segunda-feira, abril 23, 2007

480.ª etapa


ALGUMAS NOTAS SOLTAS
SOBRE A “ALENTEJANA” – 1

A Volta ao Alentejo, que este ano comemorou as suas bodas de prata, já foi a segunda mais importante corrida do calendário nacional, quer fosse pela qualidade do pelotão, ou pelo número de jornalistas – eu sublinho… jornalistas – que, após a terem experimentado uma vez, nos anos seguintes faziam força junto das respectivas chefias convencendo-os que, de facto, estávamos perante uma corrida sem par.

Eu sou o exemplo (ainda) vivo disso mesmo. Com a preciosa colaboração do meu editor de então, n’A Capital, o José Manuel Delgado, apresentei-me em Beja, em 1995, para a minha primeira Alentejana e só falhei as duas últimas pelos motivos que os meus mais fiéis leitores já sabem. E nos anos seguintes bati-me sempre pela importância que esta corrida tinha e que, palpitou-me logo na altura, era premente preservar.

Como 25 anos já é um marco na história de qualquer evento, a organização da Alentejana pensou este ano em algumas iniciativas que, acredito, teriam como objectivo recuperar alguma da notoriedade que entretanto veio a perder. Para isso, alguns dias antes de a corrida ir para a estrada organizou uma Gala que, com uma única excepção, foi completamente ignorada pela CS de âmbito nacional. E, mesmo essa que foi a excepção não foi além de pouco mais do que uma breve. Ao mesmo tempo, foi lançado um pequeno livro que recorda a história da corrida, contada na primeira pessoa por vários dos que tiveram a oportunidade de a acompanhar. Também isso passou despercebido à maioria do público.

Houve, digo-o agora, tendo deixado assentar a poeira, como soi dizer-se, falhas de bradar aos céus em ambos os casos. E quem saiu a perder foi a Volta ao Alentejo.

Por exemplo, no livro – que me foi gentilmente oferecido pelo Armando Oliveira – há testemunhos de gente tão importante, no meio jornalístico, como Homero Serpa ou Guita Júnior. Homero Serpa, reconhece-se no livrinho, foi dos jornalistas que melhor soube contar o Alentejo. Não é para admirar, tendo ele sido um dos maiores, senão o maior, cronista de ciclismo que por cá tivemos. A BOLA foi agraciada com um prémio simbólico nessa tal Gala e que aconteceu? Convidaram o Homero Serpa? Não sei… Convidaram?
Não creio, porque ele não deixaria de ter estado presente.

E o Guita Júnior? E só falo destes dois porque, felizmente ainda vivos, são dois dos dinossáurios do jornalismo de ciclismo pela cartilha dos quais muitos de outras gerações aprenderam a gostar desta modalidade impar. E eu incluo-me entre eles.

Depois, na sexta-feira (será por ter sido dia 13?), em Beja, houve mais um jantar que visava homenagear os 25 corredores que, tanto quanto julgo saber, estão ainda todos vivos e de saúde. Quantos estiveram em Beja?
Sendo mais (im)pertinente ainda… a quantos foi endereçado o convite?

E junto de quantos dos que, tendo sido convidados e não responderam em tempo útil, foi feito um último esforço para os ter presentes?
E porque é que esse jantar não teve qualquer expressão nos OCS nacionais?
Há-de haver uma explicação.

O que tudo isto me sugere é que a “festa” foi feita para o umbigo.
Não foi assim que a Alentejana chegou ao estatuto de segunda prova mais importante do calendário nacional. Não foi.

Há uma corrente que defende a tese de que a internacionalização da corrida precipitou a sua descaracterização. Não quero crer nisso.
Por exemplo, porque é que em vez de se terem convidado gentes e figuras tipicamente alentejanas, incluindo os Grupos Corais e/ou Folclóricos (segundo as latitudes), a “animação” das partidas e chegadas foi entregue a… uma troupe circense? Porquê?

Para ouvir piadas do género (elevadíssimo, aliás) “ontem comeste no redondo. E bem fundinho”?...

Eu sei, porque ainda assisti a isso, que as últimas tentativas de presentear os convidados com uma mostra do que de melhor há no Alentejo, em termos de gastronomia, por exemplo, nem chegava a ser vista por todos porque os primeiros, nem que fosse às 10 da manhã, encostavam a barriga às mesas e limpavam, literalmente, tudo o que estivesse no raio de acção coberto por ambos os braços e, ainda o café com leite ia a meio caminho do estômago e já havia quem, com medo que se acabasse, vazasse copo de vinho atrás de copo de vinho. Dando uma ideia (triste) de esfomeados.
Para continuar a ser assim, ainda bem que acabou.

Mas, e não é pelo dinheiro que custa um jantar, que foi feito dos convívios – de que se fala no livrinho – que, ao fim da jornada de trabalho de TODOS OS QUE ACOMPANHAM A VOLTA reunia à mesma mesa os doutores e engenheiros (com ou sem diploma!...) e o pessoal que monta e desmonta os cenários das partidas e chegadas, com os jornalistas idos de Lisboa ou do Porto entre eles?

Foi nesse ambiente que se rendeu ao Alentejo gente que dessa terra sofrida apenas sabia que era vasto e quase deserto. E quantos não mudaram de opinião? E quantos não faziam tudo, ano após ano, para aí voltarem?

A Volta ao Alentejo não está a ser demolida do exterior. Está a ser vítima de uma implosão. O efeito é o mesmo, mas esta é bem mais odiosa que a primeira.

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