terça-feira, janeiro 02, 2007

383.ª etapa



SEPARAR AS ÁGUAS

Já terão lido com a atenção devida os três artigos anteriores. No ar, como se terão apercebido, ficaram dois pontos: como dinamizar aquela zona que acho fundamental, que é o Campeonato das Elites, e que equipas Profissionais queremos ter…

Porque é que, em Portugal, não há a Categoria de Elite? Porque, com o mesmo investimento podem ser Profissionais, ainda que apenas com o estatuto de Continentais UCI (não confundir com as Profissionais Continentais).

Como Continentais UCI, praticamente com os mesmos encargos, como disse, as equipas podem correr, no seu próprio país, as provas até à Classe HC (Categoria Extra), como a Volta a Portugal.
Podem também, numa cláusula de excepção, correr provas em Espanha, mas não são convidadas porque o pelotão espanhol é mais do que suficiente para as corridas que têm. Resta então a Volta a Portugal, o primeiro – e se calhar único – leit motif que justifica o facto de equipas apenas com o mínimo de condições (o que é muito pouco, em relação ao exigível) venham, ano após ano, a fazer um braço de ferro, esgrimindo argumentos facilmente rebatíveis.

Por exemplo, que ganha, efectivamente, um patrocinador por apostar numa pequena equipa do escalão profissional? Sim, em Portugal, que é de Portugal que estamos a falar.
A equipa, construída com pouco dinheiro – logo, com corredores menos motivados e aos quais, pelo que se lhe paga, pouco mais se lhes pode exigir – não consegue resultados.
Durante todo o ano passa completamente ao lado das notícias, nos media e reduz à Volta a Portugal todos os seus trunfos.
Para quê?

Este ano que acaba de terminar foi uma excepção – que muito gostaria de ver repetida – quando na Volta QUASE TODAS as equipas portuguesas subiram ao pódio. Assim:

LA-Liberty – 22 pódios
Carvalhelhos-Boavista – 10
DUJA-Tavira – 9
Barbot-Halcon – 3
Paredes-Beira Tâmega – 3
Riberalves-Alcobaça – 3
Maia-Milaneza - 2
Imoholding-Loulé – 1
Madeinox-Bric – 1

Claro que sei que, cada segundo de tempo de antena na TV é contabilizado como ganho… o que ponho em dúvida é se esse ganho em publicidade cobre, de facto, o investimento feito. Porque nas outras corridas, ao longo do ano, o que importa é quem ganha.
Os espaços nos jornais é pequeno, as rádios nacionais ignoram e a televisão – no sistema actual, com a produção a cargo dos organizadores – mostram são os patrocinadores das organizações.
Não me digam que o não tinham, percebido.

O que a CS dá… são os vencedores. Hellás!... Eis a chave.

E qual será a diferença entre aparecer na CS como vencedor de uma corrida Internacional ou de uma corrida caseira? Nenhuma!
Se houver mais corridas caseiras que internacionais, se nas primeiras o pelotão for muito mais equilibrado… há mais hipóteses de ganhar.
Não?
Claro que há.
Logo, mesmo que seja uma notícia pequenininha – e há maneiras de evitar que o seja – mais vitórias dão mais notícias; mais notícias dão maior retorno ao investimento feito.

Não cheguei à conclusão de que precisamos (mesmo) de um calendário nacional mais competitivo, com maior equilíbrio – logo, com mais hipóteses de variedade no que respeita a vencedores – por acaso.
Foi ouvindo os directamente implicados.

Quando há 4 anos a Maia tinha uma equipa talhada para o calendário internacional e chegou, pelo menos numa prova, a fazer 1.º, 2.º e 3.º, não só na classificação final, mas também em algumas etapas, levantaram-se as vozes dos responsáveis pelas outras equipas.
Que não era justo.
Claro que não era! Não era justo que equipas que não mereciam ser profissionais aparecessem no mesmo pelotão que a Maia.
A Maia não era o problema! As outras, sim.

A Maia, com os seus patrocinadores, investiam 500 mil euros que tinham que justificar. Os outros, com 40 mil euros, queixavam-se que a Maia ganhava tudo…

Isto despertou-me para uma realidade que ainda não tinha equacionado e que era tão simples quanto isto: partindo do dado adquirido de que a Maia não estava a mais no pelotão, então… só podiam ser as outras que não tinham arcaboiço para lá estar.

Como toda a gente tem direito a viver, só há uma solução: separar os verdadeiros profissionais dos outros. Que não andam cá exactamente apenas por desporto… mas é melhor que eu continue a dizer que andam cá… exactamente só por desporto.
Que a outra explicação seria fortemente penalizadora. Ainda que mais honesta.
Mas há situações em que mais vale ficar calado…

Creio, depois de tudo o que escrevi, que não restam dúvidas.
Tal como o gráfico, que deixei lá atrás, mostra, é preciso separar as águas.
Portugal não tem uma economia que nos permita ter nem 10, nem 9, nem 8 equipas Profissionais.
Quatro. Cinco, no máximo.
Como deixo explicito no quadro.

Mas as outras não têm que desaparecer.
E aqui recupero uma ideia anterior, da qual já falei.
Regionalizar as equipas. Nem mais!...
E regionalizá-las logo a partir dos patrocinadores.

As equipas do Algarve deviam ser apoiadas pela economia algarvia; devia haver empresas – nem que fossem várias, numa associação de vontades – que patrocinassem uma equipa no Oeste. O mesmo na Feira. Iden, iden, no Minho.
E porque não no Alentejo, ou nas Beiras, em Trás-os-Montes ou noutra qualquer região do País?

Uma coisa é certa. Se não temos empresas que garantam uma equipa verdadeiramente Profissional, numa dada região, então que ofereçamos a esse projecto a possibilidade de, sem deixar de estar no Ciclismo, o faça a um novo nível.
A tal categoria de Elite.

Iam fazer um calendário específico. Provavelmente não teriam a melhor das coberturas na CS de âmbito nacional… mas a CS regional também tem uma palavra a dizer.
E as Rádios Locais, e os Jornais Regionais que tanto gostam de aparecer na Volta a Portugal para se auto-promoverem… são veículos fundamentais para que esta ideia ganhe força.
Até porque as empresas que viessem a apostar no Ciclismo seriam… empresas regionais.
Mas alguém tem dúvidas sobre isto?

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