quinta-feira, janeiro 18, 2007

406.ª etapa


NA "GUERRA" ENTRE O MAR E A ROCHA
QUEM SE LIXA É O MEXILHÃO

Seis meses depois de a grande bomba - que foi o caso do positivo de Floyd Landis -, seis meses durante os quais, recnhecidamente, o Tour'06 não teve (não tem) um vencedor oficial, surge agora a segunda bomba. Oscar Pereiro terá, também ele, acusado poditivo. Não uma, mas duas vezes.

Fico confuso, confesso. Confuso e descrente. Não nos Corredores que, em relação a isso, não mudo de opinião: até provado o contrário, para mim são INOCENTES.

Confuso com o timming com que estas notícias vêm a público. Descrente em relação às autoridades sobre as quais recai a responsabilidade de, em tempo útil - seria bom que assim fosse -, descobrissem quem usou produtos ou usou práticas proíbidas com o fim de melhorar o seu rendimento. É a definição de doping.

Defendendo eu a presunção de inocência até que seja possível provar, sem margem de erro, que, seja quem fôr, é culpado, é evidente que tenho que admitir o período necessário a que as contra-análises sejam produzidas. Nunca será nada de imediato.
Mas, esperar seis meses - tempo durante o qual não foi possível resolver, em termos jurídicos, o affaire-Landis -, aparecerem agora estas notícias, é aquilo a que podemos chamar de passo de gigante para a desacreditação total do ciclismo.

E acho muito estranho que tenha sido um jornal francês a trazer estas notícias a lume. Não que seja pelo corporativismo. Um OCS francês não deveria pôr em causa a principal corrida do seu país que, por acaso, é tembém a maior do Mundo. Isso não.
Mas não deixo de ficar de pé atrás.

É estranho, muito estranho que, seis meses depois de ter sido anunciado que o vencedor, à chegada aos Champs Elisées, tinha sido apanhado num controlo anti-doping, não tenha ainda sido outorgada a vitória ao segundo classificado.
Isto é explicado com o facto de, seja lá por que meios fôr, o estadunidense conseguiu manter o processo em aberto. E - digo eu - arrisca-se mesmo a ganhar o braço-de-ferro. O facto de ter aguentado todo este tempo sem que a Organização tenha conseguido afastá-lo de vez, só fragiliza esta. Fragiliza e deixa, a cada dia que passa, com menos espaço de manobra. É perceptível a forma de defesa adoptada pelos advogados de Landis. O desgaste, lento mas terrivelmente corrosivo, em relação aos franceses.

E abre um precedente. Perigoso precedente.

Ora, tudo o que para trás já foi dito era mais do que suficiente para manchar, não só o Tour mas também as autoridades com a responsabilidade de zelarem pela verdade desportiva. Não era preciso esta notícia chegada hoje a público.

Então, seis meses - repito: SEIS MESES - depois do final da prova, e quando o segundo classificado, por mais de uma vez, já veio a público lamentar que estava, e cito: «Farto de ser o vencedor virtual...», seis meses depois... aparece a notícia de que Oscar Pereito TAMBÉM terá acusado positivo?
Bem... a partir de agora teremos que esperar, a todo o momento, que Andreas Klöden e a T-Mobile entrem em campo, reivindicando para si o triunfo no Tour...

Mas há ainda mais sombras neste processo todo.
Oscar Pereiro terá acusado positivo com um produto para o uso do qual tinha uma autorização especial. Mas isso não aconteceu só com Pereiro. Quando, ao escrever a Lei, se deixou aberta a porta dos casos de excepção, dever-se-ia ter logo previsto que por esta porta entraria muita gente. Uns com reais necessidades, outros nem por isso. Mas todos ao abrigo do mesmo chapéu-de-chuva.
E quem é que agora vai sacudir a água do capote?

Mas esta notícia - e lamento imenso ter de escrever isto, ainda mais quando na sua origem está um dos mais prestigiados jornais da Velha Europa - cheira-me a encomenda.
E lá vou eu parecer, outra vez, ser pró-corporativismo. O que não é verdade. Mantenho-me ao lado dos meus colegas jornalistas franceses que terão dado nota máxima à fonte da notícia - e só isso explicaria a sua publicação - mas, talvez porque vejo a coisa à distância e sem estar minimamente comprometido, cheira-me a esturro.

Primeiro: não é fácil a um jornalista ter acesso a processos deste tipo, a não ser que alguém os deixe escorregar por baixo da mesa; segundo... o segundo é o timming.

Quando o assunto Landis parece estar em banho-maria; quando mesmo Oscar Pereiro parece ter deixado de se lamentar... quem teria interesse em que o caso-do-primeiro-Tour-com-um-vencedor-dopado regressasse às páginas dos jornais?
Qualquer nova investida contra o estadunidense - e isto parece-me que é liquido - irá caír na pasta dos seus advogados de defesa. Não sei quem são, mas sou fã dos filmes estadunidenses sobre julgamentos e já tenho uma pequena ideia de que ali... vale tudo (dentro da Lei, claro, mas no sentido de apertar quem mostra qualquer coisa para ser apertada).
Não. Quem quisesse atacar a Organização do Tour não podia voltar a meter-se com Floyd Landis. Definitivamente, não!

O caso-Pereiro encerra em si, e no que, para já é do conhecimento público, algo de assombroso.

Então... a UCI, na elaboração dos regulamentos anti-dopagem aceita que existam casos de excepção; vários corredores - que não acredito que tenha sido apenas o Pereiro - fazem uso dessa prerrogativa, perfeitamente legal, à luz dos regulamentos (o que não quer dizer que concordemos com ela), isso é do conhecimento, quer da Organização, quer da UCI - e não vejo onde entra aqui a agência francesa da luta contra o doping - e só agora é que uma clara fuga de informação, com o seu que de tétrico porque parece ter acontecido, exactamente, na agência francesa de luta contra o doping, é que - repito: por não poder meter-se mais com Landis - acende a fogueira por baixo dos pés de Oscar Pereiro?

Mas quem é que tem interesse em meter-se, outra vez, com a Organização do Tour?
Quem é que anda em guerra com as organizações das Três Grandes?
Ah, pois é!

Se calhar chegou o momento certo para Victor Cordero, seria melhor, agora, que fosse Fulgêncio Sanchez, devolver à entidade com sede na Suíça o rótulo de mafiosos com o qual o senhor Patrick "puppet" McQuaid rotulou os países da Europa so Sul.

O grave, e que os simples adeptos entendam isso mesmo, é que quem está a arder na nesta fogueira da nova Inquisição, são os corredores.

PS: Quero deixar claro que a mim também me choca saber que - tal como aconteceu nos Jogos Olímpicos de Sydney (e não constava nenhum corredor numa lista que vi) - quase 60% dos atletas de Alta Competição sejam... asmáticos.

2 comentários:

mzmadeira disse...

João, Sydney foi prái... há oito anos... terei isso arquivado... mas não está aqui à mão. Pode ser que uma busca na Internet o ajude.

mzmadeira disse...

Caro MJAmaro... nunca foi meu objectivo fazer qualquer espécie de "branqueamento" em relação aos casos de doping no ciclismo. Tenho batalhado um bocado contra o diferente tratamento que um caso de doping tem, caso aconteça no Ciclismo ou noutra modalidade... por isso, há situações que me deixam abatido. E não defendo quem não merece ser defendido.
Por isso disse: que este foi mais um passo de gigante para a desacreditação total do ciclismo.
Quando se trata de "suícidio" torna-se muito mais difícil acudir à... "vitima".
E a gente cansa-se...