A UCI FEZ A CAMA MAS AGORA
RECUSA-SE A DEITAR-SE NELA
Está excelente o artigo sobre o ACLA (Acordo Comum de Luta Anti-doping) que nos é oferecido esta semana pelo Jornal Ciclismo.
Está tudo explicadinho, como se vai desenvolver a triagem sano-desportiva dos agentes primários do Ciclismo: os Corredores.
Parabéns.
Tudo o que lerem a partir daqui, já não tem a ver com o nosso quinzenário sobre Ciclismo, mas com uma realidade que está por explicar a quem, eventualmente, possa estar interessado na história dos controlos sanguíneos. E que nunca foi contada.
E, na minha modesta opinião, não devemos apagar essa parte da história.
Tudo começou há cerca de uma década.
Como se costuma dizer – e é verdade – quem prepara, divulga (em círculos muito restritos) e disponibiliza produtos que, usados, deturparão a verdade desportiva, anda sempre um pequeno passo à frente de quem luta contra o doping.
Mas tentem seguir o meu raciocínio.
Antes de o primeiro caso, inegavelmente ligado a tratamentos sanguíneos – fosse lá sob que forma fosse – chegasse ao conhecimento do grande público, na UCI – ainda não havia AMA – tiveram disso conhecimento e, rapidamente, se tomaram medidas.
As melhores medidas? Claro que não. Foi uma medida de compromisso e quando há compromissos, há, pelo menos menos, duas partes comprometidas.
E qual foi, então, a grande medida tomada?
Foram duas. As equipas da I Divisão – ainda não tinha nascido o bastardo ProTour – passavam a ser obrigadas a indicar um clínico a tempo inteiro, que seria responsável por todas as medidas médicas tomadas no seio da equipa.
E fixou-se nos 50% a taxa máxima de hematócrito que um Corredor poderia apresentar para não ser sancionado com os tais 15 dias afastado da competição, novas medições e… aquilo que se sabe.
A ideia veio da UCI.
Foi aprovada e implementada.
E assim andámos até há dois anos quando, com o método australiano de rastreio da EPO, por exemplo, se avançou mais um passinho, com o cálculo das medidas da hemoglobina e dos reticulócitos.
Pergunta: porque é que a UCI estabeleceu os 50% como limite máximo válido, quando… ninguém apresenta, em casos normais, esse parâmetro?
E porque é que estabeleceu a obrigatoriedade de as equipas do primeiro pelotão tivessem um médico a tempo inteiro?
Não perceberam ainda?
E como descolar a UCI desta medida?
Estou de baixa médica há dois anos. Primeiro um problema diagnosticado quase por acaso, depois as repercussões que o seu tratamento teve no meu organismo, trazendo à luz do dia outros problemas… numa autêntica via-sacra.
Nestes 24 meses fui submetido a uma dúzia de análises clínicas normais.
Uma a cada dois meses.
Fui ver o valor do meu hematócrito.
É este: 41,9 – 40,7 – 46,2 – 45,5 – 41,4 – 44 – 40,3 – 42,6 – 42,2 e 41,6.
A 12.ª análise fi-la já esta semana e só para a próxima saberei os resultados.
Agora digam se concordam ou não comigo…
Quando a UCI estabeleceu os 50 como limite máximo, deixou ou não ainda uma significativa margem de manobra para que, com o devido tratamento médico, os Corredores melhorassem a sua capacidade de produção de glóbulos vermelhos?
É claro que deixou.
É o que eu quero destacar, sublinhando-o. Chegou-se aonde se chegou… com o ámen da UCI.
Por isso me irrita a sua postura de virgem brutalmente violada.
Podia – a ideia – até ser virgem, mas que se pôs a jeito, isso pôs.
Acabem com as lágrimas de crocodilo.
Mais, assumam publicamente a responsabilidade que lhes cabe.
São estas coisas que pseudo-especialistas ignoram e, em manifestações de clara sobranceria se apressam a crucificar os Corredores. Peões, apenas, neste desaconselhável jogo de xadrês.
Mas figurinhas que disto nada sabem, estão à beira de aparecer como os grandes paladinos na luta contra o doping.
Irrita-me solenemente ver, semana sim-semana não, um (alegadamente) jornalista a cascar forte e feio nos corredores quando nem sabe sequer quantas rodas tem uma bicicleta!
(Não!, Não são duas!...)
E eis-me eu, aqui, qual D. Quixote, a espadeirar contra os moinhos.
Assumo o cognome do personagem de Don Miguel de Cervantes: sou mesmo o Cavaleiro da Triste Figura.
Paciência. Só devo obediência à minha consciência.
E, enquanto puder expressar livremente a minha opinião… vão ter que me aturar.
2 comentários:
Só 2 curtas observações, para desanuviar isto, que é um tanto ou quanto tenebroso quando mete sangue.
Numas análises que fiz há um ano tinha 49% de hematócrito.
Sei que sou um gajo suspeito, pela amizade que me liga a muito ciclista e director-desportivo, mas juro pelas alminhas que ainda não preciso de tomar nada para aturar os escritos bárbaros por que sou responsável...
No entanto, isto se calhar mostra que os 50% da UCI não são assim tão errados (que não são, embora eu concorde com o resto da análise).
Segundo, e desculpa lá Madeira: com um hematócrito assim aos saltos tás tramado numa era de passaporte biológico. Vais levar uns anitos de suspensão...
Não são só dois, os anos de suspensão?
Pois é Carlos, já sei que não passo. E ainda há uma mão cheia de outros parâmetros em que o LAD me apanharia.
Triste sorte a minha. Depois de velho!...
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