CONSEGUEM PERCEBER O PARALELISMO
COM A INCONFESSADA ÂNSIA DE VER
OS CORREDORES SOFREREM?
Este escrito exige mesmo duas explicações prévias para que mais facilmente entendam onde quero chegar.
1. Escrever é a minha paixão e ser jornalista a concretização de um sonho que nunca ousei sonhar porque sou terrivelmente crítico para comigo mesmo. Mas, apesar do paradoxo, consegui ser jornalista. Nem mau, nem bom. Apenas um dos que realmente gosta do que faz. Mas não gosto - e por isso não os releio, como escrevi dois artigos atrás - daquilo que escrevo porque sempre acho que podia estar mais bem escrito.
E tenho, é evidente, ídolos, quase gurus espirituais, se for possível adaptar isso à escrita.
No que respeita ao jornalismo, definitivamente houve alguém que me marcou profundamente. Alguém que nunca cheguei a conhecer, mas cujos escritos eram de tal forma... simples, despojados de qualquer ornamento e, ao mesmo tempo, tão profundos, tão... como hei-de dizê-lo?, tão humanistas, que sempre me apaixonaram.
Isto a propósito do facto de a sua filha, a Leonor Pinhão - que também não conheço pessoalmente -, talvez por ser filha de quem é, se ter, também ela, transformado naquilo a que chamaria de "estrela" que procuro no céu e me ajude a encontrar o meu caminho.
2. Parece que vou contradizer-me, mas não. A verdade é que raramente gosto do que a Leonor Pinhão escreve n'A BOLA. Leio. Como leio todos os outros colunistas porque estou, e sempre estarei consciente de que só sei que nada sei, e que estou em permanente fase de aprendizagem. Por isso, e porque escrevo, obrigo-me - o que não é um sacrifício, antes pelo contrário - a ler todos aqueles que com quem eu acho que posso aprender.
Repito, não gosto - normalmente não gosto por aí além - dos escritos de página inteira da Leonor Pinhão n'A BOLA. Mas delicio-me com as suas curtíssimas crónicas no Correio da Manhã, onde consigo quase ler... o Carlos Pinhão.
Uma escrita objectiva mas um pouco condescendente; quase cruel, mas tão cheia de sentimento... breve, mas tão completa; olhando o acontecimento de longe, mas envolvendo-se tanto que quase se mistura com ele...
Imperdível.
E o que é que, para além de parecer que estou a fazer publicidade ao Jornal onde trabalho, eu quero afinal dizer? E, mais do que isso, o que é que tudo isto tem a ver com o Ciclismo, ou com o espírito do VeloLuso?
Abstenham-se - façam, por favor, esse exercício, de forma a não confundirem as coisas - , escrevia, abstenham-se do momento actual que se vive no Ciclismo português.
Não tem nada a ver!
Pelo contrário, tentem lembrar-se do que já, e por mais de uma vez, aqui escrevi neste espaço, em relação à inegável atracção pelo abismo que a esmagadora maioria dos adeptos do Ciclismo têm sendo que, com isto quero dizer, o que eles, os adeptos, gozam quando lhes é dada a oportunidade de ver um Corredor a sofrer.
Numa daquelas duríssimas etapas de alta montanha, por exemplo.
Lembram-se?
Quando eu chamei a atenção para o facto de quem aparecia a condenar publicamente os Corredores por, alegadamente, recorrerem a produtos ou práticas não permitidas, eram/são os mesmos que exigem que eles dêem espectáculo.
O que, decifrado quer dizer: que sofram até ao julgado humanamente impossível, puxando à força das pernas um corpo que já ultrapassou o limite da exaustão, olhos vidrados, espuma na boca, corpo inclinado para enganar rampas de 12, 15, 17, 23 %...
Lembram-se?
Não sei se leram esta crónica da Leonor Pinhão, ontem, no CM, mas podem lê-la agora. Basta clicarem na imagem que ela abrirá numa outra janela perfeitamente legível.
Digam-me, percebem agora o título deste artigo?
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