segunda-feira, janeiro 01, 2007

380.ª etapa



REDUZIR O NÚMERO DE EQUIPAS PROFISSIONAIS

É, na minha opinião, a chave de todo o processo de regeneração do Ciclismo Português. E já vou explicar porquê.

Não vale – é que não vale mesmo – a pena termos equipas profissionais que, a muito custo – mas mesmo a mesmo custo – conseguem o mínimo (que é sempre muito menos que o mínimo exigível) de condições para se apresentarem no pelotão.

O termo profissional encerra, logo na sua definição, a ideia de qualquer coisa sólida.
Falando de equipas de Ciclismo, é indispensável que os projectos que as sustentam sejam de uma dimenção alargada. Três anos, no mínimo.

Porque, e isto não devia ser o menos importante, quando se apresenta uma candidatura a Equipa Profissional de Ciclismo está a envolver-se, no mínimo (pelo menos assim deveria ser), 20 pessoas. Vinte cabeças de família que, na rectaguarda, têm mais duas/três bocas para dar de comer, o que eleva o número de dependentes desse emprego a 60 almas. Não é coisa com que se brinque.

Hoje aceita-se tudo, porque o pouco que lhes é oferecido é melhor que nada.

Não tem que ser assim.
É preciso encolher a malhagem da rede por onde têm que passar. Só os que, efectivamente, oferecerem condições, como a tal condição de o projecto lhes garantir, pelo menos, três anos de continuidade, deverão passar. E depois há que estreitar ainda mais a malha.

Ordenados que não se limitem a ser o mínimo regulamentado (quando isto é respeitado), outros incentivos – e eu terei todo o gosto em explicar quais os que penso serem viáveis – que proporcionem engordar os proventos mensais, a garantia de que os corredores não vão ser explorados – em termos de competição – até ao humanamente quase impossível.

E não compreendem que nestas condições será muito mais fácil às equipas, pelo menos, lutarem por resultados mais sonantes? Com mais impacto, logo, dando maior visibilidade às marcas que, ao patrociná-las, lhes pagam os ordenados.

Mas, encolhendo a malhagem da ta rede pela qual todos os projectos terão de passar, não vai resultar numa diminuição de equipas?
É esse o objectivo.

E até digo mais, atingidos os primeiros resultados, essa malhagem deve apertar ainda mais, de forma a que, sair-se para a estrada como Equipa Profissional possa, todos os anos, oferecer ainda melhores condições aos seus empregados.

Claro que sei exactamente o que estão a pensar.
Com menos equipas – mesmo que elas sejam obrigadas a terem mais 4 corredores cada – vai haver menos lugares disponíveis para serem preenchidos por aqueles jovens que, atingida a idade limite para serem sub-23, se apresentarão como candidatos a profissionais…

Ora, é exactamente isso que, actualmente, está mal no Ciclismo Português.
É os jovens vindos da formação, que culmina com o estágio de dois anos (pelo menos) nos sub-23, não terem como prosseguir as suas carreiras.
E o que aconteceu entre nós nos dois últimos anos é totalmente enganoso.

Houve mais oportunidade para os jovens vindos dos sub-23 porque, dadas as circunstâncias, ficaram mais baratos do que ir buscar elites a Espanha.
E o facto de haver 30 ou 40 candidatos para 10 ou 12 vagas ajuda a que sejam obrigados a aceitarem condições abaixo do mínimo que seria justo.

A chave para descodificar tudo o que atrás escrevi está na solução que, acho eu, proporcionará a uns (aos jovens vindos dos sub-23) a possibilidade de progressão na carreira – uma progressão natural e racional – e permitirá, por outro lado, que muitos dos projectos que hoje só surgem porque estão a limitar as cotas mínimas de exigência ao… mínimo, poderem, também eles, continuar a ter o seu lugar no pelotão. Sem serem profissionais.

É que há um escalão, natural, e que existe em todos os países, excepto em Portugal, que temos vindo a ignorar. Ora, recuem um pouco na leitura e reparem quando digo que, nos dois últimos anos tem havido mais lugares para os jovens portugueses vindos dos sub-23, porque são mais baratos que os Elites espanhóis…

É isso mesmo! Temos vindo a ignorar esse degrau natural que são as equipas Elite.
Do zero quer-se imediatamente dar o alto para os Profissionais e o salto é de tal forma grande que a maioria dos projectos se estatela ao comprido. E muitos nunca mais se levantam.
E porque é que não há Elites em Portugal?
Porque não há calendário? Mas há! As corridas .12 são para Elites, não para sub-23 que estes são arrumados nas .13.
E, não há equipas porque não há calendário, ou não há um calendário melhor porque não há equipas? É que, mais de metade das organizações actuais mostram, todos os anos, que não têm qualidade para montar corridas para além do escalão Elite.

Mas, se está tudo errado, e pelo mesmo motivo, porque é que não se redefinem objectivos e exigências? Não, não é tão difícil assim. Haja vontade para o fazer e vão ver como, reestruturado, o nosso Ciclismo evoluirá a partir de uma base muito mais sustentada.

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