SIM, É VERDADE, MAS...
Pela segunda vez consecutiva tenho de começar do mesmo modo: este tópico precisa de um pequeno intróito para que as pessoas que o lerem percebam a razão das coisas.
Intróito: Como o plenário dos três administradores do Cyclolusitano decidiu "unanimemente" vedar-me a participaçãp no "fórum" daquele site, e como por lá vão aparecendo assuntos com interesse, o que eu nunca pus em causa, vejo-me, ainda que constrangido, a "puxar" para aqui alguns desses temas porque são de interesse extremo para a discussão do Ciclismo. Dois dos administradores não teriam razão alguma para me vetarem. A decisão "unânine" terá, pois, sido imposta pelo terceiro. E, para quem se julga muito esperto, e porque eu também não sou parvo de todo, só deixo uma nota: se calhar não eram só alguns meros utilizadores que acumulavam mútiplas contas com diversos nickcs... falando curto e grosso, não terão as ameaças à minha integridade física e o permanente arrastar pela lama de quase tudo o que eu escrevia, da responsabilidade de alguém muito bem situado na estrutura hierárquica do site? Esta dúvida ninguém ma tira, e tenho toda a legitimidade para a colocar. E a verdade é que nenhum dos cognomes que se "entretinham" a provocar-me consta da actual lista de participantes. Porque também foram banidos? Será, tenho a certeza, a justificação da administração daquele "fórum", mas compararem-me àquilo que cheguei a pensar serem apenas alguns "meninos traquinas", só de má-fé... e como a administração sabia que nunca era eu a iniciar as "quezílias", tudo me leva a um ponto. Um só. Só desapareceram os "clones" e o único proscrito fui eu. Por mera ciumite. "Longa vida desejo aos meus adversários para poderem ver-me vencer", disse Alexandre, o Grande.
Posto isto, vamos ao que interessa.
Muito boa a leitura feita pelo José Carlos Gomes, no tópico "Ciclistas Portugueses", embora se note à primeira leitura que faltam ali alguns dados muito importantes. O que não diminui tragicamente a oportunidade do tema nem a forma como foi posto.
Qual a grande falha que encontrei no seu texto, José Carlos? Que não foram os estrangeiros em fim de carreira, ou "recuperados" após suspensões por doping (podia ter posto os nomes: Claus Möller, Fabian Jecker e Txema del Olmo, os segundos, ou Andrei Zintchenko, Angel Edo, Melchor Mauri, David Plaza, só para citar alguns, os primeiros) quem "tapou" o lugar aos jovens portugueses.
E já que entraram, posteriormente e sem que o José Carlos Gomes tenha nisso responsabilidade, na feitura de interessantes quadros onde se comparam o número de portugueses e estrangeiros por equipa, que se vá um pouco mais longe. Que se fale, e aponte também nomes, porque não?, dos "batalhões" de jovens espanhóis, com a mesma idade dos jovens portugueses, que, em algumas equipas - houve uma que chegou a por a hipótese de se inscrever na Federação Espanhola, até porque os regulamentos assim o obrigariam porque tinha mais espanhóis que portugueses - formavam a maioria dos plantéis. Esses sim, embora alguns tenham, posteriormente provado qualidades, quase todos já ao serviço de equipas estrangeiras e lembro-me do Santi Perez ou do Josep Jufre, ou do Unaï Yus, e alguns directores-desportivos nacionais em claro conluio com dois ou três empresários espanhóis, é que durante anos "taparam" a entrada dos jovens portugueses no primeiro pelotão nacional.
E sei de casos de corredores que vinham correr de borla. As despesas mínimas essenciais eram suportadas pelos empresários e as equipas só tinham que lhes dar de comer quando em competição no nosso país. Houve até uma equipa portuguesa de terceiro plano que um ano foi correr a Clássica de Alcobendas e a Volta às Astúrias. O objectivo era - e eu escrevi-o na altura, de tão certo que estava - que, acontecendo o milagre de algum bom resultado alcançado, o empresário conseguisse colocá-los em equipas espanholas e, nessa transferância, então sim, ganhar o dinheiro que investira até porque em Espanha nenhum corredor com menos de 26 anos podia aspirar a entrar para profissional. Aos 20 conseguiam a licença UCI atravez da FPC - que não tinha nada a ver com isto porque não manda nas equipas e se estas escolhiam sete jovens espanhóis e se, no seio da União Europeia não se pode negar trabalho a nenhum cidadão de um país membro, noutro país membro, não seria a FPC a arriscar-se a estabelecer quotas... - mas dizia eu, aos 20 conseguiam a licença UCI, atravez de uma equipa portuguesa e, como aconteceu a tantos, aos 21 ou 22 já podiam correr em Espanha ou noutro país qualquer da Europa porque já não seria neo-profissionais. Eram profissionais de pleno direito.
