quinta-feira, abril 05, 2007

465.ª etapa


PEQUENO E DESPRENTENCIOSO
CONTRIBUTO PARA QUE
PREVALEÇA A VERDADE
(OU O QUE É A TAÇA DAS NAÇÕES)

Infelizmente – sob o ponto de vista de mero “tiffosi” em relação ao Ciclismo, que aqui assumo – fui vendo estampadas nos diversos jornais, em títulos mais ou menos chamativos, notícias feridas de morte na sua objectividade o que apenas pode acontecer devido à falta de conhecimentos – e, complementarmente, de alguma preguiça, porque seria fácil procurar a verdade – em relação à designada Taça das Nações da União Ciclista Europeia (UEC), indexada ao calendário do Circuito Europeu da União Ciclista Internacional (UCI) e que destina a SELECÇÕES europeias na categoria de Sub-23.

E logo me vem à memória a forma como, há cerca de dois anos, o meu chefe-de-redacção reagiu (quase ofendido) ao meu desabafo no qual, irreflectidamente, em termos do jornal, no seu todo – reconheço-o e curvo-me perante os argumentos então esgrimidos e por mim aceites – eu tive a ousadia de tentar fazer vingar, assente no meu percurso enquanto jornalista, o facto de eu ser jornalista … de ciclismo. Erro meu, má fortuna a minha…

E porque é que este acontecimento, de há mais de dois anos, foi agora recuperado pela minha memória?

Pois bem, realizou-se, nos passados dias 30 de Março a 1 de Abril, em Felgueiras, a primeira manga da retomada (pela UEC e pela UCI) Taça das Nações em ciclismo, para a categoria de Sub-23.
O evento que, por dificuldades de espaço – coisa que eu compreendo melhor do que muitos – e também por alguma falta de sensibilidade (o que já não consigo entender) não só não foi apresentado com a dignidade que merecia (merece), como, em termos de cobertura, foi parar à classe das notícias mínimas.

Como não foi apresentada com a dignidade que lhe era devida, a sua importância terá passado ao lado dos responsáveis directos pela edição. Uma vez mais… compreendo. Mas desta feita junto-lhe o meu lamento.

Com as duas primeiras etapas ganhas por corredores estrangeiros, a coisa perdeu ainda mais importância mas, no último dia, não só a etapa foi ganha por um corredor português como, com esse triunfo, o Vítor Rodrigues (Liberty Seguros) acabou vencedor… da primeira manga da competição.

O que, por pura ignorância, levou à total subversão do resultado. Bem vincada, essa subversão, em títulos e até em algumas chamadas à 1.ª página.

E foi um ver-se-te-avias no que respeita, para não lhe chamar outra coisa, à falta de objectividade.
Aliás, este erro não é original. Há um par de anos caiu-se no mesmíssimo erro em relação à Vanessa Fernandes, no triatlo.
À segunda ou terceira vez, depois de se terem titulado notícias em como a Vanessa tinha “ganho a Taça do Mundo”, lá se percebeu que eram taças do Mundo a mais para um punhado de meses. E se percebeu que a TAÇA DO MUNDO é composta por várias mangas. A Vanessa ganhou mesmo a referida competição.

Pois bem, esta TAÇA DAS NAÇÕES, em ciclismo, tem um figurino em tudo idêntico.

Está dividida em seis mangas – continuemos a chamar-lhe assim –, em cada uma delas os participantes melhor classificados somam pontos e, no próximo dia 15 DE SETEMBRO, no final da Volta a França do Futuro, saber-se-á então quem é que GANHOU a Taça das Nações.

O Vítor Rodrigues apenas ganhou a primeira manga.

Mas há mais, e, já agora, fica tudo esclarecido. Basta atentar no nome da competição – Taça das Nações – para, sem ser necessário grande esforço intelectual, se perceber que NÃO VAI HAVER NENHUM CORREDOR com possibilidade de ganhar esta prova.

Os pontos, em cada uma das mangas, são contabilizados no COLECTIVO (nações… países…)… É uma competição para o colectivo. Neste caso, Portugal pode ser candidato. Não o Vítor, não o Tiago, não… em relação a qualquer outro nome.

Portanto, o Vítor Rodrigues, vencendo o Grande Prémio de Portugal – era este, de facto, o nome da corrida –, deu um precioso contributo para, juntamente com o terceiro lugar do Tiago Machado, colocar, embora anda só com uma prova disputada, PORTUGAL na liderança da Taça das Nações.

E aqui é a altura de explicar porque é que, podendo ter usado qualquer outro termo, eu escolhi o “tiffosi” logo na primeira frase deste artigo.

“Tiffosi” é um termo genuinamente futebolístico. Todo o universo dos seguidores do chamado desporto-rei o entende.
Ok, desculpem lá o venenozinho… Porque é que, no passado dia 14 de Setembro de 2006, quando, na 1.ª mão da 1.ª eliminatória da Taça UEFA, quando o Sporting de Braga bateu os italianos do Chievo por 3-2, não se escreveu também que os bracarenses tinham “GANHO a Taça UEFA”?

Porque TODA a gente sabia que era APENAS o primeiro jogo de uma prova que haveria de prolongar-se – ainda está a ser disputada – no tempo e porque, DE FACTO, o Sp. Braga tinha apenas… ganho UM JOGO.

