domingo, fevereiro 17, 2008

1083.ª etapa

NÃO SEI QUE TÍTULO PONHA NISTO!...

Leio no mesmo jornal desportivo...

-- Edição de 6.ª feira, 15 de Fevereiro (pág.2)
“Um jornalista ou comentador especializado, que fala do que não sabe nem domina, não é apenas um profissional incompetente, mas também irresponsável”

-- Edição de Hoje, 17 de Fevereiro (pág.43)
“O Benfica não justificou um convite para participar nas provas do ProTour, porque a equipa é fraca e registou dois casos de doping. Tem sido uma aposta falhada, este regresso do clube às estradas? A resposta é óbvia e indiscutível. Haverá melhores formas de gastar o dinheiro.”

Ora bem… deixem-me respirar um pouco para não escrever asneira!

Se isto é uma opinião, então seria de todo lógico que ficasse por aqui. Opiniões não se discutem! Cada um fica com a sua.
Mas lá está aquela frase que saiu em destaque na edição de há dois dias…

Pois é!

Foi racional a candidatura do Benfica – já que a porta estava a ser-lhe aberta – ao tal grupo de 15 remediados que poderão vir ter o tremendo gozo de correr com, e ganhar aos ricos, num Circuito ProTour que ficou esvaziado e ferido de morte com a recusa das três grandes organizações europeias em integrar nele as suas provas (é mesmo preciso explicar isto outra vez? Não, já chega!…).

Dizia, foi racional o Benfica ter-se candidatado e estou certo que o que mais custou aos seus responsáveis, quando souberam que tinham ficado de fora, foram as causas apontadas e não o não virem a ser convidados para aquelas corridas, das quais, honestamente, só a Volta à Suíça era mesmo objectivo. Por causa da enorme Comunidade Lusa residente na velha Helvétia.

Quanto aos outros considerandos – no comentário que li há pouco -, provavelmente também não mereceriam comentário algum.
Mas lá vem outra vez o tal destaque da página 2 da edição desse jornal na passada sexta-feira.

Os nomes de José Azevedo, Cândido Barbosa, Pedro Lopes, Bruno Castanheira, Danail Petrov, Javier Benitez, Mikel Pradera e Rubén Plaza (só para falar nos mais conhecidos) dirão alguma coisa ao articulista?
Então… a equipa é fraca!...
E o regresso do Benfica à estrada uma aposta falhada.

Porquê?
Porque não ganhou tudo (eu sei perfeitamente que não ganhou nada, a não ser oito etapas)?

O Ciclismo é uma modalidade complicada para os curiosos não iniciados.

Não são onze contra onze, com alguns onzes a gozarem de algumas mordomias por parte da terceira equipa em campo.

Mesmo que numa corrida se apontem cinco ou seis favoritos à partida, há mais 180 profissionais na mesma corrida, na mesma estrada, todos eles com legitimas pretensões a, pelo menos, poderem vir a ter o seu dia de glória.
E há furos, e há quedas, e são corridas por etapas em que um dia se pode estar bem e no seguinte nem por isso.

Mas, como profissionais que são, mesmo de carnes rasgadas por um raspanço no asfalto, numa descida perigosa, mesmo perdendo dois ou três minutos para recomporem a máquina, que não o corpo que o tratamento a esse fá-lo-ão já montados de novo e em tentativa, quantas vezes desesperada, para recolar ao pelotão porque no Ciclismo não há interrupções.


Não pára o jogo para se gastar algum daquele spray que tem tantos resultados assombrosamente milagrosos simplesmente porque não dói nada ao fingidor que cavou uma falta sem que alguém lhe tivesse tocado.
Gesto não raramente sublinhado pelos especialistas como atitude inteligente por parte do aldrabão.

Isto tudo para dizer que o não ganhar nada, em Ciclismo, pode não ter nada a ver com a qualidade de um, dois… uma mão-cheia de profissionais. Porque só ganha um e andam lá muitos com o mesmo objectivo.

Mas o que me irritou mesmo naquele comentário foi a frase final.
Primeiro, o dinheiro mal gasto com a equipa de Ciclismo não poderia ser melhor empregue pelo Benfica (clube de futebol) porque não é este que o gasta.

Depois, é de uma injustiça tremenda dizer que os Profissionais de Ciclismo, sejam lá de que equipa forem - que treinam diariamente em condições tantas vezes adversas, porque está frio, porque está a chover, porque têm de treinar nas mesmas estradas por onde circulam centenas de suicidas que só por andarem sentados ao volante de um carro se acham super-homens - não merecem o dinheiro que ganham.

E não ganham, nem de perto nem de longe, o que um futeboleiro médio aufere para fazer número numa equipa.

E, embora não seja advogado de defesa de ninguém, nem ninguém tenha pedido esta minha intervenção, uso do meu direito à indignação contra quem, obviamente, não percebe nada de Ciclismo. Contudo não teve pejo em debitar todas aquelas barbaridades.

E não leu – ou não percebeu – o recado que ficara na página 2, da edição de 6.ª feira, dia 15 de Fevereiro, do mesmo jornal onde escreve.
Que pena!

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