E muito dinheiro correu, e muito dinheiro se ganhou atravez deste estratagema.
A partir do momento em que as equipas portuguesas deixaram de estar nos grandes palcos internacionais, o nosso ciclismo deixou de servir de montra. E os espanhóis agora custam muito mais caro que os jovens portugueses neo-profissionais. E como, é um facto, os orçamentos caíram para os níveis de há cinco ou seis anos atrás... a "prata da casa" sai mais em conta.
Tirando uma ou duas ressalvas, tem razão o José Carlos Gomes, por exemplo em relação ao Rui Sousa, que poderia ter sido chefe de fila em qualquer equipa - mas aqui, atenção, atentem ao exemplo do Hugo Sabido que preferiu ser chefe de fila no Paredes a gregário na Maia e está a colher os dividendos dessa aposta -, tirando uma ou duas ressalvas, vinha eu a escrever, o artigo do José Carlos Gomes é oportuno, bem escrito e toca um tema muito, mas muito pertinente mesmo. Parabéns.
P. S.: Dizer que só a Maia terá ganho com os triunfos conquistados lá fora e não ciclismo português é de uma extrema insensibilidade. Eu, em 2000, estava em Cangas de Onis quando Andrei Zintchenko venceu, para a LA-Pecol, nos Lagos de Covadonga, e estava em, em 2001, em Aitana quando Claus Möller ganhou uma das mais difíceis etapas da Vuelta desse ano. Em ambas as vezes estava sozinho na sala de imprensa e só eu sei o orgulho que senti quando os colegas espanhóis, mas não só, me rodearam a querer saber coisas do ciclismo nacional. Quem se atreve a dizer que a primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus ganha pelo FC Porto nada fez pelo futebol português porque os golos foram de um argelino (Madjer) e de um brasileiro (Juary)?
7 comentários:
Desconhecia o facto de haver esse tipo de relações entre empresários e dirigentes das equipas, enchendo o pelotão "nacional" de muitos jovens espanhóis em início de carreira... Não sabia que esse era o motivo para o exagero. Se as coisas se passaram realmente assim, sai reforçada a minha opinião, segundo a qual houve no passado recente uma grande responsabilidade dos directores das equipas no não aparecimento de mais jovens valores portugueses.
Quanto à comparação com a vitória do FC Porto: realmente, não vejo o que beneficiou o futebol português com a conquista portista. O FC Porto ganhou, realmente...
Caro José Carlos Gomes, a culpa não é sua, mas o Cyclolusitano fechou as portas a quem podia contribuir com os seus parcos conhecimentos para discussões sérias sobre a realidade do nosso ciclismo.
Usa-se um "forum" para dar classificaçoes e mandar umas larachas. O seu post destoa ali. Ainda bem que destoa no bom sentido, agora, é um pouco arriscado da sua parte fazer afirmações sem, reconhece-o aqui, ter conhecimento de causa.
Procure no Cyclolusitano as formações de equipas pomo o Loulé, o Paredes, a extinta Matesica... veja quantos jovens espanhóis de 20, 21 anos faziam parte dos seus plantéis... depois volte a falar das poucas oportunidades dadas aos jovens portugueses.
Salvaguardando as devidas e justas proporções entre a nossa Maia dos anos 2001 a 2003, quando se tornou uma das mais temidas formações no grande pelotão mundial, e a Discovery... veja e diga-me as diferenças de idades dos corredores.
Uma equipa para ganhar, ou lutar em todas as corridas para tentar ganhar, no seio do pelotão internacional, não pode ter uma maioria de jovens neo-profissionas. Foi, mais que a veterania, foi a exeriência dos seus corredores que levaram a Maia à I Divisão (antes do aparecimento do famigerado ProTour), que a levaram a ganhar a Volta a Valência, a fazer sempre excelentes exibições na Volta a Espanha onde, em 2003 foi 3.ª por equipas.
