quinta-feira, março 02, 2006

Media.1


Faço este àparte porque (e se calhar até estou) poderão induzir que estou a falar em interesse próprio.

Definiu a UCI, no iníco desta temporada, que nos dois primeiros escalões de corridas organizadas sob a sua égide só serão acreditados jornalistas profissionais. Mais ainda... especalizados.

Acontece nos mundiais de Ralis, na Fórmula 1, na NBA... Em diversos eventos... Mas contra isto ainda não ouvi um sopro de contestação.

Já o protocolo assinado entre a AIJC e a UCI motivou reacções que, a mim, só me podem fazer sorrir, com aquele sorriso forçado que, tantas vezes, somos obrigados, por educação, dispensar aos tolos ou definitivamente alheios ao assunto que, contudo, querem discutir.

No Cyclolusitano, que é o único sítio português onde se fala de ciclismo, até houve quem se tenha perguntado: "... mas que é isso da AIJC?"
Não sabe, não conhece (como eu não conheço nenhuma associação de profissionais de engenharia electrotécnica), mas di-lo de uma forma que a põe em causa. Como por, apenas por despeito, o facto de a não conhecer invalidasse a sua existência.

Existe. Há muitos anos.
Há pelo menos seis que eu sou associado. Para além de mim, há mais três jornalistas portugueses associados (e reconhecidos), motivo pelo qual (por sermos poucos), até agora pertencíamos aos branch espanhol, do qual o conhecido Jacinto Vidarte, jornalista da MARCA (há dois anos RP da Liberty Seguros) era o chefe.

A AIJC tem cerca de três centenas e meia de associados. Do Japão aos Estados Unidos; da Austrália à Dinamarca; da Arábia Saudita às Bahamas... Que surpresa!!!
Uma associação de jornalistas cujo trabalho se centra na cobertura de provas de ciclismo! Jornalistas que não são admitidos apenas com a assinatura de dois ou três companheiros, o que, por si, já os avalizariam. Eu, para entrar para a AIJC tive de apresentar provas (fotocópias) de como, na altura, já há mais de cinco anos cobria regularmente corridas de ciclismo.

Não é um clube elitista. Somos jornalistas unidos por uma mesma paixão.
Arranjem uma Associação Internacional de Espectadores de Ciclismo, se é que não existe já... mas não se misturem!

Em Portugal desconhecem a existência da AIJC?
Claro que desconhecem.
Eu já escrevi lá atrás que ignoro completamente a existência de uma potencial associação, como não sei se há uma associação mundial de sacristãos, ou uma de portageiros, ou alguma de arrumadores de carros. E haverá de criadores de gatos e de cães...
Porque não haveria de haver uma Associação de Jornalistas de Ciclismo?

Po-lo em causa apenas porque se desconhece a sua existência, ainda por cima, uma pessoa que não tem nada a ver é, no mínimo... ridículo.
Mas passemos à frente.

Existe, mesmo que o contínuo da Escola AB+S de Freixo de Espada à Cinta o não saiba, uma Associação Internacional de Jornalistas de Ciclismo, com sede na Bélgica e delegações em meia centena de países.

E no tal Cyclolusitano, várias personagens (uma das quais, acho até que é colega JORNALISTA, esgrime com o estatuto da Carteira Profissional de Jornalista, esquecendo uma coisa: SÓ as entidades públicas têm que obedecer a esse estatuto) se arrepiam com o assunto.

Pergunto: acham que qualquer jornalista (e falo dos jornalistas a sério, com carteira profissional válida) chega a Silverstone, a Magny Courts, a Hockenheim, a Interlagos ou a qualquer circuito de Fórmula 1 e entra? Sabem quantas folhas tem o formulário de acreditação para Roland Garros ou Wimbledon ? (E aqui, não é só o jornalista... se o Órgão de Comunicação não faz parte da família, dificilmente um seu jornalista lá entra).

