembrado de acrescentar que esta equipa não faz parte da associação patronal. Isso levantaria ainda mais dedos indicadores na sua (da equipa) direcção. Se não acusadores, pelo menos carregados de suspeitas.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra?
Maus uma vez é dada uma “ferramenta” ao leitor, ferramenta com a qual ele não vai saber trabalhar mas que é levado a querer usar contra a equipa.
E carrega-se na intenção, propositada ou não, de passar a tal opinião pré-formatada. Que o leitor, aceitará porque “leu no jornal”, “vinha no jornal”.

Aqui, neste segundo ponto, o facto de voltar a sublinhar-se que o tal Acordo-Comum abortou, mantendo-se a opção de o sustentar apenas na versão de uma das partes, é quase descartável. Não tem mesmo nada a ver com o caso, é um mero exercício de má fé.

O terceiro ponto é inadmissível.
Não se pode ligar a informação de há seis meses, que haveria uma operação policial direccionada para a investigação de tráfico de produtos dopantes, com “as dificuldades” levantadas pela APCP e com o que aconteceu a esta equipa… à morte de um atleta.
É uma insinuação criminosa que mancha a honra de muita gente. Sem qualquer espécie de prova na qual assentar esta ligação.
Não é mau, é péssimo. E perigoso… para além de nojento.

O quarto ponto conta a história da operação concreta levada a cabo junto desta equipa. Será a consequência da investigação anunciada em Dezembro? Então, está-se a dar ao leitor a ideia de que só esta equipa estava sob suspeita. E era? Há provas? Dados concretos? Porque não o foram ainda tornados públicos?
Carrega-se ainda mais a tal intoxicação da opinião pública. Não tenham dúvidas, a esmagadora maioria de quem leu aquilo já tem a sua opinião formada. Com tanta “ajuda” para quê parar, tentar ligar os factos (verdadeiros, os únicos) de que realmente se dispõe e, a partir desses sim, formar a sua própria opinião? Não achará que valha a pena. Comprou uma por 75 cêntimos.

Ah… pelo meio semeiam-se inverdades. Francamente não me recordo se esta “cronologia” já estava feita e tinha sido usada e agora só foi actualizada. Não me recordo mas há-de estar no meu arquivo. Se é este o caso, devia-se ter emendado as inverdades que, há 25 dias atrás até o não eram, mas que entretanto foram corrigidas.
Como a das rescisões dos contratos com a equipa, por parte da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e dos dois principais patrocinadores. Já há muito se sabe que isso não aconteceu. Até podem estar… suspensos, como se diz, mas nunca foram rescindidos. O único que o foi, foi-o pela companhia que segurava a equipa.




Oiçam ...
macedo_2.wma -

Convenhamos que, tudo somado, é objectivamente negada à equipa em causa o direito à presunção de inocência e ao ser-lhe negado este direito está-se a colocá-la em situação dificílima.

Não se admirem que, apesar destas e de outras intoxicações da opinião pública, tudo isto não venha a acabar exactamente como o famoso “caso do apito dourado/final”.
Eu não apostaria o meu pescoço.
Mas a ferida aberta nesta equipa de Ciclismo levará muito mais tempo a sarar do que vai acontecer com a outra, a de futebol.

E torno ao princípio.
Queremos Justiça. Todos.
Mas parece que há quem tenha pressa em fazer justiça. Quando ainda não há indício sequer de que estamos perto da Verdade, que justiça poderá ser feita?

4 comentários:

aamorim disse...

Apenas um simples comentário, OBRIGADO. Obrigado pela informação que transmite, apoiada e verdadeira, não como a que comprámos" todos os dias. Obrigado pela defesa intransigente da modalidade e da verdade desportiva. Obrigado pela "defesa" do seu/nosso amigo Bruno, que também tive o prazer de conhecer e que de forma nojenta está a ser usado pelos "jornalistas" que temos (e pode crer, na minha opinião, são repugnantes. Obrigado pela sua escrita limpa e clara, sem falsos rodeios, pela sua posição de coragem ao escrever sobre as posições dos "dirigentes" da modalidade. Obrigado. Abraço

mzmadeira disse...