Quanto à última parte da sua resposta... está a brincar não está? Desde 1962 que uma equipa portuguesa não era campeã europeia e, nos dias, nas semanas, nos anos seguintes, o FC Porto "era" a imagem, lá fora, do futebol português. Ou não percebeu a ironia, que foi apenas devida à coincidência de a Taça ter sido conquistada com dois golos de dois não-portgueses? O que eu queria vincar é que pode ter sido o Fabian Jeker a ganhar a Volta a valência, mas o que se falava era da Maia, logo, de uma equipa portuguesa. Percebeu?
Obrigado por colaborar no VeloLuso.
O que interessa é discutir ideias. Neste seu comentário, o sumo está no destaque que dá aos excelentes resultados da Maia no estrangeiro. Quanto a isso, reitero que não vejo que o ciclismo português no seu conjunto tenha tirado grande lucro. O nosso ciclismo terá ganho mais com o desempenho do José Azevedo, em várias corridas, e do Sérgio Paulinho, nos Jogos Olímpicos. Esses dois ciclistas abriram portas para que outros pudessem ter a hipótese de internacionalização: ao Nuno Ribeiro sabe-se o que aconteceu ao Hogo sabido deseja-se que continue a trabalhar como até aqui.
De resto o ciclismo caseiro não beneficiou nada. O exemplo da Maia não entusiasmou outros patrocinadores a investirem a sério e os próprios maiatos desinvestiram. A isto acresce outro factor que não é de desprezar nos loucos anos da Maia internacional: os sucessivos casos de doping.
PS: Como disse a abrir, interessa-me discutir ideias e não fazer ataques pessoais ou dizer que sou o maior, que tenho muitos conhecimentos. Mas não gosto que me chamem ignorante quando não o mereço. Reconheço que me falta saber muita coisa e aprender muito mais ainda sobre ciclismo, mas qualquer um sabe e eu não sou excepção que muitos plantéis de equipas portuguesas estavam cheios de jovens espanhóis. O que não sabia, nem saberei enquanto não vir provas, é que havia «alguns directores-desportivos nacionais em claro conluio com dois ou três empresários espanhóis»; não sabia nem sei «de casos de corredores que vinham correr de borla. As despesas mínimas essenciais eram suportadas pelos empresários e as equipas só tinham que lhes dar de comer quando em competição no nosso país»; e não sabia nem sei se «muito dinheiro correu, e muito dinheiro se ganhou atravez deste estratagema».
Carlos José Carlos Gomes, uma vez mais, obrigado por escolher este espaço de debate onde, acho eu, temos mantido, dentro dos parâmetros da boa educação, a nossa "discussão". Assim será sempre. E não lhe chamei ignorante. Sugeri que podia e, se mo permite, que o tente sempre, saber um pouco mais.
Concordará comigo que no tal texto, no Cyclolusitano que, reforço, achei muito bom, ao referir-se aos espanhóis (ou estrangeiros) que vinham tapar o lugar aos jovens portugueses, punha todos no mesmo "saco". O que, concordará, não é verdade. O Plaza ganhou uma Volta a Portugal, o Möller outra e o Jeker outra... porque são (foram, eram, na altura, corredores de qualidade superior a todos os demais, no pelotão português. Como o Mauri, que venceu uma Volta ao Algarve e o Porto-Lisboa; como o Banabéu, que venceu dois Troféus Joaquim Agostinho, um pelo Boavista, outro pela Maia.
Quando falo na importância para o ciclsmo português que as vitórias da Maia - e da LA Pecol, e as 4 etapas que o argentino Martin Garrido, da DUJA-Tavira venceu o ano passado na Volta à Normandia - quero dizer que, em Espanha e em todo o Mundo porque corridas como a Vuelta são universais, fizeram todo o Mundo "descobrir" que havia uma equipa (duas, três) em Portugal capazes de se baterem com as demais. Os triunfos e excelentes resultados do Zé Azevedo e do Sérgio Paulinho, que em Portugal há (alguns) bons corredores... o Mundial de 2001 serviu para o Mundo ver que em Portugal se podem organizar excelentes corridas.
O que é que o ciclismo, internamente ganhou com isso? Tem razão, em termos práticos: zero. Mas aquelas vitórias e aqueles bons resultados puseram Portugal no mapa do ciclismo mundial.
A culpa por não terem gerado melhorias visíveis na realidade nacional terá de ser procurada cá dentro.