O Tour tem tantos candidatos a repórteres que as incrições estão limitadas, também, aos Órgãos de Comunicação que regularmente (leia-se, nos últimos 20 anos) o cobrem.

Quantos jornalistas (falo dos portugueses) pensam que vão no próximo ano cobrir a Taça América, em vela? Vai ser pesada a importância que o respectivo Órgão de Comunicação tem no respectivo país, e não vão ser aceites mais de dois ou três jornalistas portugueses.

Pergunto outra vez: porque é que o ciclismo há-de ser diferente?


E, em definitivo, é no ciclismo (em Portugal, e só em Portugal) que aparecem mais "pára-quedistas".
Tudo o que é cão e gato aparece nas corridas alegando ser jornalista.

É a isso que a AIJC quer por fim.

E nem me falem do facto de "se não forem esses..."
Mostrem-me reportagens publicadas... só aí eu acredito (e eu sei que há "repórteres" cujas "reportagens" saiem em... lugar nenhum!)

De ciclismo fala e escreve quem estiver habilitado para tal, e o facto de serventes de pedreiro, empregadas de limpeza, arrumadores de carros ou outras pessoas de profissões indeferenciadas, se julgarem jornalistas, vai, mais ano, menos ano, acabar.

Exactamente. E já escrevi isto no tal Cyclolusitano, o único sítio de ciclismo em Portugal e onde, apesar dos meus 16 anos de dedicação à modalidade, me é vedada a entrada (tinha que dizer isto publicamente), eu, jornalista profissional há 20 anos, seria escorraçado e detido pela polícia se me apresentasse, mesmo que de fato e gravata, numa instituição bancária e ocupasse o lugar de um profissional da casa, aceitando depósitos ou fazendo pagamentos.

Nós, jornalistas profissionais, é que somos os culpados.

Recuse eu (eu falo sempre na primeira pessoa do singular porque não tenho medo de dar a cara), recusem os colegas dos outros jornais desportivos, das rádios nacionais e da televisão, sermos estorvados pelo enxame de curiosos (e isto acontece principalmente na Volta a Portugal), e queria ver o que a Organização ia fazer...


Tinha que escolher entre os Jornais e Rádios Nacionais e a Folha de Mameleira de Baixo e a Rádio Voz de EntreMuros...

Enquanto um dos membros activos da AIJC fui ouvido.
Defendo uma posição de transição.
Nada de radical... para já.
Dentro de dois ou três anos gostaria, no entanto, de ver o meu estatuto equiparado ao dos colegas que cobrem o Mundial de Ralis, o Campeonato Mundial de Fórmula 1 ou os Torneios do Grand Slam...

É pedir muito? Não é nada. Aliás... nos Mundiais de Ciclismo já não entra um qualquer aventureiro...

Termino com uma preciosidade recolhida no impagável Cyclolusitano: "Eu ainda não fui informada de nada...", escreveu uma das figuras mais famosas do "pelotão" dos pseudo-jornalistas...

Eu nem comento!

1 comentário:

mzmadeira disse...

Obrigado Santiago por ter colaborado neste espaço, espero que o faça mais vezes.

Quanto ao assunto em si, vejo que o Santiago não nega a existência da AIJC; não põe em causa o acordo entre esta Associação e a União Ciclista Internacional e limita-se a assestar todas as baterias... em mim.

Não diz uma palavra sobre a autêntica invasão de equiparados, mesmo que a maioria deles não conhecça mais do que três ou quatro corredores em todo o pelotão, não sabe ler a corrida, não a percebe, logo, não a pode contar.

O Santiago parece afinar pelo estafado diapasão pelo qual muitos acham que, sendo um desporto para as clases mais baixas, o ciclismo não merece melhor.

Eu penso o contrário. O ciclismo merece os melhores.
Dirigentes, técnicos, corredores e... jornalistas.
Merece as melhores organizações. Merece que todos se esforcem por ele.