segunda-feira, junho 05, 2006

102.ª etapa



A HORA DOS JOVENS "LOBOS"... E A QUESTÃO DOS ORÇAMENTOS

Depois da Volta ao Alentejo - contra cujo comentário que aqui deixei, na sequência de outros escritos há mais tempo, mais uma vez se encresparam algumas opiniões - o pelotão nacional voltou à estrada para mais uma corrida 100% nacional e na qual, uma vez mais, ficou demonstrado (logo na primeira etapa) que os sub-23 só deviam correr com sub-23 e que este esforço que lhes é pedido, e aceite pelos seus responsáveis, pode tornar-se, num futuro muito próximo, mais do que pernicioso.

Certo que três ou quatro (...ou meia dúzia) desses jovens acabam por, nestas corridas, revelar as suas capacidades e, por isso mesmo, à imagem do que aconteceu o ano passado, fazer com que os seus nomes apareçam nas agendas das equipas do primeiro escalão nacional. O problema que vejo nestas chamadas dos sub-23 às corridas de élite respeita mais aos outros.

Nem todos podem ser superdotados, mas muitos querem ser profissionais e têm condições para isso, só precisam que os deixem amadurecer. Espero que estas experiências não levem grande parte deles a pensar que não têm condições para seguir o seu sonho porque, à primeira etapa de uma corrida de dificuldades mais do que acessíveis perdem logo meia hora para os profissionais... Mas eu já tnha abordado este tema e agora só voltei a falar nele porque apareceu a talhe de foice...

Adiante...

O GP Abimota serviu para confirmar o valor de mais algumas jovens promessas do ciclismo luso. Hélder Oliveira, Vítor Rodrigues, Ricardo Mestre, Bruno Lima e Tiago Machado, lista na qual o mais velho tem apenas 23 anos, deixam-nos a sonhar com um futuro seguro para o nosso ciclismo. Hélder Oliveira e Ricardo Mestre já me tinham "ficado no ouvido" quando da recente Volta ao Alentejo e voltaram a estar em destaque, o que é pronúncio de que têm pernas para corridas com mais de cinco dias. Isso é bom. A começar, para as respectivas equipas.

Em relação a Tiago Machado, somou a sua segunda vitória à geral, depois de ter conquistado também a Volta a Terras de St.ª Maria... Ele e Manuel Cardoso são exemplo de que, para os lados da Boavista, no Porto, ainda vai existindo "olho" para descobrir novos valores. E tantos que nos últimos anos vestiram a camisola de xadrês mas que acabaram, depois, por se impôr já com novas cores. Problemas orçamentais, que criam, ano após ano, dificuldades à formação do professor José Santos para os manter, sou levado a crer...

Aliás, foi assente nesse mesmo argumento - o do orçamento baixo - que recebi uma mensagem na qual pude ler, nas entrelinhas, alguma amargura, sendo que nas queixas sobre alguns comentários que aqui deixei ela (a mensagem) era bem clara.

Porque achei o tema bastante pertinente, chamo-o aqui, a esta crónica.

Sei, enquanto directamente interessado no ciclismo nacional, tão bem como qualquer responsável por qualquer equipa, o quanto difícil é, na época que atravessamos, conseguir angariar todo o dinheiro julgado minimamente necessário para sair para a estrada, e o que escrevi há algum tempo atrás foi que, achando esses mesmos responsáveis que, com o que conseguiram, mesmo ficando abaixo do ideal, dava para pôr uma equipa no pelotão, parto do princípio que os profissionais contratados aceitaram os termos dos respectivos acordos de trabalho, ficando, a partir daí, comprometidos a fazerem o melhor em prol da entidade que lhes paga.

Há jornalistas que ganham mais, muito mais do que eu, mas isso não me impede de dar o que tenho e não tenho para cumprir com as minhas obrigações para com quem me paga até porque fui eu quem aceitou as condições.

De época para época, este factor poderá pesar na manutenção de alguns valores no plantel. Dando nas vistas despertarão a cobiça de outros empregadores com mais posses, mas nesses casos ninguém pode levar a mal a ninguém por querer melhorar as suas condições de vida. Agora, durante a temporada, os profissionais terão que dar o melhor que têm em si para, repito-me, cumprirem os compromissos para a sua actual entidade pagadora, pelo que o argumento de se ter um orçamento mais baixos - do que se deduz pagarem ordenados inferiores - que a maioria dos principais rivais... nem devia ser esgrimido.

Não por quem na devida altura achou, e para isso deu o seu "ok", que o dinheiro disponibilizado seria o suficiente para se manter no pelotão... Uma vez na estrada manda o brio profissional de todos os envolvidos que se dê o máximo até para somar argumentos que levem o patrocinador a aumentar o seu investimento na temporada seguinte. Ou encontrar outro patrocinador que queira investir num grupo ganhador. Tem de ser na perseguição deste objectivo que a época - toda a época - deverá decorrer.

A falta de resultados - e há quem, a dois meses da Volta, ainda ande à procura de um resultado sonante - só poderá advir de outras situações... mas essas terão de ser ultrapasadas no interior do grupo e nesses aspectos não serei eu a imiscuir-me. Até porque para tal não me reconheço a mim próprio autoridade nem legitimidade. Mas faço constatações. E posso opinar sobre o que me é dado a observar, em termos de resulados ou postura (coisas a que qualquer um pode ter acesso).

Voltando um pouco atrás... parabéns ao Tiago Machado, parabéns a todos os jovens que, independentemente do vencimento que auferem, têm mostrado garra e vontade de serem... corredores profissionais. Mantenham essa vontade e essa garra que é vosso o futuro do ciclismo em Portugal. O resto há-de vir por acréscimo.

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