Obrigado pelas suas palavras, António, mas eu não escrevo para agradar a ninguém.
Faço-o quase por catarse. Manda-mo a consciência.
Não acredito em "santos", nem naqueles que, dizem, estão no céu, nem dos que se querem fazer passar por isso, aqui na Terra.
Acredito, contudo, que não há quem tenha o direito de apontar o dedo a outro igual. Não, sem que haja, devidamente fundamentados, motivos reais para isso.

Há um ditado chinês que diz: Nunca esqueças que quando esticas o indicador apontando alguém, três dos teus próprios dedos estão a apontar para ti.
Neste Mundo cão, neste Mundo de falsidades, de falsas "verdades" a falsos amigos, restam-me as minhas convicções.
E a primeira é a de que para garantir a minha liberdade tenho que sair à rua e por-me ao lado dos quem vêem a sua posta em causa.
Calha que são mais visíveis as minhas posições na área do Ciclismo, família que me acolheu e sempre bem tratou durante mais de década e meia.
E que em absoluta consciência acredite que a Verdade vencerá.

Não estou a dar a cara com intenções escondidas. Digo o que digo com plena consciência de que, por cada um que concorda comigo, há dez que discordam, e de entre esses, há sete ou oito que se já não o fazem, começam a odiar-me.

Que me odeiem é coisa que não me aquece nem me arrefece. Que tenham medo de mim, confesso, dá-me algum gozo.

E no final desta série de artigos que vou publicar, um por dia, sobre Justiça e Verdade - na verdade, sobre a hipocrisia que reina no mundo do Ciclismo -, no final, dizia eu, até posso chamuscar alguns reis que vão completamente nús.

Porque eles não fazem ideia do que é que eu sei, não ficarei admirado que seja reforçada a campanha de aniquilação da minha imagem junto dos agentes do Ciclismo. em me admiro, nem me preocupo.

Desde que, por motivos de saúde, fui obrigado a ficar fora da grande família do Ciclismo, e mau grado as campanhas orquestradas que tentaram - e conseguiram, em muitos casos - arrastar o meu nome pela lama, não perdi um único amigo, porque os que sem razão para isso, se afastaram, não eram, nunca foram meus amigos. Até já os esqueci.

Não faço consessões. Por mais crua e cruel que seja a verdade, será por ela que alinharei.

Prezo-me de ter princípios e jamais os trairei. Não me vendi nem me vendo. Amigos são os que me aceitam como sou.

Vai haver novidades nos próximos dias.

monteirolms disse...

Madeira,
É sempre um prazer ler o que escreve, quer se concorde ou não com a forma como o faz.
No entanto, ninguém pode tirar o mérito de o abordar.
Em relação a este caso, o que mais me desgosta é o atirar de pedras por parte de "pseudo-amantes" do ciclismo e serem juizes/carrascos duma equipa de ciclismo que, juntamente com as restantes equipas, têm elevado em grande o ciclismo português.
Acho que nunca iremos ficar a saber a verdade, pois a acusação tem direito a parangonas e a defesa só tem direito a pequenos espaços.
Vou ficar atento aos seus exemplos de verdadeiro jornalismo.
Permita-me também, atirar uma pedra a um Jornal que deveria ter sido isento e não o foi, seguiu na trilha de muitos outros e não devia. Refiro-me ao Jornal Ciclismo.
Que melhores dias venham e que este caso lhes sirva de exemplo, que só os Tribunais (sejam quais forem) é que decidem quem é culpado e quem é inocente.
Bem haja.
Luís Monteiro

João Santos disse...

Desde algum tempo para cá que leio o seu blog, e tenho que lhe dar os parabéns pelos textos de opinião que escreve muitas verdades que diz, e que os nossos jornais preferem ocultar.
Abraço
João Santos