Como a vitória do FC Porto, naquele ano, e as outras que conseguiu: fizeram com que, lá fora, se pusesem à procura no planisfério onde raio é que ficava Portugal e a cidade do Porto, que tinha uma tão boa equipa. Também o futebol indígena nã ganhou nada, em termos meramente internos, mas o FC Porto, tal como a Maia, fizeram o seu papel, como o Sérgio Paulinho que levou a bandeira nacional subir num dos mastros na cerimónia final da corrida de fundo dos Jogos de Atenas.
Como Vanessa Fernandes faz, cada vez com maior assiduidade, da Jordânia ao Funchal, de Espanha à Estónia.
As coisas, e nós (colectivamente) somos também coisas, só existem se alguém souber que elas existem.
A ver se me faço entender... fugindo ao tema, mas apenas para sustentar a minha opinião. Há-de haver vida para aém da Terra, há-de haver espécies de plantas nas (cada vez menos) florestas por explorar, há-de haver peixes que nunca foram vistos, nas profundezas dos grandes oceanos, mas SÓ existirão, para todos, logo que forem descobertos ou achados.
Há ciclismo em Portugal desde o último terço do século XIX, mas antes de Joaquim Agostinho, apesar de vários outros corredores terem anteriormente conseguido excelentes resultados (Alves Barbosa foi 10.º no Tour de 1956) o Mundo da velocipedia não falava de Portugal.
Depois veio o Acácio da Silva, hoje temos o Zé Azevedo... o Sérgio ainda precisa provar aquele resultado e Atenas, nós sabemos que ele é bom, mas para além de Badajoz ou de Vilar Formoso... ainda é um desconhecido que ficou em segundo lugar nuns Jogos Olímpicos. O Hugo, com os bons resultados que está a conseguir está a ajudar numa coisa: depois de Agostinho, de Azevedo, da Maia, da LA... e já com Portugal no "mapa", é previsível que mais corredores portugueses se tornem alvo do interesse das grandes equipas. O ciclismo português sairá sempre bem se essa possibilidade se concretizar.
Outra coisa são as nossas corridinhas, as nossas equipazinhas, as nossas organizaçõeszinhas...
É, exactamente, esse o objectivo deste espaço. Discutirmos o porque não conseguimos capitalizar, em proveito do ciclismo doméstico, a alguma fama que já vamos tendo além fronteiras.
Já agora José Carlos, não é por maldade que lhe peço, se tiver possibilidades, claro - porque há-de ter mais que fazer na sua vida pessoal e profisional - que veja e constacte como subiu quase em flecha o número e convites a equipas portuguesas para correrem em Espanha a partir do momento em que a Maia fez o que fez.
Foram oportunudades desperdiçadas?
Foram, se olharmos para o ciclismozinho que temos para cá da nossa fronteira.
Em relação à última parte deste seu último post, é evidente que não sabe nem poderia saber. Sabem-no dois... três jornalistas mais ligados à modalidade mas, e provas?
Amigo José Carlos acha que se eu as tivesse não as tinha aproveitado? Mas não falo por falar. SEI, sei mesmo que é assim, foi assim... mas não posso assaltar os cofres desses clubes para roubar os documentos que o provam, se é que existem documentos que o provem.
Mas que é verdade, ponho o pescoço no cepo.
Aliás, e vou terminar que tenho este defeito enorme que é o de gostar de escrever muito, eu escrevi que, numa das situações citadas, publiquei a notícia e era tão verdade (senão não a publicava) que fui abordado pelo empresário em causa que não se coibiu em manifestar-me, com toda a lisura, aliás, o seu desagrado, argumentando ele, que o fazia para salvar a carreira de jovens que ele sabia que tinham valor. Não me desmentiu, não me chamou mentiroso, só disse que não gostou que eu tivese publicado.
Não é isto prova que era verdade?
Um forte abraço.
PS: acho que me disse uma vez que era jornalista de profissão. Se assina com este nome... não consigo identificá-lo, peço desculpa, mas quer ajudar-me?
Sou jornalista desempregado desde o encerramento de "O Comércio do Porto" e em vias de tornar-me vendedor de loja de shopping.
Lamento-o, sinceramente. A vida está difícil... Mas é pena quando não podemos fazer aquilo que mais gostamos. Um abraço de solidariedade.
Eu trabalhei de 2001 a 2009 n'A CAPITAL, que teve o mesmo destino. Contacte-me por email e diga-me o que fazia concretamene. Não estou a prometer nada, não quero criar falsas expectativas... mas às vezes a vida não é tão má como parece.
Um grande abraço.
É do Porto ou de Lisboa?
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