sexta-feira, novembro 16, 2007

974.ª etapa

VENDO O MUNDO AO CONTRÁRIO…

Bonito, bem escrito… interessante até, o editorial do n.º 9 do Jornal Ciclismo. Se o lermos “vestindo” a pele do editorialista.

Não conheço o José Carlos Gomes mas acredito piamente que seja uma pessoa de bem. Que gosta de ciclismo. Tanto… ao ponto de ter assumido de corpo e alma um projecto, dentro da Comunicação Social, inteiramente dedicado à modalidade.
Admiro-o por isso.
E creio na sua honestidade.
Já elegi a sua opinião como válida e a ter em conta quando se fala de Ciclismo.

Tudo o que ele escreve sobre o chamado “passaporte biológico” é perfeitamente defensável. De certeza que, com os argumentos apresentados – apesar destes não diferirem em quase nada dos da própria UCI – conseguirá arregimentar seguidores. Contra isso nada a dizer.

A propaganda foi inventada exactamente para estas situações mas, embora seriamente tentado a listar aqui uma série de puras manobras de propaganda que cumpriram o seu papel, após o necessário período cinzento na História, acabamos, mais cedo ou mais tarde, por compreender qual fora o seu verdadeiro objectivo, por isso não o vou fazer.

Mas explico o parágrafo anterior.
E basta-me uma frase para isso:

É preciso deixar assentar a poeira que nos é atirada aos olhos.

Já agora, aproveito para um outro esclarecimento.
Não escrevo este artigo para “responder” ao editorial do Jornal Ciclismo.

Embora não me tenha sido difícil identificar-me entre… “as vozes do costume”.
Vamos lá ver se sou capaz de traduzir em texto aquilo que penso.

Permitam-me – e desculpem-me – um pequeno desvio no discurso.
Já escrevi, em situações que nada têm a ver nem com o Ciclismo nem com os jornais, que às vezes me sinto deslocado no tempo.
Definitivamente, e não sei explicar as razões, muito menos apontar “culpados”, sinto que apareci aqui, neste mundo, fora do meu tempo.
Atrasado, em relação ao que penso e sinto.

Venho, embora atrasado, de um tempo de compreensão e de solidariedade.
Não tenho nada a ver com esta autêntica “guerra” pela sobrevivência em que vivemos.

Na qual, para “salvar” a pele se descarta tudo o resto.

Voltando ao editorial do Jornal Ciclismo.
Se há coisa de que o José Carlos Gomes não pode ser acusado é de falta de coerência.

Mas disso também não me acusarão a mim!
O problema é que olhamos para a mesma coisa sob perspectivas diametralmente opostas.

E, como – mesmo que eu insistisse em ser modesto – não podemos reescrever a História temos, de um lado, um adepto do ciclismo que sabe muito pouco de Ciclismo; do outro, outro (já “carregado” com o ferrete de jornalista) que lhe dedicou os seus últimos 16 anos de vida…

Não lhe reconheço, por isso, autoridade para me etiquetar.
Eu sei que o não fez nominalmente… mas quem é que nos últimos meses tem sido “a voz do costume?”
Mas não me arrependo nem um bocadinho, amigo!

Eu sou por um dos lados, tendo perfeita consciência do que digo, escrevo e defendo.

E tenho a certeza de que o mesmo não se pode dizer em relação a ti…
O que não faz de ti menos jornalista do que eu.
Apenas um jornalistas que sabe muito menos do que eu.

Disse, lá atrás, que estávamos na presença de alguém que, pelo menos, é coerente.

Mas quando se é coerente é para que se o seja… sempre.
Aqui vai um exemplo da minha memória de elefante…

Não há muitos meses ainda escrevia essa pessoa
num dos Blogs que assina, e que era, mais coisa menos coisa, isto: “A Comissão da Carteira Profissional enviou-me uma carta a notificar-me para o facto de ainda não ter regularizado a minha situação profissional. Ora se estou desempregado [trabalhava numa loja de venda de telemóveis] não tenho que pagar nada… porque me chateiam?”

Mesmo que apenas induzido, reclamava direitos. Ou, no caso, a não obrigatoriedade de os cumprir por se sentir não abrangido.

