CICLISMO PORTUGUÊS - QUE FUTURO.1
Com a formalização da Associação de Equipas Profissionais de repente começa-se a falar de alguns males dos quais enferma o ciclismo português. São muitos, a começar pelo velho fado lusitado que, ao contrário de outros países por essa Europa (e esse Mundo) fora, onde se arregaçam as mangas e se deitam ao trabalho, prefere ficar a ver a "banda passar", justificando os (diversos) atrasos, em diversas áreas com um fatalismo que se entrenhou de tal forma que já parece intriseco no português.
Eu não sou mágico nem mais esperto que ninguém. Consigo, isso sim, debruçar-me sobre um problema, dar-lhe as voltas que for preciso dar e procurar soluções. Posso até nem as encontrar, mas fico de consciência tranquila: tentei. Ao menos tentei.
O que é que falta ao ciclismo português, para além da qualidade? Muita coisa. Comecemos, então, por uma ponta.
Falta público. É verdade.
Sendo uma modalidade que não cobra ingressos, ainda assim o público (que falta em todas as modalidades, inclusivé no futebol) é muito importante. Para quê? Para que as marcas que apostam em patrocinar as equipas possam ser vistas. Não percebo nada de estudos (nem sequer é este o termo certo, mas eu avisei que não percebia nada do assunto), dizia eu, nem sei se os estudos de mercado que as marcas farão para saber se o investimento feito teve ou não retorno, para além da contagem dos segundos em que o seu logótipo aparece nos resumos (ou directos, na Volta) televisivos e do destaque que as corridas têm nas rádios e nos jornais (onde a fotografia é muito importante) estender-se-ão ao público em geral?
Explico: a marca XXXXX preocupar-se-á em, 15 dias depois de a Volta (ou qualquer outra corrida) acabar, mandar alguém aos locais por onde ela passou e fazer duas perguntas ao público anónimo? Primeira: conhece a nossa marca XXXXX? Segunda: Já conhecia antes de a corrida de ciclismo por cá passar? Ficava a saber o peso que o ciclismo tem na promoção da marca. E tirava as devidas ilacções.
As equipas deveriam saber isto e tentar mostrar o melhor possível as cores de quem lhes proporciona e sustenta a existência.
Tudo o que escrevi aqui atrás foi para chegar a um ponto: só há uma maneira de "arrastar" para a estrada, triplicando ou quintuplicando o número de espectadores e isso só acontecerá com a presença de Benfica, Sporting e FC Porto no pelotão. Defendo isto há mais de uma década e vivi o fenómeno da multiplicação dos espectadores quando, em 1999 e em 2000, o Benfica ressurgiu no ciclismo.
Aqui até se dispensava aquele tal inquérito de que falei. As imagens, transmitidas na TV ou que as fotos, nos jornais, mostravam, já seriam, por si, eloquentes.
Mais gente na estrada, mais gente nas partidas e chegadas, significariam um maior número de potenciais "observadores" das marcas. De todas as marcas. Claro que as ostentadas nas camisolas das três equipas dos três grandes clubes tinham sucesso garantido se houvesse um trabalho sério num outro plano: o merchandising. E eu ainda hoje, passados seis anos, vejo inúmeras camisolas, verdadeiras ou réplicas, daquelas que o Benfica usou em 1999 e 2000. Curiosamente... sem publicidade! Uma coisa que me tentaram explicar mas eu nunca entendi.
Não será uma Volta com mais dias - preparem-se que eu já explico esta vontade! - mas com as mesmas chegadas quase desertas que trarão mais dividendos aos patrocinadores. Certo que dez potenciais vencedores, e respectivo destaque, são menos que 14... mas não é por isso que uma franja de responsáveis se bate pelo aumento do número de dias da Volta. Não tem nada a ver com qualquer preocupação em relação ao(s) patrocinador(es)... antes pelo contrário.
Àquela chamada de atenção já volto no próximo tópico. Agora termino com aquilo que poderá ser uma incongruência da minha parte.
O regresso do Sporting, do FC Porto ou do Benfica (seria preferível os três ao mesmo tempo) não vinha acrescentar em nada o sentimento que os portugueses nutrem pelo ciclismo, e aqui reside o busílis da questão, o português não gosta de NENHUMA modalidade. Nem a percebe. Não conhece as regras nem os regulamentos. Está-se mesmo nas tintas para isso. O português tem um clube. Dois clubes, vá lá... o da terra onde vive e o FC Porto, o Benfica ou o Sporting.
E no ciclismo teríamos o mesmo que no futebol. Iam querer que ganhasse um deles, fosse como fosse (os penalties contra nós NUNCA são penalties e qualquer falta dúbia do adversário É PENALTI NÍTIDO) e iam hostilizar os corredores "inimigos". Que é como inimigos que olham os que são apenas... adversários.
Ficamos num impasse. Mas, ainda assim, o incremento do número de espectadores, nas partidas, na estrada e nas chegadas seria, não tenho dúvidas significativo.
E como ninguém acredita que estes três grandes emblemas voltasse ao ciclismo sem terem (todos eles) equipas para ganharem TUDO... a competição também ia ganhar.
Deixava de acontecer aquilo do "eu não tenho nada que perseguir... ELES que até têm orçamento maior, que trabalhem"... E deixávamos de ter pelotões amorfos porque, tal como no futebol, os mais pequenos teriam o seu momento de glória se ganhassem a um dos grandes.
A mim parece-me simples.
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