sábado, novembro 03, 2007

957.ª etapa


DIFÍCIL DE ENTENDER

Os The Gift, banda de Alcobaça onde pontua a voz quente da Sónia Tavares têm um álbum do qual logo se destacou um dos poucos temas que interpreta em português: Fácil de Entender. Estava a ouvi-lo quando a vontade de escrever me puxou para este artigo que justifica o título.
Mas, antes dos finalmentes, permitam-me um ou dois entretantos

Imaginemos que, de um momento para o outro, o Benfica – ou o FC Porto, até porque a comparação tem mais sentido feita com os dragões – anuncia que deixa de jogar futebol a nível dos seniores…

Imaginemos que, no andebol, por exemplo, o ABC de Braga dissolve a sua equipa, que já nos representou ao mais alto nível europeu, em termos de clubes...
… ou que a Ovarense anuncia, de um dia para o outro, que decidiu acabar com a equipa profissional de basquetebol.

Imaginemos que, ao fim de décadas sempre em plano superior, emblema do nosso voleibol, o Sporting de Espinho diz que acabou. Não há mais…

Imagine-se agora o que aconteceria na sequência de qualquer destas situações puramente inventadas.

Pois!...
E imaginemos que a mais vitoriosa equipa portuguesa de Ciclismo na última década… subitamente acaba.

O que é que diferencia esta notícia de qualquer uma das outras inventadas por mim?

Há quase um mês – se é que não passaram já 30 dias – que foi anunciado o fim da Maia. Independentemente dos patrocinadores… o fim da Maia no principal pelotão nacional.

Tenho vindo a tentar perceber, mas não há meio de me convencer.
Porque é que o fim da equipa que ganhou quatro voltas a Portugal nos últimos sete anos não mereceu mais do que a notícia crua do seu fim nos jornais desportivos nacionais?

Ainda por cima, quando se adivinha que nem tudo terá sido pacífico.
Que haverá razões, cada uma delas defendida por cada uma das partes interessadas, que os amantes do Ciclismo mereciam conhecer.

Será que é mesmo verdade que os três desportivos não fazem mais do que… tolerar as modalidades?

Mas isso significaria que também não acreditam no produto que têm que vender.

Ninguém achou oportuno explicar aos adeptos do Ciclismo o porquê do fim do Ciclismo na Maia.

Do Ciclismo profissional. Nenhum dos três desportivos, porque se um tivesse avançado, os outros dois, muito provavelmente te-lo-iam seguido…
A União Ciclista da Maia era uma instituição.
A equipa mais consistente no universo luso do Ciclismo.

Anunciou-se o seu fim e… depois mais nada!
Mas não é assim.
Mais nada não. Mais nada nos desportivos de cobertura nacional…

Há três dias recebi um email a dar-me conta de um trabalho publicado pelo quinzenário MaiaHoje, o mais completo e elucidativo que pude ler até hoje.
Este jornal regional fez aquilo que os nacionais – principalmente os desportivos – menosprezaram… ignorando-o.

Ouviu todas as partes envolvidas.
Num trabalho jornalístico sem defeito.
Parabéns a eles.
Não foi pacífico o fim da Maia...
Basta ler as declarações do presidente da UC Maia.

E muita gente aparece metida no barulho.

É acusada a Câmara Municipal da Maia – por duas das partes – que, isso é do conhecimento, pelo menos dos jornalistas mais próximos da modalidade, prometeu, prometeu… mas há já uns anos que não passava disso, das promessas…

A falta de cumprimento por parte da edilidade maiata cavou o fim da equipa.
Ainda assim, há mais dados no trabalho do MaiaHoje.

Que o Manel Zeferino estava cansado de viver no fio da navalha…
Que o presidente do clube ficou sentido com a debandada de Zeferino que levou todo o grupo de trabalho para a Póvoa de Varzim…

Que o principal sponsor, este ano, ficou mesmo "muito desagradado" com a falta de cultura ciclística da esmagadora maioria dos OCS que, e cito palavras suas avançadas pelo quinzenário MaiaHoje "leu mais vezes a designação de Maia-Milaneza (esta empresa desinvestiu muitíssimo!) do que LA-Maia".
O Ciclismo é - não é entregue, é mais... atirado - para quem não percebe pévia disto. Aliás, ía-mos quase no fim desta temporada quando os comentadores da EuroSport (Portugal) "descobriram" que não havia mais equipa das "Ilhas Baleares"...
Levaram seis meses a perceber que a equipa se chamava Caisse d'Épargne...

E por cá, aconteceu o mesmo.
E o Luís Almeida não gostou.
E, como é ele quem investe o seu dinheiro... e à falta de melhor solução...
Mas voltemos atrás...
A Maia acabou...
Nenhum jornal se deu ao trabalho de ir saber, junto de cada um dos interessados, o porquê deste corte radical...
E o primeiro trabalho com princípio, meio e fim, que pude ler... foi no MaiaHoje.
Nesse trabalho do MaiaHoje avançava-se com a decisão definitiva de que a União Ciclista da Maia não acaba de todo a actividade.

Vai prosseguir no pelotão dos Sub-23.
Já tem corredores, já tem técnico…
É o Paulo Couto, segundo o MaiaHoje.

Mas esperemos pelo trabalho de fundo - que falta fazer - para que todos compreendamos o que realmente aconteceu e que ditou o fim da equipa da Maia.
Houve motivos, pesados, significativos, preponderantes, decisivos… para que o Luís Almeida tenha decidido – e foi ele, definitivamente foi ele – que não queria mais ficar na Maia.

Eu compreendo-os e não me custa nada aceitá-los.
Mas… e a esmagadora maioria dos adeptos do Ciclismo?
Dos adeptos da Maia?
Não merecem uma explicação?

Mas dou ainda outro exemplo.
Há cerca de uma década atrás, e assim, também tão surpreendentemente como agora a Maia, a Sicasal deixou o pelotão.
Contudo, se um dia destes alguém resolver recordar o quão importante foi a equipa de Vila Franca do Rosário para o nosso ciclismo basta ir-se aos arquivos dos principais jornais, ou à Biblioteca Nacional, procurar na data certa e recolher os dados que então se publicaram.
Os anos que a Sicasal esteve no pelotão, como evoluiu de patrocinadora do Torreense até ter uma equipa própria, quantas voltas ganhou, quantas vitórias somou, quantas vezes esteve na Vuelta ou no Giro...
Mas daqui a dez anos, se se quiser fazer o mesmo em relação à União Ciclista da Maia vai-se às colecções de Outubro de 2007 e o que é que se encontra?
Nada. Uma notícia apenas. A Maia acabou!...
Percebem?

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