quarta-feira, junho 14, 2006

EXTRA... EXTRA... EXTRA...





E porque não?

Faço uma "neutralização" no ciclismo para escrever sobre... futebol. Não é bem sobre futebol, é mais sobre isso de ser-se português. Que é complicado, é.

Acabo de ver as desassombradas declarações de Costinha, na Alemanha, e não podia estar mais de acordo com alguém.

Mas decidi-me por esta crónica para, também eu - e porque não? - meter-me ao "barulho".

Foram inúmeras as críticas a Luiz Felipe Scolari por ter aceite o estágio em Évora. Uma meia dúzia - bem medida - de opinion makers atirou-se ao brasileiro que nem gato a bofe. Porque na Alemanha estava frio e no Alentejo as temperaturas subiam aos 40 graus, e porque isto, e por aquilo... sobretudo porque sim, porque eles - essas cabecinhas pensadoras - é que sabem. São da turma que leva a bola escolhe a equipa, joga e faz de árbitro. Impossível não terem razão.

Por acaso, ainda hoje, Alexandre Pais, o director do Record, faz uma mea culpa, que só lhe fica bem. Melhor ainda porque foi o primeiro. Se calhar vai ser o último. É que, afinal, na Alemanha está a jogar-se, nas partidas às 3 da tarde, sob temperaturas para além dos 30 graus. Os que davam o exemplo do Brasil, que estagiou na fresquinha Suíça, meteram a viola no saco. Porque os opinion makers "nunca se enganam" e são senhores de uma verdade que para os próprios comanda o movimento giratório da Terra. Aliás, fico com a impressão de que a grande preocupação de alguns deles é mesmo o de tentarem perceber - o que, fatalmente não conseguem - como é que raio a Terra girava antes de eles serem opinion makers. Antes de eles nascerem. Têm um umbigo que ofusca o brilho do Sol e jamais considerarão a hipótese de poderem estar enganados. Está fora de questão.

E chegamos ao ponto que me fez escrever esta crónica.

O português, no seu geral, sim, é racista e xenófobo. Na nossa pequenez sempre quisemos ser grandes e em terra de iletrados, quem tem acesso ao media acha-se o "rei".

Um exemplo?

Encheram-se páginas de jornais - para falar só em jornais - com a "coragem" de José Mourinho que, mais do que uma vez, mas podemos centrar-nos na chegada do Chelsea a Barcelona, saiu sozinho para enfrentar a imprensa e deixar que esta lhe chamasse os nomes que quisesse, só para proteger o seu grupo de trabalho.

Mourinho é arrogante? Naaaaaaaaaa... apenas é o comandante heróico que dá a cara pelos seus subordinados, poupando-os aos ataque desses infieis que são os jornalistas e os adeptos com sangue mais quente. É provocador? Naaaaaaaaaa... apenas um estratega 5 estrelas.
E o português aceita isto como a coisa mais natural do Mundo.

Substitua-se o nome de Mourinho pelo de Scolari...

Ah!, pois é...

O BRASILEIRO é pedante, arrogante, mal educado - e o rol estende-se por todos os sinónimos. E porquê?

Releiam o que escrevi acerca das atitudes de Mourinho. Não faz Scolari a mesmíssima coisa? Chamar sobre si todas as críticas, aliviando a pressão dos seus comandados? Pois!...

Mas - há sempre um MAS nestas coisas - os portugueses, na generalidade, sim, que são TODOS treinadores de bancada, mas principalmente alguns desses opinion makers, não gostam, nunca gostaram e nunca vão gostar de futebol. Como de qualquer outro desporto, principalmente se estiverem envolvidos os clubes grandes. Cultivamos a mui pouco olímpica ideia de que OS NOSSOS têm que ganhar nem que seja num golo marcado off-side, com a mão e já depois da hora. E se não ganharem é porque foram ROUBADOS.

E, habituados a seleccionadores que sempre foram comandados das Antas, de Alvalade ou da Luz, e porque eles só vêm - porque tal como os burros, usam palas para ver só numa direcção - as suas cores, vá de malhar no BRASILEIRO. Porque este é independente e, pior ainda, responde quase à letra às atordoadas de que é alvo.

Volto à conferência de Imprensa do Costinha. Não sei se, na hipótese de jogar ainda no FC Porto se sentiria tão à vontade para dizer o que disse, mas vamos acreditar que sim. Defendeu o técnico nacional e pôs o dedo na ferida: "Como a Selecção agora não é comandada pelos clubes..."
Exactamente.

E a única forma de tentar atingir Scolari é, ainda que implicitamente, lembrar constantemente que ele é brasileiro. Estrangeiro, emigrante...

Pensamos o mesmo em relação a todos. Esquecendo que somos um País de imigrantes. Somos racistas e xenófobos. Para vergonha de alguns. Mas pagaremos todos a factura.

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