sábado, janeiro 27, 2007

412.ª etapa


NÃO PODE SER SÓ UM SONHO

Não sei se algum dos meus amigos que habitualmente visitam este sítio leu o trabalho, apresentado hoje no semanário Sol (suplemento Confidencial), sobre o que o acolhimento do Rally de Portugal vai render, em dinheiro, sim, ao Algarve.

E não se trata de uma trabalho meramente empírico. É baseado num estudo levado a cabo pela Universidade do Algarve, logo, marcado por um elevado grau de credibilidade.

Eu, que nem sou nem deixo de ser adepto do desporto automóvel (não gosto, pronto!, e por isso, fora a obrigação profissional de o noticiar, normalmente passa-me ao lado) quedei-me a ler as duas páginas, “lendo” corrida onde estava rali, “lendo” ciclismo onde estava automóvel… Não sei se me faço entender.

Para além da análise aos números – incontestáveis, apesar de serem apenas previsões –, do trabalho constam quatro depoimentos de quatro pessoas com reais conhecimentos dos assuntos de que tratam. E todos eles me elucidaram, mais… cativaram, com as suas “leituras”.

E eu sempre a “ler” ciclismo no lugar de rali.

Claro que não sou completamente “tonto”. Apesar de tudo, sei que uma corrida de Ciclismo não terá nunca a projecção de uma prova que volta a contar para o respectivo Mundial, e há ali números impossíveis de comparar. Mas também os há passíveis de serem comparados.

E, por muito que ache a Volta ao Algarve uma corrida bastante interessante – ao qual não é alheio o facto de ser a única em Portugal que consegue ter um pelotão “parecido” ao de uma larga fatia das muitas corridas internacionais que vamos vendo pela televisão – com ela parece-me difícil chegar perto destes números mas…

… mas, e isto não é novidade para quem me lê habitualmente, enquanto ele existir – e apesar de tudo o que tenho escrito – acho que Portugal devia ter uma corrida do ProTour. A ser imediatamente substituída por uma de Categoria Extra (HC, que quer dizer, exactamente aquilo: Hors Categorie) à qual possam acorrer as principais equipas do pelotão internacional e com as suas principais figuras.

Não quero “matar” a Volta ao Algarve… Não, antes pelo contrário. Nada impediria que a “Semana Algarvia”, como de quando em vez lhe chamo, fosse essa mesma corrida para vermos o pelotão internacional.

Os argumentos seriam os mesmos. Há bom tempo no Algarve, muito antes de as temperaturas subirem e o sol brilhar num céu azul em qualquer outra parte da Europa Central e do Norte – haveria que contar com a “concorrência” de outras zonas do Sul europeu –, há uma excelente capacidade hoteleira, as estradas não serão todas “pistas”, mas o Ciclismo de estrada faz-se nas estradas que há… e para pista há uma vertente própria no Ciclismo. E há uma outra coisa que alguns de nós já perceberam, mas ainda há muitos que se mantêm teimosamente relutantes.

O quê? Pois, exactamente na ideia que hoje, no Sol, vi todos a defenderem: a utilização (no caso de hoje) do Rally de Portugal como meio de publicitar o Algarve, Região, em todo o mundo. Não só através das imagens da televisão, mas também com o “passa-a-palavra” dos que cá vêm, sejam participantes ou simples adeptos que não deixam de se deslocar para verem a prova ao vivo.

Quando falo em participantes, claro que não me refiro exactamente, nem aos pilotos e seus navegadores, no caso do rali, nem aos corredores, numa corrida de Ciclismo. Mas, nas várias equipas há sempre gente que, entre uma “especial” e outra, entre uma etapa e outra, têm oportunidade de ficarem a conhecer melhor a região.

Aqui não há diferenças entre automóveis e Ciclismo. Fica-se a conhecer os (bons) hotéis, as magníficas paisagens – de autêntico “bilhete-postal” – quase sempre com o mar ao fundo e, apesar de não ser tempo de ir a banhos, pode-se sempre voltar mais tarde. E a gastronomia…

E há a Comunicação Social. A televisão é fundamental, mas a imprensa também tem o seu papel. E os jornalistas também servirão de “mensageiros” no tal “passa-a-palavra”.
Numa palavra, eventos destes têm sempre que ser vistos como um investimento, ainda por cima bastante seguro, e que, para os levar a cabo vale a pena fazer-se algumas contas. Principalmente, e repetindo-me, ter a visão suficiente para, no “assentar” do dinheiro dispendido não o colocar na coluna dos “gastos”, mas sim na dos “investimentos”.

Curiosamente, e relativamente ao rali, não encontrei, nos depoimentos recolhidos, quaisquer espécie de dúvidas. Com a devida vénia, respigo para aqui os títulos das quatro peças.

