terça-feira, março 14, 2006

26.ª etapa


Recebi, por "portas travessas", utilizando uma expressão muito do povo, um curioso "recado".

Segundo algumas das primeiras figuras deste teatro (e não deixa de ser) que é o Ciclismo, este espaço de opinião - que criei, tem o meu nome e onde já sublinhei que tudo o que está escrito é a minha opinião que pode, a qualquer altura, ser contestada - que este espaço, escrevia eu, se orienta mais para DESTRUIR o Ciclismo do que para o apoiar.

Destruir o Ciclismo? Eu? Pese embora reconheça que a apetência pela comunicação via-net é cada vez mais apelativa, eu? destruir o ciclismo, neste cantinho que não tem pretensões a ser mais do que é: apenas um espaço onde posso escrever opinião livremente, sem estar sujeito à ditadura dos caracteres que estrangula e oprime, no que respeita aos jornais?

Já me movimento no meio velocipédico nacional há tempo suficiente para, sem falsas modéstias, achar que posso ter direito a uma opinião. É o que tenho feito. E tento sustentá-la.
Repito-me, não sendo isto um Fórum - que não deixa de o ser se recuperarmos a etimologia do termo, que significa Espaço de Debate (ou para Debate) - nada impede NINGUÉM que, sustentando a sua opinião nos factos (que todos podem observar, e já não são todos parvos), a rebata.

Digam, por favor, que, por A+B, eu não tenho razão.

Venho a limitar-me (e continuarei a fazê-lo) às questões meramente desportivas. Não tenho nada a ver nem com orçamentos curtos, nem com eventuais promessas e (ou) desculpas que, previamente cada um já fez ou tem preparadas para justificar a falta de andamento seja de que equipa for. Que são pequeninas (a começar na ambição), ah!... isso já se percebeu.

Ora, se a televisão se limita a passar cassetes gravadas pelas organizações, nas quais é fundamental (e prioritário, mais do que o esforço dos corredores) que apareçam os placares e os panos com o nome dos patrocinadores; se as rádios nacionais ignoram olimpicamente o calendário nacional, com a excepção da Volta (à qual, tudo o que é cão e gato acorre, como se fossem passar 12 dias de férias) e se os jornais não dão espaço às modalidades - com o ciclismo a ter de sprintar, ombro a ombro, com outras que já têm o seu espaço e o não querem perder -, falta, de facto, um local onde se apontem as pechas mais gritantes do actual ciclismo português.

Foi nisso que pensei quando criei este Blog.
E pensei que as pessoas, público anónimo, colegas jornalistas, directores-desportivos e corredores, não se coibissem de vir aqui discutir ideias.
Mas nada!...

Que o lêem, disso tenho a certeza, mas como, e eu dou o exemplo, é preciso dar a cara (eu sei que não é só por isso) ficam a remoer o que eu escrevo e o melhor que encontram para justificar (?) a sua ausência nesta discussão é dizerem que o objectivo deste espaço é "dizer mal" do ciclismo.
Não é.

Mas isto não é um espaço de notícias, onde se destaque o 1.º lugar de A, ou o 10.º de Y, pese embora eu até já o tenha feito.
O objectivo deste espaço é fazer crítica, que não é exactamente o mesmo que criticar.
Parece que só me debruço sobre as prestações (ou falta delas) das equipas? Calma. Há muito que quero dizer sobre as organizações e sobre toda a cadeia que, inexoravelmente, nos levará até à cúpula, que é a Federação Portuguesa de Ciclismo.
Não, não uso palas nos olhos, como os burros, e sou capaz de olhar para todos os lados. E pretendo ser imparcial.

Agora, atentem: isto não é a história do ovo e da galinha. Ninguém terá a coragem de vir dizer que sem corredores (e equipas) não há organizações. Seria a risota geral. São as equipas (e os corredores) que precisam que haja organizações. Que não existiriam pura e simplesmente se não houvesse equipas, mas a culpa não seria das pessoas que ainda se põem a montar corridas.

O que pretendia, com as análises críticas que tenho vindo a fazer, era tentar sacudir o marasmo em que se caiu, e têm que ser os corredores (e as equipas) a dar o peito e a cara ao vento. É isso o Ciclismo, dar a cara e o peito ao vento.

Por razões estritamente pessoais, este ano ainda só tive três dias de ciclismo ao vivo e apenas como mero espectador. Mas, como é evidente, não perdi os meus contactos e sei, quase tão bem como se lá andasse, o que é que se vai passando. E leio e oiço o que todos os meus colegas escrevem e dizem, como sempre fiz. Na parte da escrita tem-se descurado algumas partes da reportagem (dar voz aos técnicos - mas para explicarem o quê? que trabalham com orçamentos baixos? não aceitaram fazê-lo?), mas as páginas dos jornais não esticam!...
(E falo por mim, nos últimos anos evito fazer entrevistas quando sei que não terei espaço para publicá-las, não ando cá para enganar ninguém.)

