terça-feira, março 20, 2007

451.ª etapa


E TERMINO COM UM B... DE BONITA!

Terminou a 2.ª edição da Volta ao Distrito de Santarém – eu sei que este balanço já sai tarde, mas outras preocupações pautam a minha agenda, paciência. Venceu mais um estrangeiro. Não foi um corredor qualquer e, apesar de todo o respeito que me merece essa jovem promessa que dá pelo nome de Lars Boom… perder para Robert Hunter, numa corrida que teve três chagadas ao sprint, não é demérito nenhum.

Aliás, as formações portuguesas ganharam três das etapas. Todas por corredores estrangeiros, é verdade, mas não esqueçamos que o que conta é o nome da equipa.

O Benfica, numa corrida com estas características, esteve bem. Ganhou duas etapas e Javier Benitez ganhou a confiança de que precisava. A terceira vitória foi para o surpreendente Martin Garrido, da DUJA-Tavira.

· Já agora, deixo aqui uma explicação que os meus caros companheiros da comunicação inscrita não devem relevar.
· Durante anos houve no pelotão uma equipa que era patrocinada pela Organização Nacional dos Cegos de Espanha – ONCE, está bem de ver. Esta designação sempre foi respeitada. Era uma sigla que juntava as iniciais do patrocinador;
· Então, façam o favor de anotar: o patrocinador principal do Tavira é a empresa Desarrollos Urbanisticos Jimenez Alvarez.
· DUJA, não tem que saber. Aliás, é assim, em maiúsculas que está escrito nas camisolas. O nome da equipa é DUJA-Tavira.

Mas passemos à frente.
Foram apenas quatro etapas, sempre condicionadas pelo facto de uma delas ser um contra-relógio individual e apenas na primeira se consentiu uma fuga que ultrapassou o quarto de hora de avanço. Ou quase.

E houve equipas, a Riberalves-Boavista, por exemplo, que soube disso tirar proveitos. Venceu o prémio da Montanha. Parabéns ao Célio Sousa que tem vindo a ser um dos corredores mais regulares nas últimas temporadas mas, limitado ao papel de operário, poucas oportunidades tem tido de dar nas vistas.
Já agora, e para encerrar o capítulo dos parabéns… que bem esteve o Ricardo Martins (Fercase-Rota dos Móveis) no crono… Quem haveria de dizer?

E volto a chamar a atenção para o que escrevi há alguns meses atrás. Os jovens que completam o seu tirocínio no escalão sub-23 deveriam ter uma oportunidade – em equipas de clube, na categoria de Elites – para sublinharem todas as suas qualidades.
Como o nosso ciclismo está organizado (?), os melhores – como o foi Ricardo Martins, nos sub-23, onde chegou a campeão nacional – são contratados porque ainda são baratos e são-no para servirem de carne para canhão. Sem uma oportunidade.

Dou só um outro exemplo: Hugo Sabido. Reduzido a co-equipier, pese embora – e isso eu sei-o – com a oportunidade de correr livre uma ou outra corrida… não convenceu o seu patrão de então. E saiu. E fez uma escolha estranha. Foi para uma equipa de segundo plano. Ganhou a Volta ao Algarve nesse ano.

O que eu escrevi não o fiz por acaso. E serviria para que as equipas profissionais fossem buscar jovens, nem para preencherem o plantel, nem para os reduzir a trabalhadores para os estabelecidos chefes-de-fila.

E, tal como o Hugo viria a mostrar que o seu papel não pode ser o de mero co-equipier, também o Ricardo o há-de fazer.

De resto, e cingindo-me apenas aos factos, temos que na geral final, apesar de tudo, ficaram, no top-10, cinco corredores de formações nacionais. Nos primeiros 25 ficaram apenas mais três. Destes oito, apenas três foram portugueses. Mas eu não faço distinções. Corredor de equipa portuguesa tem o mesmo peso que um luso nascido.

Foi bom? Foi mau?
Não… foi mesmo assim-assim.