«Eventos são aliados da promoção»

– Bernardo Trindade (secretário de Estado do Turismo);
«Vamos fazer uma festa turística»

– Carlos Barbosa (presidente do Automóvel Clube de Portugal);
«Os ganhos compensam os apoios»

– Luís Patrão (presidente do Turismo de Portugal);
«Rali é bom negócio no Algarve»

– Hélder Martins (presidente da Região de Turismo do Algarve).

Olho para cima, na página, para o primeiro quadro.
Em relação aos quilómetros de prova, às equipas concorrentes, aos veículos, de assistência e aos outros – que vêm gastar da nossa gasolina, deixando cá muitos euros –, mesmo em relação ao número de agentes de segurança – que, no caso do rali, obrigam a uma despesa muito maior –, pessoas na assistência técnica ou pessoas da organização, é impossível uma comparação com o Ciclismo.

Mas, no que respeita à ocupação hoteleira… o rali ocupa 700 quartos; mas uma grande prova de Ciclismo, com 20 ou 22 equipas também não ocupa menos de 300/dia. Vezes seis dias, pelo menos, dá o interessante número de 1800 quartos durante uma semana de prova.
Certo que o rali trará mais visitantes, principalmente, mais visitantes que durmam em hotéis, mas o Ciclismo também traz. Não dormem em hotéis? Mas comem em restaurantes...
Diz, nesse quadro, que o rali será visto em 200 países, em transmissões televisivas em directo – a tal publicidade à Região que é quase… impagável – num total de 288 horas de cobertura por parte da televisão.

Mas eu falei numa Prova de Topo (ProTour, ou o que vier a substituí-lo) e, mesmo que não fossem 200, com a EuroSport, por exemplo – e porque é esta cadeia que mais Ciclismo televisivo nos dá – chegaria a mais de 50, estou certo. E quanto a horas de transmissão, se contássemos com três horas diárias, em directo, mais os resumos… repetidos em vários países e mais do que uma vez… daria quantas horas? Muitas, não é verdade?

Bem resumindo, num segundo quadro calcula-se o montante, em receitas directas, que vai valer o Rally de Portugal: mais de 27 milhões e 600 mil euros.
Depois haverá muito mais ganhos, com outras receitas provenientes de futuras visitas “decididas”, na altura, ou por parte dos que cá estiveram, ou por largas franjas de telespectadores, todos potenciais “clientes” do Algarve.


Mas isso também aconteceria se estivessemos a falar de Ciclismo.

O Rally de Portugal tem “venda” garantida nos OCS.
Mas uma prova de Topo, em Ciclismo, também o teria.

E, trocando apenas o presidente do ACP por alguém realmente interessado em fazer vingar o Ciclismo como extraordinário veículo publicitário, as outras três figuras atrás citadas diriam exactamente a mesma coisa se se tratasse de uma grande corrida de Ciclismo.

É que uma prova do tipo que referi seria sempre muito mais do que uma corrida de Ciclismo. Seria, no mais puro sentido da expressão, uma autêntica “montra” daquilo que o Algarve – ou qualquer outra região do País – tem para vender.

E a Organização, tal como os seus principais sponsors, oficiais ou institucionais, têm que perceber que há “pequenas coisas” que não podem, não devem e não podem, alinhar na “coluna” de despesas mas sim na dos investimentos.

Como vai acontecer já este ano na Volta ao Algarve. A sugestão da empresa do meu amigo Fernando Petronilho – que assumirá a Imagem e Comunicação de tudo o que se relacionar com a parte desportiva da prova – foram convidados todos os principais OSC dos países que vão ter cá equipas suas. Não se admirem se, daqui a três semanas houver mais jornalistas estrangeiros do que portugueses a cobrir a prova. E será, também através deles, que a “marca” Algarve vai chegar aos seus leitores. Que chegarão aos milhões.
Não é despesa, é investimento puro.

Por cá, a PAD/João Lagos Sports também já percebeu isso – em relação aos media nacionais – mas nem com convites os jornais (e não só, não só…) aparecem nas suas corridas.
Com a excepção da Volta para a qual, curiosamente, não há convites.
Eu gostava de perceber isto…

(Fotos: RTA)

2 comentários:

mzmadeira disse...

Caro Paulo, não foi, acredita-me, de propósito... tenho que ler tudo de novo para te responder, e, colocação de artigos à parte, tenho vindo aqui a fugir...

Vou responder-te, fica certo disso. Um grande abraço,
MJM

mzmadeira disse...

Pronto! Já respondi... confere lá. E diz de tua justiça.
Abraço,
MJM