COM "PIADAS" DESTAS QUEM É QUE
OS PODE LEVAR A SÉRIO?
A rapaziada da minha idade deve lembrar-se ainda das gloriosas tardes das sessões-duplas nos velhos cinemas de Lisboa, como o Politiema, o Eden, o Monumental e o Satélite, Império e o Estúdio… o Royal, na Graça, ou o Paris, ali à Estrela, a caminho de Campo de Ourique.
Por 7$50 entrava-se na sala às 2 da tarde e saía-se às seis, com direito a ver dois filmes. Um deles era, inevitavelmente, uma cowboiada das antigas.
Vi tantos!...
E de tantos ver nunca mais me esqueci de uma frase repetida vezes sem conta, uma espécie de ditado popular, quando os bons se referiam aos maus e sustentavam que era preciso dar-lhes caça até os exterminar porque, diz o tal ditado, rattle-snakes don’t commit suicide.
Creio que já aqui usei esta expressão, embora, com certeza, num outro contexto. E voltei a lembrar-me dela ao ler uma notícia que hoje saiu no Record.
Um tal Ettore Torri, que parece ser o responsável, no Comité Olímpico Italiano (CONI), pela luta contra o doping disse uma baboseira de tal calibre que me puxou um sorriso.
Querem ver que as cascavéis, afinal de contas, sempre comentem suicídio?
Depois das declarações alegadamente produzidas pelo signore Torri, até os mais acérrimos defensores das mais impensáveis medidas de controlo sobre um universo de profissionais que só é descriminado por serem Corredores de Ciclismo, devem ter corado e desejado encontrar um buraquinho por onde se meterem.
Não foi um tiro no pé!, foi uma descarada tentativa de suicídio.
Abrir o leque dos controlos-surpresa às 24 horas? Isto é… vale tudo, vale sempre, sejam lá que horas forem?
Quatro e meia da manhã, um médico com insónias e sem nada para fazer lembra-se de… ah!, vamos lá fazer um controlo surpresa aí a um Corredor qualquer. E a meio da madrugada vai bater-lhe à porta?
O pior é que, segundo o texto, isso já aconteceu, embora a equipa visada estivesse concentrada em estágio. Mas imaginam o que é um Corredor estar deitado na sua cama, com a sua esposa, com os filhos pequeninos e a meio da madrugada serem acordados pela campainha da porta?
Aliás, voltando atrás… Ou eu não sei ler, ou o que é exigido é que os corredores, individualmente, forneçam às autoridades competentes, as suas moradas ou locais alternativos onde possam ser encontrados. Não li nada acerca de as equipas terem de anunciar que vão estagiar para aqui ou para ali...
Talvez em Itália a Lei seja ainda mais parva que a nossa.
Mas isto não anula o que pretendo dizer com este artigo.
É de loucos alguém, instituição desportiva, tribunal, seja o que for, achar-se com o direito de, a meio da noite invadir a casa de seja quem for.
Aliás!, nem a polícia, mesmo com mandado de busca e/ou prisão assinado por um juiz o pode executar entre as 20.00 (ou 21 horas) e as 8.00 horas da manhã seguinte. Não pode entrar nem em casa da pior espécie de bandido durante a noite.
E aquele signori quer fazer controlos surpresa aos Corredores profissionais de Ciclismo… quando lhe der na real gana?
Exemplos destes ferem profundamente as – acredito – boas intenções de quem, seriamente, se quer empenhar na luta contra o doping. E com mais declarações deste tipo, qualquer dia deixa de valer a pena eu vir aqui defender os direitos dos Cidadãos Corredores profissionais de Ciclismo.
As pretensões dos seus “caçadores” serão tão ridículas que rapidamente ninguém mais os levará a sério.
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