Porque é futebol. Porque de futebol, até o meu velhote, com 70 anos e a 4.ª classe feita há quase 50 – já adulto e de noite, porque teve que começar a trabalhar aos 9 – percebe.

Por isso me veio à memória a tal história que deixou o meu chefe-de-redacção com os nervos em franja e a mim à procura de um buraquinho onde me esconder, perante a sua reacção.
Mas cada vez tenho menos dúvidas. Há, de facto há, especialidades dentro do Desporto, e convém aos jornais terem especialistas.

Que mais não seja – por muito estreito que seja o universo dos conhecedores de cada uma das modalidades – para que (o jornal) não caia no ridículo.

O Vítor Rodrigues – uma das mais jovens esperanças do ciclismo português – NÃO GANHOU a Taça das Nações. Isto é um FACTO. Uma espreitadela ao sítio na Internet da União Ciclista Internacional (
www.uci.ch), alguma paciência para, no meio de toda a informação oferecida encontrar a relativa à Taça das Nações e o erro, grosseiro, tinha sido evitado.

Mas havia uma alternativa. Quem de direito ter, atempadamente, percebido a importância desta competição e ter começado pelo que me parece ser o mais lógico: explicar, ANTES, o que era a prova. Se isto tivesse sido feito, os erros que depois vieram a somar-se não teriam acontecido. E podia-se partir de um princípio que, quanto a mim, seria o mais lógico. Se de futebol TODA a gente percebe, se calhar convinha, no que respeita às Modalidades, dar algum espaço que proporcionasse a função pedagógica da qual os media não deviam excluir-se.

Para justificar o título desta crónica, deixo então aquilo que nenhum jornal teve espaço para publicar.

A Taça das Nações, em Ciclismo, e para a Categoria de Sub-23, é constituída por seis corridas – e não oito, como já li num dos jornais “desportivos” – nas quais são atribuídos pontos, ao colectivo (é uma prova para Selecções nacionais), ganhando o país que, no final, somar mais pontos. Independentemente dos corredores que apresentar em cada uma das seis provas.

As provas são as seguintes:

Grande Prémio de Portugal (30 de Março/1 de Abril)
La Côte Picarde (Fra, 18 de Abril)
Liège-Bastogne-Liège (Bel, 21 de Abril)
Giro das Regiões (Ita, 26 de Abril/1 de Maio)
Grande Prémio Tell (Sui, 22/26 de Agosto)
Volta a França do Futuro (Fra, 6/15 de Setembro)

E, após a primeira manga deste circuito, a classificação está assim ordenada:

1.º, PORTUGAL, 35 pontos
2.º, Eslovénia, 22
3.º, França, 16
4.º, Luxemburgo, 17
5.º, Alemanha, 15
6.º, Estados Unidos, 14
7.º, Dinamarca, 14
8.º, Rússia, 11
9.º, Itália, 11
10.º, Moldávia, 10
11.º, Argélia, 7
12º, China, 6
13.º, Espanha, 2

E pronto. Esperando ter, de facto, contribuído para o esclarecimento do que é a Taça das Nações, resta-me, aqui, endossar os meus parabéns ao jovem Vítor Rodrigues por ter ganho A PRIMEIRA MANGA e desejar que a SELECÇÃO de Portugal possa, nas outras corridas a contar para esta competição, continuar a dar tão boa conta de si como o fez na corrida realizada em Portugal.




Nas fotos (da PAD) vemos,
na 1.ª, Vítor Rodrigues vencendo no Alto de St.ª Quitéria;
na 2.ª o COLECTIVO da Selecção Nacional
(com o presidente da FPC, Artur Moreira Lopes, e o Seleccionador Nacional, José Poeira)
a entoar o Hino de Portugal

2 comentários:

RuiQuinta disse...

Ora viva amigo Manuel.

No meu caso, e não me quero considerar jornalista, o que se passou foi diferente. Eu sempre tive conhecimento de que a Taça das Nações tinha várias "etapas", mas nem me lembrava do que chamar à "etapa" portuguesa porque, não bastava a falta de informação disponível, nem o cartaz da prova dizia GP Portugal. E isto é ridículo.

Mas quem sou eu? Eu apenas me esforço para escrever o melhor que sei e faço-o de borla, mas há “jornalistas” (merecem as aspas) que recebem para escrever um quadradinho no jornal (em oito horas) e trocam nacionalidades, nomes de provas, etc.
Mas porque qualquer pessoa pode vir aqui ler, e não quero desiludir ninguém, prefiro não falar em nomes.

Obrigado pelo esclarecimento (não sabia que não iria haver vencedor individual) e cumprimentos,
Rui Quinta

mzmadeira disse...

Meu Caro Rui,
por acaso vi a notícia "Venceu a Taça das Nações..." mas nem foi no teu sítio. Depois, e para que não haja confusões (e já que assumi tanta coisa, mais uma menos uma não me 'chamuscará' mais)... o "recado" não é exactamente para quem, de borla, como muito bem referes, apenas tenta acrescentar alguma (muita) coisa ao 'institucionalmente' designado CS.

Um abraço,
MJM