sábado, janeiro 06, 2007

394.ª etapa



A TAL “EQUIPA DE TOPO”

A ideia era a de formar uma equipa de Topo que albergasse os melhores corredores portugueses, não sendo possível por de lado a hipótese de se reforçar com corredores de outras nacionalidades. Não é possível. Ora, os corredores portugueses estão distribuídos pelas várias formações nacionais. E, se num negócio bem conduzido até poderiam ser mais ou menos pacíficas as “recuperações” do Sérgio Paulinho e do Hugo Sabido… como ir buscar o Zé Azevedo ou o Sérgio Ribeiro ao Benfica? Equipa que tem os seus próprios projecto e objectivos e que teria todo o direito de dizer não… não cedo corredores.

Não estamos a falar de uma Selecção Nacional para disputar os mundiais, já com a temporada portuguesa acabada. Mas a ideia não foge muito a essa de Selecção.

Contudo, reconheçamos que não é também impossível. Há uma equipa, bastante forte, em termos económicos e, cumprindo-se este pressuposto, não lhe seria difícil ter os melhores corredores.

Até porque acho impossível por isto a andar num ano. Logo, as coisas coincidiriam com o final de contrato que a maioria dos corredores têm com as actuais equipas.

A Associação de Equipas tinha um papel importante a desempenhar em tudo isto porque seria necessário, acho que ficou explicado, defender os interesses destas. Uma maneira era a de o Grupo Económico que viesse a patrocinar a equipa de Topo desse também algum dinheiro à Associação de Equipas. Seriam, através desta, ressarcidos eventuais pedidor de indemnizaçãom por parte das equipas.

Mais, seria importante conseguir, a partir de quotas, estilo quotas para o Sindicato – e aqui entra a Associação Portuguesa de Corredores Profissionais – a forma a arranjar-se um fundo, fundo esse que também teria um objectivo prático.

Como disse na ideia original, a equipa de Topo levaria os melhores atletas portugueses, escolhendo-os em função… das funções que deveria vir a desempenhas na equipa. Dois/três chefes-de-fila – para tentarem ganhar corridas –; dois/três sprinters, para tentarem ganhar etapas; dois/três bons trepadores, com o mesmíssimo objectivo, mas quando as etapas acabassem em alto… sete/oito bons co-equipiers

Essa equipa – e tomando como exemplo o actual ProTour – teria que ter, pelo menos 27 corredores, como disse.
No contrato entre o “dono” da equipa e a Associação de Equipas ficaria explícito que a primeira se obrigaria a uma renovação anual de 1/3 do plantel.
Porquê?
Porque todo este trabalho que venho a apresentar visa, antes de mais, oferecer, não aos que já cá estão, mas a todos os jovens que venham a escolher ser corredores, a possibilidade de terem à sua frente uma série de degraus a subir, objectivos a cumprir, sendo que o degrau mais alto era esta mesma equipa de Topo.

Até às Elites (não-profissionais) creio que já está tudo explicado.
Depois, haveria aqueles que mais se destacassem a ter a oportunidade de poder vir a ingressar numa das equipas profissionais. E acho que a existência destas é tão, ou mais importante que a criação, ou revitalização daquela categoria de Elite. Esta serviria para que jovens com 24 anos não fossem “obrigados” a desistirem de ser corredores, aquelas para que os melhores naquele escalão pudessem ter em aberto um corredor de progressão na carreira.

Pode parecer complicado mas não é.
Vou voltar a princípio.
Até aos sub-23 as coisas correriam como até agora. Os que mais se destacassem atrairiam o interesse das equipas Profissionais e dariam o ambicionado salto; os que só poderiam ser segunda escolha – até, pelo que referi, terem sido obrigados a um papel secundário nas equipas sub-23 (que querem somar vitórias e escolhem os seus “pontas de lança”, e quanto a isto ninguém tem nada a opor) – eram dados ainda, pelo menos, mais dois ou três anos nos não- profissionais para mostrarem o seu valor…
… e ficava entregue às equipas profissionais a representação do País nas corridas – volto a usar o statuos vigente – do Circuito Europeu.

Também elas teriam de ver, como parte do trabalho que estariam a desenvolver, que tinham a responsabilidade de representar Portugal. Mas deixávamos-lhes um pouco mais de espaço de manobra dentro do qual poderiam operar.

E chegávamos à equipa de Topo.
Esta tinha que ter os melhores corredores portugueses – mesmo que fossem necessário dois ou três reforços estrangeiros, e não era por aí que o gato ia à filhóses… – mas obrigava-se a renovar, num terço e anualmente, o seu plantel.

O que é que isto traz de revolucionário? A não interrupção da normal progressão na carreira de qualquer corredor.

