A PROPÓSITO DO PAPEL DAS FORÇAS DA ORDEM
Esta crónica não aparece com uma semana de atraso, como alguns serão levados a pensar, mas apenas com três dias. Falo do caso dos vândalos que, em nome de um pretenso amor às cores dos clubes que “defendem” se organizam nessa, cada vez mais, aberrante coisa que dá pelo nome de claques. Malgrado serem várias as vozes que, ciclicamente – de cada vez que há problemas – não se calam, e usando os meios que têm à disposição repudiam os actos inqualificáveis que tendem a reduzir, cada vez mais, o número dos que vão a um estádio só para ver a bola, a verdade é que nunca tinha visto a questão sob o prisma pelo qual o viu – aqui peço desculpa – acho que o António Varela – mas não tenho a certeza – na última edição da revista Dez, do Record.
(Se não foi ele, aqui deixo o meu duplo pedido de desculpas, a ele e ao camarada que assinou, de facto o artigo.)
E é uma coisa tão fácil de ver que me espantou o não ter o caso merecido, pelo menos que eu tivesse lido, o destaque que esta leitura dele fez.
Resume-se numa frase: de cada vez que os vândalos, seja lá a côr com a qual se pintam, têm que se deslocar a terreno alheio, quem quer que seja que manda nisto não se poupa a esforços para lhes proporcionar uma valente escolta policial. Que acompanha os seus autocarros de Lisboa ao Porto, ou vice-versa, que tenta marcar presença nas Áreas de Serviço na Auto-Estrada – não impedindo, contudo, que elas sejam varridas por aquela turba de mentecaptos –, ou, simplesmente, que os vai buscar ao Rossio para os escoltar até à Luz ou a Alvalade. Dezenas de polícias pagos pelo erário público. Para que os fora-da-Lei não façam ainda mais mal do que aquele que nunca deixam de fazer, mas também para os proteger dos outros fora-da-Lei cuja diferença mora apenas na côr que – dizem eles – defendem.
Li isto no sábado e por isso comecei por escrever que esta crónica vem atrasada. Mas não tanto quanto isso, se eu a reencaminhar para o que, na verdade me interessa.
(Que àqueles bandos de marginais eu abria a Praça de Touros do Campo Pequeno e metia-os, TODOS, lá dentro e até era capaz de ficar sentado a vê-los matar-se uns aos outros.)
O que, há poucos minutos atrás e quando aquela notícia – vá lá saber-se porquê – me caiu no prato da sopa (estava a jantar) fez soar as campaínhas, à velha maneira dos telex, me convenceu a escrever esta crónica foi só isto:
Então, andamos todos, os que pagam religiosamente os seus impostos, a custear a protecção de meia dúzia de grupos de marginais, “adeptos” do futebol, um negócio que deixa ricos jogadores, agentes e dirigentes (só os clubes vão à falência) e, quando se trata do Ciclismo, as forças da Ordem levam coiro e cabelo aos organizadores para porem três dúzias de agentes noutros tantos cruzamentos, agentes esses que estão tão motivados que permitem que haja trânsito no percurso da corrida?
Esta luta que o Ciclismo vem a perder, batalha após batalha – porque as autoridades não reconhecem a via pública como passível de ser recinto desportivo – pode ganhar aqui mais alguns pontinhos a favor da modalidade.
Eu prometo que, a partir de agora, vou coleccionar estas notícias, sublinhando o número de agentes da Ordem envolvidos e, fazendo contas, posso até enviar a quem, na tutela, tem que receber as cartas. Pelo menos chateio.
Oito centenas de polícias num Estádio só por causa de grupelhos perfeitamente identificados e que deveriam pura e simplesmente ser impedidos de entrar nos Estádios. E a despesa que isto significa, é comparticipada pelo Estado? Quando a Federação Portuguesa de Futebol está rica e a Liga não há-de andar na penúria, tenho a certeza!
E o Ciclismo tem que pagar tudo. Já aqui o escrevi, em 2004, quando do contra-relógio na Volta ao Algarve, dado o elevado número de participantes, a estrada teve que ficar fechada ao trânsito por mais cerca de meia hora e relação ao inicialmente previsto e a Organização teve que pagar “horas extraordinárias” às forças da Ordem no valor de mais um terço em relação ao preço previamente estipulado.
Já para não falar das corridas das categorias jovens ou de veteranos que não têm direito a mais de dois ou três motards da Brigada de Trânsito para garantirem a segurança de pelotões que muitas vezes se aproximam da centena de unidades. Para não falar da “simbólica” prestação dos agentes apeados que não é insuficiente, é quase nula.
Há dois anos a Associação de Ciclismo do Minho liderou esta causa. Por parte da federação, sei que houve contactos; que se terá chegado a uma plataforma de compromisso mas, a verdade é que não me parece que tenha havido grandes progressos.
Estará, então, na hora de desenterrarmos esta nossa (dos amantes do Ciclismo) guerra. Se há dinheiro para pagar a segurança de bandos de arruaceiros, tem que haver dinheiro para que o Estado pague o policiamento – preventivo e de pura segurança, não só dos atletas, mas também dos cidadãos – no Ciclismo.
(Se não foi ele, aqui deixo o meu duplo pedido de desculpas, a ele e ao camarada que assinou, de facto o artigo.)
E é uma coisa tão fácil de ver que me espantou o não ter o caso merecido, pelo menos que eu tivesse lido, o destaque que esta leitura dele fez.
