OBRIGADO POR SERES COMO ÉS, ZÉ
Eu sei que posso ser suspeito. Estive na primeira corrida que o Zé Azevedo ganhou como profissional – um Grande Prémio de Almoçageme, em 1994 –, estava, em 2000, na pequenina cidade de Salas, em Espanha, quando o Zé venceu a terrível etapa com chegada ao Alto do Viso, na Volta às Astúrias, tendo conquistado a camisola amarela e, em definitivo, convencido as grandes equipas europeias primeiro (a ONCE) e estadunidense (a US Postal e Discovery Channel), depois.
Estava em Valencia, na Vuelta, quando, no Prólogo, Manolo Sáiz “decidiu” que quem haveria de vestir a camisola dourada deveria ser o Beloki, quando o Zé apareceu em condições mais do que perfeitas para ser o primeiro da equipa a cortas a meta, num crono colectivo.
Estava em Almeirim, quando ele, já com a camisola da ONCE, venceu o Campeonato Nacional de Contra-relógio, numa manhã chuvosa.
Estava em Córdova, no dia 28 de Agosto de 2005 quando, já na descida do Alto de San Jerónimo, a 13 km da meta, o Zé sofreu a primeira das três quedas complicadas que o levariam a já não alinhar na 13.ª tirada, com saída de Burgos, uma semana e muitos dias depois. E depois de, na véspera, na chegada à mesma cidade, se ter visto envolvido em mais uma queda. Foram dias de sofrimento que pude testemunhar quando o visitei nos hotéis em que a equipa ficava.
Vi, através da televisão, o Zé ser 5.º no Giro e 6.º no Tour. Vi-o ganhar a etapa raínha da Volta à Alemanha e envergar a camisola branca, símbolo de líder.
O Zé sempre esteve disponível para me dizer umas palavras, fosse naqueles momentos indescritíveis (é preciso lá estar para ver com os próprios olhos) logo a seguir ao cortar a meta, fosse via telefone, algumas horas depois, a partir do hotel.
Já falámos – sem ser preciso haver um motivo para isso –, trocamos votos de boas festas. Acho que posso dizer que somos amigos.
Mas eu não admiro apenas o Corredor, o maior, entre os portugueses e desde há uns anos a esta parte; admiro também o Homem. Admiro o seu discurso sempre lúcido, sempre com os pés no chão. Outros, que nunca chegaram – nem nunca poderiam ter chegado – aos seus “calcanhares” mostraram algumas vezes “tiques” de um vedetismo que não souberam merecer.
Mas qual o porquê desta crónica?
À falta de conhecimentos (de quem pergunta) para pôr à prova o quanto o Zé sabe de Ciclismo, desde que assinou contrato com o Benfica que é obrigado a responder a uma questão que não tem razão de ser. Como vi num “desportivo”, este fim-de-semana.
Algo que, tirado do pior que o futebol tem, não tem cabimento no Ciclismo.
A resposta, que eu acho podia ter sido definitiva, embora “adivinhe” que vou ter que ler ainda mais vezes, diz tudo sobre o seu carácter: «O meu clube é o FC Porto; a minha equipa é o Benfica!»
Que ninguém tenha a menor dúvida que ele honrará o seu profissionalismo porque é um grande profissional. Porque é um grande Homem.
Orgulhemo-nos dele. Seja qual for o nosso clube de futebol predilecto.
(Obrigado pela foto, João...)
2 comentários:
Viva amigo Madeira:
Sobre o nosso José Azevedo pouco ou nada há mais a dizer, e tudo aquilo que procuremos dizer jamais conseguirá conter a grandeza do Ázevedo.
Nestes ultimos anos tem sido de longe o nosso melhor ciclista português, é uma referencia para todos (eu incluido), penso mesmo que a seguir ao saudoso Agostinho, o Zé é sem margem de duvida o nosso heroi no ciclismo, e o meu amigo Madeira já fez o favor de retratar alguns feitos brilhantes na sua cronica.
Quanto à afirmação dele relativamente aos clubes, foi a mais correcta postura que ele podia, eu agora pergunto, e se fosse um nome famoso do futebol a proferir tal afirmação? Quantas paginas com tinta não viriam para as bancas sopbre o assunto?
Aquele abraço.
Jorge Vieira
Olá Jorge Vieira, bem vindo, mais uma vez...
O que eu queria ter destacado, mais ainda, é e verticalidade do Zé. Quantas, mas quantas vezes não ouvimos e lemos, futebolistas, por exemplo, a dizer que... «sempre fui deste clube deste pequenino.»
Dá-me vontade de rir. E, no fundo, creio que, na «onda» do "futebolês" era uma resposta do mesmo género que se queria ouvir.
Imagine-se é um futebolista chegar à Luz e dizer: «O meu clube é o FC Porto...»
O problema não está aqui de certeza, está nas pessoas que não iriam ser capazes de perceber a honstidade.
Foi, é... o que o Zé Azevedo mostrou a todos: uma honestidade que tem de ser admirada.
Felizmente, e apesar de tudo, o Ciclismo ainda não se futebolizou.
MJM
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