sexta-feira, março 17, 2006

27.ª etapa


Disputa-se amanhã a segunda edição do Troféu Sérgio Paulinho.
Foi o melhor que os responsáveis pelo ciclismo neste país conseguiram fazer para capitalizar uma "simples" medalha de prata nuns "simples" Jogos Olímpicos.

Diz-se que o ciclismo é maltratado pela Comunicação Social mas há ano e meio a bandeira verde-rubra subiu ao alto do mastro numa cerimónia de pódio nas Olimpíadas de Atenas graças a um corredor, jovem, valoroso, com um potencial que ainda poucos terão percebido e o que é que, a partir de dentro, da estrutura federada do Ciclismo, a modalidade, entre nós, beneficiou com isso?

Ganhou uma corrida de um dia.

É evidente que o Sérgio é o único que não tem culpa de nada. Mas que acções foram assumidas pela Federação Portuguesa de Ciclismo, por exemplo? Ou pelo Instituto de Desportos de Portugal? Levar um jovem, ainda por cima com uma prateada medalha ao peito de, já não digo escola em escola, mas de distrito em distrito, teria custado muito?

Quantos jovens calçaram sapatilhas e se puseram à estrada depois dos feitos de Carlos Lopes e Fernando Mamede, ou Paulo Guerra, por exemplo? Quantas meninas mandaram às malvas preconceitos e fizeram o mesmo, sonhando poderem vir a ser uma Rosa Mota, uma Albertina Dias ou uma Fernanda Ribeiro?

No Ciclismo parou-se no tempo. E Agostinho já não é mais que uma lenda para 85 por cento dos que ainda pedem uma bicicleta ao pai aos 12 anos.

Sérgio Paulinho conseguiu o impensável. Tão inesperado que esteve sozinho no pódio, apenas com Vicente Moura a chegar em cima da hora para a cerimónia. As agendas dos jornalistas enviados especiais dos três jornais desportivos não contemplavam a corrida de Ciclismo.

Regressado a Portugal foi "atropelado" por todos e não houve quem não aparecesse para ficar na foto.

Passaram, entretanto, os dias. As semanas... os meses...

Nem a FPC, nem a Associação de Ciclistas Profissionais (serve ou não para apoiar a classe?), nem autarquias... Ninguém soube capitalizar aquele feito inédito.

Salvo em proveito próprio, no caso dos políticos. Até se deu o seu nome a 50 metros de um arruamento onde, para além do passeio, grassa o mato por limpar.

Cativar jovens para a modalidade, fazendo de Sérgio Paulinho bandeira!

Parece que não passou pela cabeça de ninguém.

Um ano depois da medalha pôs-se na estrada uma corrida com o seu nome.

Não havia distícos. Os carros da Comunicação Social, por exemplo - só lá vi dois, aquele onde eu ia e o da SuperCiclismo - levavam a fotocópia, em papel, de um dístico que ninguém identificava. A meio da corrida, quando me aproximava da meta, uma dúzia de corredores estava à minha frente, quando devia estar a, pelo menos, 50 km dali.

A chegada foi pobre. A cerimónia de pódio também. E no dia seguinte houve quem, em vez de chamar a medalha de prata a título de crónica preferiu o leitão que o vencedor da corrida ganhou!!!!!...

Saí de lá envergonhado.

As classificações não foram feitas à mão... mas quase.

Usamos, nós jornalistas mais ligados à modalidade, uma expressão que não hesito chamar aqui, agora. Pareceu uma daquelas provas... clandestinas.

Não estou, com isto, a pôr em causa o trabalho de quem... trabalhou. Trabalharam foram poucos. E a preparação foi má.

Não passou daquilo que, na génese era: uma corrida para "tapar" um buraco no calendário.

Espero que amanhã seja tudo diferente. Porque o Sérgio merece. Porque o Ciclismo merece.

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