Resume-se numa frase: de cada vez que os vândalos, seja lá a côr com a qual se pintam, têm que se deslocar a terreno alheio, quem quer que seja que manda nisto não se poupa a esforços para lhes proporcionar uma valente escolta policial. Que acompanha os seus autocarros de Lisboa ao Porto, ou vice-versa, que tenta marcar presença nas Áreas de Serviço na Auto-Estrada – não impedindo, contudo, que elas sejam varridas por aquela turba de mentecaptos –, ou, simplesmente, que os vai buscar ao Rossio para os escoltar até à Luz ou a Alvalade. Dezenas de polícias pagos pelo erário público. Para que os fora-da-Lei não façam ainda mais mal do que aquele que nunca deixam de fazer, mas também para os proteger dos outros fora-da-Lei cuja diferença mora apenas na côr que – dizem eles – defendem.
Li isto no sábado e por isso comecei por escrever que esta crónica vem atrasada. Mas não tanto quanto isso, se eu a reencaminhar para o que, na verdade me interessa.
(Que àqueles bandos de marginais eu abria a Praça de Touros do Campo Pequeno e metia-os, TODOS, lá dentro e até era capaz de ficar sentado a vê-los matar-se uns aos outros.)
O que, há poucos minutos atrás e quando aquela notícia – vá lá saber-se porquê – me caiu no prato da sopa (estava a jantar) fez soar as campaínhas, à velha maneira dos telex, me convenceu a escrever esta crónica foi só isto:
Então, andamos todos, os que pagam religiosamente os seus impostos, a custear a protecção de meia dúzia de grupos de marginais, “adeptos” do futebol, um negócio que deixa ricos jogadores, agentes e dirigentes (só os clubes vão à falência) e, quando se trata do Ciclismo, as forças da Ordem levam coiro e cabelo aos organizadores para porem três dúzias de agentes noutros tantos cruzamentos, agentes esses que estão tão motivados que permitem que haja trânsito no percurso da corrida?
Esta luta que o Ciclismo vem a perder, batalha após batalha – porque as autoridades não reconhecem a via pública como passível de ser recinto desportivo – pode ganhar aqui mais alguns pontinhos a favor da modalidade.
Eu prometo que, a partir de agora, vou coleccionar estas notícias, sublinhando o número de agentes da Ordem envolvidos e, fazendo contas, posso até enviar a quem, na tutela, tem que receber as cartas. Pelo menos chateio.
Oito centenas de polícias num Estádio só por causa de grupelhos perfeitamente identificados e que deveriam pura e simplesmente ser impedidos de entrar nos Estádios. E a despesa que isto significa, é comparticipada pelo Estado? Quando a Federação Portuguesa de Futebol está rica e a Liga não há-de andar na penúria, tenho a certeza!
E o Ciclismo tem que pagar tudo. Já aqui o escrevi, em 2004, quando do contra-relógio na Volta ao Algarve, dado o elevado número de participantes, a estrada teve que ficar fechada ao trânsito por mais cerca de meia hora e relação ao inicialmente previsto e a Organização teve que pagar “horas extraordinárias” às forças da Ordem no valor de mais um terço em relação ao preço previamente estipulado.
Já para não falar das corridas das categorias jovens ou de veteranos que não têm direito a mais de dois ou três motards da Brigada de Trânsito para garantirem a segurança de pelotões que muitas vezes se aproximam da centena de unidades. Para não falar da “simbólica” prestação dos agentes apeados que não é insuficiente, é quase nula.
Há dois anos a Associação de Ciclismo do Minho liderou esta causa. Por parte da federação, sei que houve contactos; que se terá chegado a uma plataforma de compromisso mas, a verdade é que não me parece que tenha havido grandes progressos.
Estará, então, na hora de desenterrarmos esta nossa (dos amantes do Ciclismo) guerra. Se há dinheiro para pagar a segurança de bandos de arruaceiros, tem que haver dinheiro para que o Estado pague o policiamento – preventivo e de pura segurança, não só dos atletas, mas também dos cidadãos – no Ciclismo.
2 comentários:
Exactamente Paulo...
Mas ao contrário do futebol, o Ciclismo tem que pagar, por completo, as forças de segurança.
É esse o ponto em discussão.
Amigo Manel
Gostei de ler este seu post até porque ao longo destas duas semanas discuti (apaixonadamente) este tema variadíssimas vezes. Na minha opinião é um insulto à nossa sociedade que aqueles bandos de vândalos tenham não só os apoios, como também todo o destaque mediático que o seu comportamento acaba por obrigar. Qualquer pessoa civilizada que vá a um estádio é revistada e obrigada a uma série de caprichos antes de ter a autorização para entrar no recinto, ao passo que com as claques é como sabemos. Já agora uma questão: será que se numa manifestação pública alguém pegasse em cadeiras e pedras de calçada para arremessar contra as autoridades seria tratada com a mesma deferência e bons modos como são esses delinquentes?
Além do mais desconhecia que esse policiamento era suportado pelo erário público. Indignação é a palvra que me vem à cabeça Manel. Sobretudo quando sei que nos escalões de formação ou até nas divisões inferiores o mesmo policiamento é pago pelos clubes visitados.
Terminando deixo uma sugestão... se calhar era melhor para o ciclismo conseguir trazer alguns hooligans para as suas provas. Já que, desde que anunciassem previamente a sua presença e o desejo de ver "a liberty a arder" ou "a Maia a arder", era certo que haveria mais destaque e simultaneamente policiamento (gratuito) para o ciclismo!!
Um abraço!!
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