393.ª etapa

ALEGAÇÕES FINAIS (PARTE 3)

E, em relação àquele quadro que apresentei, chegamos à parte de cima. Às Equipas Profissionais.
Não às falsas Continentais que – vá lá saber-se como (eu sei, eu sei…) – conseguiram adulterar por completo o espírito daquilo que, nos outros países foi quase a 100% respeitado.
Por isso, há dias atrás, eu escrevi que “há favores que não se fazem…”
Está dito!...
Não a essas. Mas às equipas que, no actual quadro da UCI, são classificadas como Profissionais Continentais.
As profissionais a sério. Disse-o e repito: as Profissionais a sério.
Que me desculpem os muitos amigos que tenho noutros quadrantes. Mas, no fundo, todos sabemos que eu tenho razão.

As Equipas Profissionais estão definidas para disputarem o Calendário Internacional.
Digam-me que Portugal é um país periférico e, logo, prejudicado nesse campo; que não é fácil (leia-se: barato) tentar sequer almejar a poder vir a fazer parte desse calendário.
Falta de ambição. Nada mais do que isso. Para ficarmos por aqui.

No futebol sabe-se que, para se participar nas competições europeias é preciso ter dinheiro para ir jogar onde o sorteio o mandar. Mas, apesar de tudo o que acontece no nosso futebol, ainda assim há quem aposte forte nesse objectivo. O de conseguir participar numa competição europeia. Pelas receitas que gere, antes de tudo, está bem claro. Não podem é contar com elas antes de lá chegarem. E não podem por de parte a possibilidade de serem eliminados à primeira. Logo, têm que prever no orçamento anual meia dúzia de deslocações que podem ser até à longínqua Rússia…
Coisa que não se põe no Ciclismo.

Ser-se Profissional implica poder apresentar-se, onde quer que seja, com o mínimo de dignidade. Mesmo que o orçamento fique por metade do da maioria dos adversários, o que é preciso é que a vontade de vender cara as eventuais derrotas prevaleça sobre qualquer outra parcela, na equação final.

Tenho que voltar a falar da Maia de 2001 a 2004.
Era a equipa mais barata – em termos orçamentais – de todas as do pelotão internacional, mas negar que teve prestações que ficarão para a história do ciclismo português é negar que, ao fim de muitos anos, esse mesmo ciclismo português foi, finalmente, reconhecido além fronteiras.
E é isso que urge recuperar quanto antes.

Aos que pretenderem falar sobre esta verdade inquestionável... é melhor que se cale quem não sabe. E alguns que sabem, o melhor é ficarem calados também. Porque há mais quem saiba. De todas as equipas portuguesas que andaram no pelotão internacional.

Este ano vamos ter o Benfica nesse tal pelotão internacional. Não se esperaria menos de um projecto que nasceu para abalar com o sistema vigente. E espero, sinceramente, que para o ano tenhamos mais dois ou três projectos com a mesma ambição.

Para correr só em Portugal, e tenho que insistir nisto, ser ou não Profissional é irrelevante.
Atentamos a isto de uma vez por todas: só se é notícia, em termos globais – e atenção que o Ciclismo deve ser das modalidades que mais noticiário tem, no suporte www – se se conseguirem vitórias no pelotão Profissional. E é-se mais notícia quanto menos conhecido é o país. É a ÚNICA coisa que temos a nosso favor.
Se um português, ou um corredor de uma equipa portuguesa, ganharem uma corrida do Circuito Europeu, o impacto será três, quatro vezes superior àquele que seria produzido pela vitória de um corredor, ou de uma das equipas que há muito andam nesse pelotão.
A novidade também é notícia. E é nisso que os portugueses têm que pensar. E estou a falar sob o ponto de vista da Imprensa estrangeira. Que uma vitória de um corredor português, ou de um corredor, mesmo estrangeiro, mas de uma equipa portuguesa, em Portugal será… arrasador em termos noticiosos.

E são estes espaços nos noticiários, seja de jornais, seja das rádios ou da televisão, que têm que ser tidos em conta como o caminho mais directo para a contabilização do retorno do investimento dos patrocinadores.

Volto a citar aquele amigo com o qual troquei algumas ideias – mas como ele, até hoje, não me disse que podia citar o seu nome… não o faço ainda. Um ciclismo apenas para os portugueses vale, em termos de retorno, quase zero.
Qualquer empresa prefere oferecer mil quilos de bacalhau para serem atribuídos na Montra Final do Preço Certo, sendo que, falando nela todos os dias, os riscos de que podem vir a ser mesmo entregues são de 1 para 7.

Às empresas portuguesas não interessa a participação em provas além fronteiras das equipas que patrocinam? Isso é tão falacioso como o dizer que no Alentejo neva de Novembro a Março.
Quem não sabe o que é o Alentejo compra sem pestanejar… mas quem lá nasceu, ou lá vive, sabe que é uma perfeita pantominice.

O que acontece é que, para ter a equipazinha suficiente para garantir os empregozinhos da praxe, se se precisa apenas de 100 pede-se 150 e se o patrocinador der 110 já há 10 de ganho.
Não me desmintam!

Claro que pretendo desmontar a ideia de que as equipas portuguesas não se apresentam lá fora porque os patrocinadores não estão interessados.
Mais… e isto ninguém pode mesmo tentar desmentir, há quatro ou cinco anos atrás chegámos a ter sete equipas na II Divisão e três na III. No ano imediatamente a seguir passámos a ter dez na III. Porque, se para ser de II era preciso um orçamento de 500 mil… pediam-se 400 mil para ter 350 mil e, com uma equipa de III, desses 350 mil sobrava muito.
Claro que não sobrava. Era distribuído de forma a satisfazer as… necessidades.

Esta parte foi para tentar demonstrar que sei que houve muita mentira no Ciclismo português nos últimos anos. Mentira essa que sou capaz de catalogar como lesa-Ciclismo. E que aconteceu com a conivência de vários estratos do mundo ligado ao ciclismo.

Isso é para erradicar.
De uma vez.
Para isso é preciso que a Federação Portuguesa de Ciclismo defina regras suficientemente selectivas para que uma equipa se inscreva como Profissional.
Porque, no interesse do Ciclismo Português, não nos interessa ter mais do que duas ou três… Vá lá… quatro.