O que primeiro ressalta destes resultados – bem como dos da Volta ao Algarve – é que, em corredores que se iniciam em competição ao mesmo tempo, os portugueses saem sempre a perder. A descodificação deste problema é óbvia. As pré-temporadas são o que marca a diferença. E o que mais me irrita é que não há, em todo o pelotão internacional, corredores com férias maiores do que as dos portugueses.
E aqui entra um outro dado. Como é possível que não haja, já em Março, corredores com um pico de forma acima da dos demais? Eu sei a resposta.

O objectivo de todas as equipas portuguesas – incluindo o Benfica – é o mesmo e só aparecerá lá para Agosto. O primeiro pico de forma de alguns dos seus corredores não será visível antes de Maio. Para depois puderem ter um tempo de relaxamento e reiniciarem os trabalhos a fundo para estarem a top em Agosto.

Com os plantéis de 10 corredores… esperamos o quê?

Aqui creio que os organizadores poderiam – porque o interesse também é deles – dar uma mãozinha. Por exemplo, em colaboração com o patrocinador principal, na Volta a Santarém, pois então, subirem consideravelmente os prémios em jogo. Eu sei que os prémios estão tabelados. Mas também sei que há uma abertura que podia ser usada, que seria a dos prémios particulares.

Mais prémios em jogo – e não os interpretemos mal porque são profissionais – seria maior ainda a sua disponibilidade para darem espectáculo. É apenas mais uma ideia que aqui deixo.

Mas, ao fim de tantas linhas já escritas, sei que esperam pelo meu veredicto. Ok. Não, não acho que a prestação das equipas portuguesas tenha sido mau. Antes pelo contrário.

A Barloworld demonstrou estar melhor preparada que as demais. É verdade. Mas a Barloworld procura outros objectivos. Apesar de equipa Continental Profissional aspira a um lugar numa das Três Grandes. E fez um trabalho magnífico.

Onde se notou – mais ainda do que na geral individual – a maior diferença de preparação entre as equipas nacionais e as estrangeiras foi na classificação colectiva.
A Barloworld ganhou, em segundo lugar ficou a equipa de “esperanças” da Rabobank, mas em terceiro ficou a DUJA-Tavira. A segunda melhor portuguesa foi a LA-MSS-Maia, em 8.º lugar. E o Benfica foi apenas 12.º.

Uma palavra para a formação algarvia.
Já o ano passado, na Volta, fez uma corrida extraordinária. A recente Volta ao Algarve sofreu um percalço. Percalço esse que deixou a claro a incapacidade de os seus responsáveis lidarem com situações do género.

O que aconteceu à DUJA-Tavira podia ter acontecido a qualquer outra. O mal, no que aconteceu, foi a falta de tacto com que os seus responsáveis lidaram com a situação. Eu sei que, explicadinho… quatro quintos dos jornalistas presentes não iam perceber. Mas era tão fácil de explicar.
Infelizmente recorreram a métodos que só a eles lhes ficam mal.
Não é nunca o mensageiro o culpado pelas notícias que traz. Mas passemos à frente.

O Benfica, apesar de tudo, levou o primeiro lugar da classificação por pontos e, como já referi, Célio Sousa venceu a Montanha. Numa corrida de quatro dias não é fácil emendar erros cometidos logo no primeiro. Que lhes sirva de lição.

Resumindo: voltou a ser uma corrida interessantíssima, acho que o actual figurino é para manter e espero, sinceramente, que para o ano as formações portuguesas já consigam dar um pouco mais de luta. O ano passado só ganhámos uma etapa. Este ano vencemos três… Afinal, parece que não estamos tão mal quanto isso.

Só mais uma coisa…
E, sinceramente, não sei como – senão ajudava – mas é preciso levar o ciclismo até às populações. Situações como a do contra-relógio de Alpiarça (no sábado fui lá ver) não podem acontecer.
Em Portugal não podemos continuar a tirar as corridas dos locais onde há público para não chatear as autarquias com cortes de ruas (ainda por cima a um fim-de-semana). Como em tudo na vida, quando todos se calam, tem de haver alguém que erga a voz e diga… mando eu! E eu quero que seja assim…

4 comentários:

Pedro disse...

ola amigo manel!!

so para o saudar pela sua passagem pelo meu distrito (chegou a estar em santarem?)

eu nao consegui ver a chegada de domingo por nao estar em casa (que pena tive de não poder rever amigos e companheiros de outras andanças)

Um abraço!!

