Normal!
Parece-vos?
Sorte a de Nadal a de não ter escolhido o Ciclismo como profissão.
Sorte a dele, o facto do poderosissímo lobby da ATP (como o da Fórmula 1, como o da NBA) não permitir veleidades, nem a escribas a sério nem aos que pensam que o são. Uma coisa e outra.
Não sou particular fã de nenhum destes... desportos.
Mas tenho que lhe tirar o chapéu... doutor Fuentes!
PS: Não sei, mas não me admiraria nada se o Federer fosse (ou seja) cliente do mesmo médico que desenhava os treinos da Phonak, também ela helvética...
6 comentários:
Caro Sr.Madeira,
Aprecio em muito os seus conhecimentos (e experiência) sobre ciclismo e o facto de os partilhar e abrir um espaço para discussão dos mesmos.
Mas quando se mete noutros desportos...
Que toma o Nadal? Recuperadores, como tomam os ciclistas para sobreviver a três semanas de corridas? Bom, o Nadal bateu recordes de pouca permanência em campo, chegando a estar apenas 45 minutos em jogo nos quartos...
Se calhar tomou Testosterona para bater as bolas com mais força? Ou fez uma transfusão sanguínea para não fazer duplas faltas? Nandrolona para melhor a sua 'backhand'?
Quem viu o jogo, aliás, quem viu a época de terra batida, viu um resultado absolutamente normal. Viu uma preparação excelente de Nadal, ganhando em Monte Carlo ao Federer por 7-5, 7-5 (e quando alguém que percebe de ténis vê um duplo 7-5, vê bem o que aconteceu...); Ganhou em Barcelona; perdeu em Roma com Ferrero num jogo onde acusou o óbvio cansaço de duas semanas seguidas de jogos; recuperou para Hamuburgo onde ganhou novamente, se bem que com dificuldades contra Storace, Djokovic e Federer (7-5, 6-7, 6-3).
Em Roland Garros, o Nadal bateu o Belluci, numero 100, Devilder, qualifier, Nieminen, que tá a fazer uma época horribilis, Almagro (que fez um jogo vergonhoso, com 17 erros não forçados em apenas 7 jogos no primeiro set), Djokovic (grande jogo, o sérvio acusou algumas vezes a pressão, mas obrigou o Nadal a dar tudo no terceiro set) e...
finalmente...
o Federer.
O Nadal fez 147 jogos (não partidas) em Roland Garros, o Federer fez 202. O Nadal tenho ideia que tinha menos 2 a 3 horas de jogo. Para lá do factor fisico, quem viu o Nadal e quem viu o Federer via dois tipos de jogo diferentes: o Federer teve momentos de desconcentrações atipicas, com duplas faltas nos momentos decisivos, perder tie breaks e jogos a 7-5, etc.
Contra o Nadal, o Federer foi breakado pela segunda vez no quinto jogo e ... desistiu. Mentalmente desistiu. Bloqueou. Viu que ia perder pela quarta vez seguida com o Nadal. E isto no ténis, não no Federer, é normal.
Agora, tudo isto para dizer que: O jogo com o Nadal vs Federer foi normal, nos padrões do ténis. O resultado do jogo, era previsivel.
Além disso, e o doping? O doping dá mais resistência, não dá mais força na pancada ou mais colocação de bolas ou mais erros do adversário... Estamos a falar dos dois tenistas mais perfeccionistas da ATP, dois tenistas que estão à vários vários anos como Nº1 e Nº2. Estamos a falar de um Nadal ainda em franca evolução. Estamos a falar dos dois tenistas que menos tempo de jogo têm, menos torneios fazem, menos sets fazem, menos jogos fazem.
Faz-me sincera confusão alguns amantes do ciclismo falarem tanto de futebol e ténis e como estes têm pouco doping e o Fuentes e os lobbies e, e, e...
Comparar desportos técnicos, desportos onde a qualidade individual, o talento, o remate, o passe, a defesa, o corte, a pancada, o serviço, o slide com um desporto quase puramente físico como o Atletismo e Ciclismo é irracional. É normal haver pouco doping no futebol e ténis porque, simplesmente, não é preciso.
Caro Vasco,
em primeiro lugar, bem vindo a este despretencioso espaço;
depois, é sempre (para mim) um prazer poder ler quem sabe sobre o que escreve, e escreve bem.
Claro que não foi inocente a associação que fiz entre o Nadal e o dr. Fuentes. O primeiro é cliente do segundo. Ponto final.