Agora, há falhas das organizações (ou de algumas organizações)? Há sim senhor. Há falta de equipamento que, hoje em dia é completamente indispensável para que a verdade desportiva prevaleça? Há sim senhor. Há falhas ou hesitações por parte dos juízes de corrida? Há sim senhor. A Comunicação Social pauta pelo ignorar a modalidade (sabem de quem eu estou a falar)? É verdade sim senhor. A FPC mantém velhos vícios e revela-se lenta a tomar certas decisões? É verdade sim senhor...

Agora, se quem faz andar isto (o Ciclismo) tudo, que são os corredores e as equipas, não se esforçarem por - que mais não seja preservarem o seu ganha pão ou a sua continuidada, conforme o caso - por cumprir o seu papel, que é o de darem espectáculo, não será o facto de os dorsais terem 3 dígitos, ou de o photo-finish não funcionar, ou de os percursos estarem mal sinalizados ou a quilometragem das etapas não baterem certo com o que está no livro da prova que vai desviar a atenção de quem quer apenas e só uma coisa: ver Ciclismo espectáculo.

E quanto melhor for o espectáculo melhor se vende; e quanto mais se vender mais dinheiro rende; e quanto mais dinheiro se ganhar maiores serão os orçamentos...
Não queiram tapar o sol com uma peneira. Não é este espaçozinho sem pretenções que está a fazer mal ao ciclismo nacional. Não é, pois não?

Já agora, um convite. E faço-o formalmente.
Que todos os que intervêm no espectáculo Ciclismo não se coibam de discuti-lo. Pode ser aqui, neste espaçozinho...
Façam o favor.

Post Scriptum:
Considero ofensiva a insinuação de que não sigo mais do que os ensinamentos pretensamente adquiridos com um "professor".
Não tive professores. Comecei a fazer ciclismo n'A CAPITAL. Não conhecia NINGUÉM!
Terei muitos defeitos, mas de um ninguém me pode acusar: sempre fiz tudo para ser um bom profissional, na minha profissão. E devo ter conseguido porque não fui bater a porta nenhuma à procura de melhor emprego. Se, ao fim de 9 anos apareço n'A BOLA foi porque alguém com capacidade e autoridade para isso, me convidou.
Nesses 9 anos fiz inúmeras corridas. Caladinho, como gosto de estar. Li. Muito. Observava as grandes figuras do jornalismo de então. Humildemente.
Bebi influências em muitas fontes. E aprendi.
Assinei publicações estrangeiras que devorava "alarvemente". Apareceu, por essa altura, a Internet e terei sido dos primeiros a publicar rankings e a fazer trabalhos sobre figuras internacionais.
Cultivei amizades em todos os quadrantes da modalidade. E fiz aquilo que muitos não saberão fazer porque gostam de se ouvir. Escutei.
Fui aprendendo.
Impedi-me a mim próprio de escrever opiniões durante seis ou sete anos (ao contrário do que hoje vejo, quando alguém que faz a primeira corrida de ciclismo já se acha capaz de criticar) e construí, devagar mas solidamente, a minha carreira.
Desde 1991 até hoje não falhei uma Volta a Portugal; fiz dezenas de outras corridas; fiz a minha primeira Vuelta há quase dez anos e depois disso fiz mais seis; em Espanha terei duas dúzias de provas que acompanhei, relatando o que as formações portuguesas - Matesica, Barbot, Boavista, LA, Maia - iam conseguindo fazer lá fora; cobri três Mundiais...
Sempre aprendendo. Com os mais velhos... e mesmo com alguns mais novos.

"Professores" nunca tive.

Mas, desde que os velhos lobos da rádio e dos jornais se reformaram, a família dos jornalistas ficou irremediavelmente bipolarizada: os que sabem alguma coisa de ciclismo e os que andam a passear carros nas provas.

É evidente que os primeiros - cada vez menos - têm de ser críticos. E se há mais do que um que critica as mesmas coisas, não se preocupem com "escolas", preocupem-se em tentar - que muitos há que não são, intelectualmente, capazes de mais do que isso, tentar - perceber porque é que são quase sempre os mesmos os motivos das críticas.

Roubar-me a identidade, seja apenas por insinuação de que sigo uma "escola" é chamar-me estúpido; é negar-me capacidades que já demonstrei, sem favores, possuir.

"Professores" há muitos.
Mas eu não aceito lições de ninguém!

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