Pedro

mzmadeira disse...

Grande Pedro,
não, não passei pelo teu distrito, apenas e aproveitando uma boleia de um amigo, fui no sábado mais almoçar com alguns companheiros do que ver a corrida, até porque, na zona da meta, "perdi" - claro que não, ganhei, isso sim - o tempo a matar saudades de velhos companheiros de estrada e mal reparei nos corredores.
De Alpiarça, mais do que da vitória do Martin Garrido, trouxe no palato a recordação de uma boa refeição. Na companhia de amigos de sempre.

Unknown disse...

Caro Sr. Madeira
Por razões profissionais, tive conhecimento do seu “blog”.
Mantive-me, até hoje, numa larga maioria silenciosa que o consulta.
Vejo ciclismo desde que nasci, há quase 40 anos. Muitos dos seus comentários têm a minha completa discordância, mas outros há que a merecem, e entre o mais positivo e o menos positivo, o Sr. tem o mérito de assumir o que diz.
Gostaria de lhe dizer duas coisas sobre este seu comentário:
"Não é nunca o mensageiro o culpado pelas notícias que traz."- tal afirmação vinda de um jornalista que defende os seus pares, merece todavia um reparo.
O mensageiro, tem pelos seus estatutos profissionais a obrigação de se informar e esclarecer, utilizando a linguagem correcta e apropriada, sob pena de escolher palavras sensacionalistas que o jornalismo sério não utiliza.
A infelicidade das palavras, afecta o ciclismo e sobretudo, atinge a essência do mesmo, que é o atleta, que fica exposto e à mercê das interpretações que os leitores ávidos de escândalos procuram.
Os termos técnicos e médicos estão nos regulamentos e os resultados estão tipificados.
Quanto à equipa visada, se não geriu a sua imagem ou não defendeu da melhor forma os seus interesses, prende-se com um problema mais profundo - o dirigismo actual - que tem que ser mais esclarecido, estudioso ou procurar a ajuda de quem o faça com correcção, inteligência e sem medo.
Cumprimentos,
Marina Albino

Unknown disse...

Ainda a propósito desta sua etapa, gostaria de comentar o seguinte:
Quanto aos sub-23 disse "são contratados porque ainda são baratos e são-no para servirem de carne para canhão."
Estou plenamente de acordo consigo e diria mais - neste momento são completamente descartáveis como as fraldas dos bebés - no sonho de atingirem uma meta desportiva, ficam sujeitos à mercê de opções técnicas e de saúde, aceitam ser pagos abaixo dos valores exigidos pelos regulamentos federativos e de repente são descartados por motivos pouco claros e do qual nenhuma responsabilidade têm, ouvindo comentários do género " eu queria-te , mas o patrão...", " olha segue a tua vida e não comentes...", e os que são descartados, logo são substituídos por outros, que também iudidos nos discursos paternalistas e "sábios" de quem também afinal, tem medo do patrão, que não tem razão e de ciclismo nada sabe, a não ser ter dinheiro.
Os tempos mudam, as estruturas organizativas têm uma imagem mais apelativa, os carros de apoio e todo o " merchandizing" nada têm a ver com o passado, só uma coisa não mudou, os vícios de quem está no dirigismo há muito tempo, que não evoluiu, não aprendeu e que se perpétua através de sucessores, que nada fazem para que os processos sejam transparentes e sobretudo justos.
As vitimas continuam a ser os jovens e por isso não será de admirar, que em confronto com os colegas estrangeiros que se iniciam ao mesmo tempo, a margem de progressão não seja a mesma... é que a questão, é de Educação e sobretudo de Formação que continua a não existir no nosso país, com raríssimas excepções.
Bom dia!