Quanto ao facto de, para si, os tenistas serem "inteligentes", logo dispensarem o recurso a métodos ou práticas não recomendáveis, não tem nada a ver.
Se vamos entrar pela via da "inteligência", que dizer dos casos de doping no xadrês?
Joga? Nem que seja por puro passatempo? Deve ser a "modalidade que mais exige, em termos de intelecto. Aquelas cabecinhas podem não ter que decidir, como acontece no ténis, numa fracção de segundo para que lado hão-de bater a bola, se o fazem em força ou, pelo contrário, decidem nessa fracção de segundo que um amorti vergará o adversário.
Mas deve saber que, não será numa fracção de segundo, mas é-o, certamente, em muito poucos segundos conseguem "visualizar", antecipando-as mentalmente, uma dúzia de jogadas diferentes, suas e do adversário, de forma a escolher aquela que lhe dará maior vantagem, naquele momento.
Sei que não foi sua intenção, mas porque é que pensa que os Corredores não são inteligentes?
Curiosamente, e com o seu comentário, dá-me a oportunidade para escrever o que é a grande e incontornável verdade, todos os amantes de uma modalidade (qualquer uma) em particular, "recusam" admitir que as suas estrelas possam recorrer a produtos, práticas ou métodos à margem da Lei. Neste caso, recorrer ao doping.
E todos, se atiram como "gato ao bofe" aos amantes do Ciclismo que ousam pensar exactamente da mesma maneira.
Simplificando, toda a gente acha, de facto, que o mal do doping "mora" no Ciclismo.
O que é rotundamente falso e tremendamente injusto.
Os exemplos que deu, é evidente que não se aplicam aos tenistas. Mas até mesmo no Ciclismo o "tratamento" varia consuante a especificidade do atleta. E a um trepador não será administrado o mesmo que a um sprinter.
O drama - para mim é um drama - é que os Corredores de ciclismo são incomparavelmente - ok, dou de barato que no futebol , porque há mais jogadores do haja mais controlos -, mas o Ciclismo, em termos percentuais é, de longe, a modalidade mais controlada, logo, aquela onde mais casos são conhecidos.
Que em todas, repito: em todas as modalidades de alta competição é quase impossível não acontecer o tal recurso a produtos, práticas e métodos proíbidos, disso eu não tenho a mínima dúvida.
E que o Rafael nadal é cliente do dr. uentes também não. E que várias equipas de futebol, em Espanha, também o são.
E que há lobies fortíssimos que conseguiram branquear este facto, ao mesmo tempo que o Ciclismo foi devassado na célebre Operación Puerto, também não tenho dúvidas.
Caros senhores
Logo depois de a Operação Puerto se ter tornado pública, o director da Guarda Civil espanhola foi claro: Fuentes tinha como clientes profissionais do ciclismo, do futebol, do ténis e do atletismo.
Os nomes de ciclistas foram parar à praça pública, mas o resto permaneceu oculto. Será que foi para esconder os nomes dos outros profissionais que, de repente, o processo se começou a arrastar na justiça? Não se sabe, mas uma coisa é certa: o poderio do futebol é tal que Barcelona, Real Madrid, Valência e Bétis conseguiram a proeza de vergar o Le Monde e obrigar o jornal francês que mais tem denunciado o doping e recuar e a pedir desculpas em relação ao artigo em que denunciou as ligações entre estes clubes e o Fuentes. Isto apesar de o jornalista ter dito que escreveu o artigo com base em notas do próprio Fuentes (não precisava de dizer, para perceber isso bastava ler o artigo e ver que era acompanhado de uma entrevista com o Fuentes).
O Le Monde recuou, o Fuentes deixou de dizer que teve clientes noutros desportos que não o ciclismo, tudo depois das ameaças dos clubes de futebol. Coincidência? Não creio.
É fácil dizer que o futebol ou o ténis têm pouco doping. Quando não se procura correctamente, não se encontra nada. Exemplo: a federação de futebol inglesa andou anos a dizer que a Premier League não tinha doping, porque fazia imensos testes e os poucos positivos eram causados por drogas sociais; a credibilidade desta alegação caiu por terra quando uma investigação da BBC descobriu que a maior parte das análises só incluía despiste de drogas sociais, não de dopantes, e que os clubes sabiam antecipadamente quando havia controlos “surpresa”.