A equipa de Topo tinha 27 (ou 30) corredores.
A gestão deste grupo de trabalho era – e não seria negociável outra opção – feita pelos seus directores-desportivos. Contudo, chegados ao final da temporada, mandava o mercado. Haveria de haver corredores portugueses que eram cobiçados por outras equipas mais fortes. Não se lhe cortavam as pernas, claro que não. Haveria de acontecer que alguns dos corredores estrangeiros que haviam representado a equipa, ou porque tinham outros convites, ou porque não tinham cumprido o que deles se esperava… também eram colocados no mercado. A novidade viria a ser a de que, desde o princípio, os directores-desportivos da Equipa “Portugal” já sabiam que tinham de estar preparados para abdicarem de um terço do plantel. Se calhar até nem era preciso tanto. Haveria de haver corredor em final de carreira… e as tais possibilidades de cobiça de corredores por outras equipas e, no meio disto tudo, alguns insatisfeitos que prefeririam procurar outro rumo.

O que tinha mesmo que ser respeitado era que, entre os PORTUGUESES que, na época anterior, fosse ao serviço das equipas profissionais, fosse ao serviço das não-profissionais, tivessem justificado uma oportunidade na equipa de Topo, desde que cabendo no tal numerus clausulos de um terço do plantel renovável… viriam mesmo a ter a sua oportunidade.

E passamos à outra questão… e o que vinha a acontecer aos nove, ou dez, corredores que deixavam de caber na equipa de Topo? Era para isso que serviria o protocolo com os investidores dessa equipa topo. Esses nove ou dez eram dispensados – para dar lugar a outros tantos – mas teriam garantida a colocação no quadro de equipas profissionais. A não ser que abandonassem por ter chegado a hora de por fim à carreira.

E como é que se punha, sem se chegar ao extremo de um corredor que se sentisse injustiçado levasse o caso ao Tribunal de Trabalho – sendo que a decisão dos directores-desportivios, escudada naquele pré-acordo de que isto haveria de acontecer, haveria de ser inatacável – mas o que se faria, para evitar mal-estares, era recolocar os corredores nas equipas Profissionais existentes. Que haveriam de perder corredores para a equipa de Topo.

E surge a questão dos ordenados.
Imaginemos que um corredor de pelotão – não os chefe-de-fila – ganhava 3000 euros mês na equipa de Topo. Era dispensado. Colocado numa equipa Profissional, esta não lhe podia pagar mais do que 1200 euros.

Ok, durante a época, uma percentagem dos vencimentos dos corredores da equipa de Topo era descontada para um fundo – que poderia ser gerido pela APCP – e desse fundo sairia a verba para que o ordenado de 1200 euros pudesse vir a ser de… 2000 euros. Isto no primeiro ano após a “despromoção”
Pronto, o corredor passava a ter um vencimento mais baixo mas, provavelmente, até acima de alguns dos companheiros na nova equipa. Era assim como que um “prémio de reconhecimento” pelo facto de ter representado Portugal ao mais alto nível.

E este ciclo ia-se repetindo, ano após ano…
Dos trinta, os dez com menores prestações era “despromovidos”, isto ao mesmo tempo que, nas equipas Profissionais – e não só – os corredores com mais capacidades viam, na possibilidade de ganhar um lugar na equipa de Topo recompensados todo o empenho e dedicação que tinham posto ao serviço da equipa que vinham a representar.

E ninguém podia obrigar ninguém a vir a representar o País naquela equipa de TOPO.
Um corredor do Benfica, depois de uma época extraordinária, resolvia que queria permanecer no Benfica e… nada a fazer. Ficava.

Claro, e isso ficou implícito, que as equipas Profissionais existentes à altura não poderiam mais almejar chegar a equipa de Topo. Essa já existia, representava, não um clube, não uma marca, não uma região… representava Portugal.

Num resumo mesmo resumido – e para concluir este trabalho – os que se iniciavam como praticantes de Ciclismo tinham, se viesse a provar que eram de facto bons, toda uma escadaria perfeitamente definida que teriam de galgar e os que só tivesse mostrado ser assim-assim, não era obrigados a abandonar as bicicletas porque poderia continuar no pelotão de Elites.

Haveria lugar para três ou quatro equipas profissionais que disputariam o Circuito Europeu. Chegar a equipa portuguesa de Topo não seria, obrigatoriamente, o único horizonte para onde olhar. Qualquer equipa do pelotão mundial poderia aparecer e oferecer melhores condições. Mas haveria de haver uma equipa portuguesa de Topo na qual desaguariam, em condiçõs normais, todos os sonhos e projectos traçados aos 15 anos.

Esta equipa de Topo estaria nas grandes corridas. Como os corredores portugueses não são, nem têm que ser, inferiores ao demais, haveria de haver algumas vitórias para as nossas cores. Algum, ou alguns corredores haveriam de ganhar mais do que uma vez… E tornavam-se no ídolo pelo qual todos sonhamos, dando mais vontade aos jovens de 15 anos em abraçarem a modalidade…
A partir de aqui é toda uma sequência de feito e efeito, da qual o Ciclismo português só teria a ganhar.

Sem comentários: