quinta-feira, março 29, 2007

459.ª etapa


NEM BOM, NEM MAU...
ANTES PELO CONTRÁRIO!

Já sabia que hoje não poderia assistir à transmissão em directo do Canal 29. Fui, logo que cheguei a casa, procurando informação sobre a etapa raínha desta Vuelta a Castilla y León e soube que – por mais que os teóricos se venham a abespinhar – o Benfica voltou a fazer uma etapa muito boa. Mas já lá irei.

Varri alguns sítios na Internet, para colher informação e assim soube que o Zé Azevedo foi 12.º na etapa, colado a Ivan Basso e à frente do anterior camisola vinho tinto.

Achei piada a esta designação, há dois dias, do pivot da emissão do canal regional castelo-leonês que, muito à espanhola, questionava a designação bordeaux, nome similar ao da cidade francesa que é o centro de uma larga região vinícola. Ora, e segundo o pivot espanhol, camiseta viño tinto – recorde-se que a Comunidade de Castilla y León faz fronteira com o nosso Douro Interior/Trás-os-Montes – é bem mais agradável do que recordar um concorrente estrangeiro.

Isto tudo por eu não conseguir deixar de ficar e pelos arrepiados quando oiço/leio que o líder de qualquer corrida, seja ela qual fôr é… o camisola amarela. Não é verdade, nada obriga que aquela côr seja o símbolo de líder. E ela, a côr da camisola do primeiro classificado na geral, varia muito mais do que os não iniciados podem supôr.

Mas voltando ao que interessa, o Zé foi 12.º na etapa – que não vi (já lá irei, também) – e passa a ser o benfiquista melhor colocado, ocupando o 17.º posto na geral se bem que com muito poucas hipóteses de vir a melhorar. E será o melhor classificado da equipa.

Como já tinha dito, não me foi possível ver hoje o directo, por isso esperei pelo resumo diário que passa à noite, resumo que, para meu descontentamento, hoje foi mesmo… resumidinho. Caramba!

Mas deu para saber o que ignorava. Na principal fuga do dia o Benfica tinha metido um corredor, o catalão Didac Ortega. Estratégia perfeita, como é dos livros. Com um homem na fuga, o Benfica deixava de estar obrigado a fazer a perseguição. Nenhum de nós sabe, ainda e em consciência, o que valerá este jovem neo-profissional, mas isso não importa. Jogou bem o Benfica, esteve bem o Orlando ao – e à falta de dados concretos a leitura é feita assim, genericamente – instruir os seus corredores para que alguém estivesse na fuga do dia. Perfeito, tacticamente perfeito. Melhor que nos dias anteriores, no aspecto táctico.

Depois, pouco mais sei do que Alberto Contador – impressionante o aranque de temporada deste jovem espanhol que este ano se transferiu para a Discovery Channel – bateu Koldo Gil (vou repetir-me, em parte… impressionante a corrida que a cantábrica Saunier Duval está a fazer – e, ao que me é dado perceber, juntando algumas pontas soltas, também a madrilenha Relax-GAM, embora sem o mesmo impacto), que, como era previsível, houve cortes significativos à chegada… e que o Benfica vai ficar no ouvido dos espanhóis mas que vai sair de Castela-a-Velha (anterior designação desta região espanhola antes da divisão em comunidades autonómicas) como entrou. A equipa portuguesa, que há-de apresentar-se mais vezes por Espanha, mostrou-se aplicada mas… pouco mais.

O que é que este comentário significa, realmente?

Basta perguntar ao Manuel Zeferino. A Maia que ele dirigiu em dezenas de corridas em Espanha também começou assim. Era uma equipa portuguesita, com algum sangue na guelra mas que dispensava cuidados de maior. Isto, é claro, nos primeiros anos em que a grande Maia foi presença assídua em terras espanholas. E assim continuaria a ser vista até que, até mesmo já na Vuelta, o comboio verde-e-azul assumia as despesas no trabalho de perseguição e imprimia um ritmo tal que, e eu testemunhei presencialmente isto, alturas houve que, no Grande Grupo, outros técnicos tinham que mandar as suas equipas para a frente, mais para evitar que fosse a Maia a fazê-lo do que para caçar, de facto, os fugitivos do momento. Mas isto levou dois ou três anos a acontecer.

O Orlando Rodrigues é uma pessoa que muito admiro – o que vai muito para além do facto de ter nascido no mesmo dia do que eu… ok, dez anos depois! -, teve uma experiência sensacional (não me cansarei de o dizer: mal ajuizada pelos portugueses, Imprensa à frente, é evidente) e sabe muito do como se corre em Espanha; de como se corre no Grande Pelotão.

Esta foi apenas a segunda corrida que o Benfica fez no país vizinho – e apenas a quarta, esta temporada – e muitas coisas terão ainda que ser limadas. Para além do Orlando, o Benfica conta também com a experiência do Zé Azevedo. Ambos sabem que, principalmente em Espanha – o Manel Zeferino que o diga –, se não se arriscar um pouco, é difícil que venham ser levados a sério. Daí, eu não me importar nada mesmo de, no que pode parecer um passo à rectaguarda, aceitar que o esforço feito nas segunda e terceira etapas possa ser justificado.
Não é um passo atrás. De todo.

A tirada de hoje era a chave da corrida. Toda a gente saberá que, em corridas com montanha do nível de uma Navacerrada… as etapas para discutir ao sprint servem apenas para fazer publicidade e… lá está, o Benfica forçou a Comunicação Social a falar no seu nome.

Em termos desportivos, como eu escrevi ontem, foi um desperdício de energias o assumir, praticamente sozinho, as despesas das perseguições à fuga do dia. Mas o Benfica conseguiu dois segundos lugares. Ainda por cima, e isto potencia o feito de Benitez… atrás do mesmo corredor.
Quem fizer uma leituta honesta do que aconteceu tem, obrigatoriamente, que chegar à mesma conclusão: neste pelotão, só Fran Ventoso é mais rápido que Javier Benitez.

E parece que já estou a fazer o balanço final da corrida porque, e como já ontem referi, amanhã estou de novo condicionado (por causa de mais exames médicos a que estou a ser sujeito) a não poder ver a etapa, logo, de ter que atrasar este meu exercício com o qual venho, ao mesmo tempo, tentando não perder a roda em relação à actualidade, e… matando o vício de escrever.

E termino. Um lugar entre os 20 primeiros – e atendendo à qualidade deste pelotão - não é, de todo, desprestigiante para o Benfica.
Mas não é famosao também.

Andar na frente da corrida 40 quilómetros para depois ficar em segundo… condiciona o destaque que, provavelmente, a equipa mereceria, mas é assim na estrada e é fazendo experiências que se podem tirar ilacções para o futuro.

E termino mesmo com um sublinhado especial.
Naquelas duas etapas que vi, o Zé Azevedo foi o que mais vezes apareceu no comando do Grande Grupo; hoje foi o melhor classificado da equipa, na única etapa realmente selectiva.

Ainda estamos muito longe de Agosto, o Zé vai ter que apalpar ainda mais o seu momento de forma, vai ter que atingir um primeiro top para, depois de um natural abaixamento, poder estar, como todos os objectivos da equipa o apontam, no seu melhor em Agosto.
O dia de hoje terá dado indicações preciosíssimas a esse respeito.

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