Malgrado isto, a mesma pessoa que se insurgiu contra aquilo que achou ser um atropelo dos seus direitos, continua a negar direitos aos Corredores profissionais de Ciclismo.

Aparentemente apenas com um grande e demolidor argumento: porque sim!

O editorial está bonito, bem escrito… como referi logo no início.

Só lhe falta uma coisa.
Porque é que um jornalista (que enquanto cidadão clamou pelos seus direitos) não reconhece os direitos que os cidadãos Corredores profissionais de Ciclismo têm? Será por que são diferentes de quaisquer outros cidadãos?

Repesco, de mais ou menos a meio do editorial, uma outra frase-chave:

“Aqueles que julgam defender o ciclismo contestando a ideia de que é preciso agir com mão de ferro, mais não fazem do que alimentar o manto de suspeição que pende sobre a modalidade.”

Errado!
Não acertou na mouche, mas pior ainda, falhou completamente o alvo.
E contradiz-se nesta frase, o que é mais grave em termos de artigo de opinião.

Afinal, estamos perante uma modalidade… “podre”, ou apenas se suspeita disso?
Eu nunca disse a primeira coisa.
E sempre sustentei que suspeitar não vale.
Ou se prova, ou se calam todos.
Foi, ou não foi?

E o que é isso da “mão-de-ferro”?

Voltamos ao princípio de tudo e o articulista não tem pejo em o sublinhar.

Passando ao de leve sobre a presunção de inocência – que eu defenderei até ao fim como incontornável – afirma que, e cito: “O Ciclismo está sob um manto de presunção de culpabilidade”.
Que me enquadrem isto na Lei em vigor.
Não?
Não conseguem?
Ok…

Então, uma vez mais, sou obrigado a voltar atrás no tempo.
O editorialista do Jornal Ciclismo está apenas a repetir-se. Escreve agora, no papel, o que já antes escrevera na blogosfera, e que eu, atempadamente, contestei.

Não, não é aceitável que alguém que queira ser respeitado diga, cito:

“Não há direitos absolutos”.
O que é que isso quer dizer?

Comecemos pelo princípio.
Não sendo… “absoluto” o direito à vida, como o balizamos?
Os que têm a infelicidade de nascer sem serem perfeitos, por exemplo… podemos descartá-los?
Não sendo… “absoluto” o direito a uma habitação condigna… continuamos a deixar o “pessoal das barracas” a viver em condições sub-humanas?
Não sendo… “absoluto” o direito à saúde… quem não tem dinheiro para pagar a médicos particulares devemos deixá-los na lista das vagas para aquilo que deveria ser o Serviço Nacional de Saúde… até morrerem?
Não sendo… “absoluto” o direito à liberdade… vamos meter na prisão quem, como eu, por exemplo, não concorda genericamente com quase nada do que é vigente?

Os DIREITOS SÃO absolutos.

Sempre!
Embora, e quando há tendência para cair para a baboseira, me deixem a pensar se os devo, ou não, questionar.

Como noutras discussões, noutros fóruns, acabamos sempre por chegar ao mesmo ponto.
E, mesmo que me veja, por convicção, na situação de ter de aceitar – porque todos têm DIREITO à opinião – ideias menos bem conseguidas, não abdico do meu DIREITO a contestá-las.

E em relação ao objecto, concreto, do editorial do Jornal Ciclismo, eu reforço a minha opinião: Não!

O Ciclismo não tem que andar à frente das outras modalidades.
Foi giro ter partido para esta “corrida” antes das demais, mas agora, e perante os factos… quando a modalidade enfiou o barrete - para além das orelhas - de que é uma mentira (enquanto em todas as outras todos se riem à sua custa)… a reacção lógica - e é aquela que falta - é a de que os mais prejudicados desportistas de todas as modalidades finquem pé e digam: BASTA! Não somos mais “ratos de laboratório”…

Querem combater o doping?
Hellas!, olha aqui eu de braço no ar a concordar!...

Mas porque tem que ser o Ciclismo a dar o exemplo?
E para que conste… também não concordo com o tal “passaporte biológico”.

Claro que não.

Aceito-o como válido para os Corredores profissionais de Ciclismo e, daqui a meia dúzia de meses ele é imposto aos jornalistas…

Digam que não se importam!…

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