E quando um mau sistema anti-doping detectada casos positivos, há quem se apresse a abafá-los. Foi o que fez a ATP entre 2002 e 2004, quando detectou níveis elevados de nandrolona a 47 dos 120 tenistas de topo. Foi Greg Rusedski, um dos poucos em que a acusação foi conhecida, que tornou públicos estes números.
Entre Agosto de 2002 e Maio de 2003 houve sete casos de doping por nandrolona, mas só Bohdan Ulihrach, que estava fora do top 100, foi punido, com dois anos de suspensão. Os processos restantes foram concluídos em apenas cinco meses, quando costumavam durar pelo menos um ano, e todos acabaram em absolvições. Argumento: os técnicos do torneio distribuíram bebidas e suplementos contaminados. A pressa para encerrar os processos foi tal que quando as análises aos suplementos contaminados foram concluídas já nada havia a fazer.
Mas, curiosamente, estas análises não encontraram qualquer contaminação: segundo a Agência Mundial Antidopagem (AMA), o laboratório anti-doping de Colónia testou mais de 500 comprimidos que restavam do lote de suplementos que a ATP dizia estar contaminado, mas não encontrou nada. E a própria ATP reconheceu à AMA que as identidades analíticas encontradas nesses 47 casos continuaram a ser detectadas meses depois de os suplementos terem sido retirados do circuito.
A denúncia deste encobrimento consta de um relatório da AMA e de um livro escrito pelo tenista sueco Magnus Norman. no livro “Tennis Off the Record”. A teoria dos suplementos contaminados foi lançada por um advogado de um dos tenistas e a investigação interna da ATP limitou-se a seguir essa teoria e a aplicá-la sem que esta tenha sido devidamente fundamentada em dados científicos e discutida em tribunal.
Pior: o argumento da contaminação serviu para absolver Rusedski num controlo positivo registado dois meses depois de o circuito ter deixado de fornecer aos tenistas os suplementos que afinal não estavam contaminados.
Há muitos pés de barro em todas as modalidades, não apenas no ciclismo ou no atletismo. Estas duas podem ter problemas mais graves, mas esta teoria só será comprovada quando todos os desporto estiverem ao nível dos sistemas anti-doping destas modalidades, o que claramente não estão.
E dizer que nos desportos técnicos os jogadores não extraem ganhos do doping é pura falácia. Olhe-se para os quilómetros percorridos por futebolistas de um meio-campo de qualquer equipa de topo: correm tanto por jogo como um maratonista e ainda são expostos a piques de velocidade e a confrontos físicos com outros oponentes. E se os atletas de disciplinas técnicas do atletismo usam anabolizantes para ganhar massa muscular e força o que é que impede os tenistas de fazerem o mesmo?
Cumprimentos
Obrigado Duarte, não por teres uma opinião semelhante à minha, mas pelas explicações. Diz quem sabe!...
É inegável a veracidade dos factos apresentados. Resta-me agradecer a disponibilidade de ambos em comentar o meu comentário, passe a redundância.
De qualquer forma, mesmo que possa haver certo branqueamento nos resultados de outras modalidades, penso que, mesmo assim, é absolutamente normal haver mais casos de doping em desportos muito mais físicos do que técnicos, como referi. O exemplo do xadrez é feliz, de facto, qualquer desporto é passível de uma ajuda extra-competição. Mas assim como o xadrez é um bom exemplo, o benefício do doping não é tão determinante como numa corrida de 400 Metros, visto que ter mais ou menos capacidade intelectual, ou frescura cerebral, não irá determinar se saberá ou não as jogadas necessárias para vencer.
Reforço o meu agradecimento, temperando a minha opinião em relação à reduzida existência de doping noutras modalidades, contudo, tenho de manter a minha opinião: dar a ideia que Federer e Nadal estão dopados é arriscado. São os dois melhores tenistas do século XXI.
Eu nem sequer falei em dopados. Apenas sublinhei que o dr. Fuentes está a fazer um bom trabalho. Bom, desde que não seja com Corredores, porque aí, e mesmo sem nada provado, são todos e de imediato catalogados como... dopados.
Estou farto de escrever que se foi a própria UCI a exigir às equipas profissionais terem médicos a tempo inteiro, e se traçou um limite máximo para o nível de hematócrito, estava a deixar implícito que este até é passível de ser manipulado e, em nome da saúde dos atletas, o processo devia, deve, ser orientado por um médico especialista em medicina desportiva.
Onde é que, nisto que acabo de escrever, está algo que ninguém já não saiba há, pelo menos, dez anos?
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