quarta-feira, novembro 14, 2007

969.ª etapa

O REGRESSO DO “INFERNO” DO ANGLIRU EM 2008

O Director-Geral dos desportos, do governo autonómico do Principado das Astúrias revelou esta semana que a próxima edição da Vuelta, a correr entre 30 de Agosto e 21 de Setembro de 2008, terá chegada ao Angliru e uma outra, também em alto e ainda no Principado, esta a estrear, será na desconhecida Estação de Inverno de Fuentes de Invierno.

“Parece-me uma forma muito interessante de publicitar esta nova infra-estrutura na Região, aproveitando a cobertura global da Vuelta”, disse Micael Fernández Porrón que aposta forte tendo em vista um retorno positivamente capitalizável e que se enquadrará no plano da promoção turística das Astúrias.

A subida até ao Alto de el Angliru, nos montes la Gamoral, muito perto de Oviedo, a capital da região, é uma subida íngreme que parte desde La Vega-Riosa, uma pequena cidade que é um dos centros mineiros das Astúrias e é uma das escaladas mais exigentes do ciclismo mundial de estrada, tendo sido usado na Vuelta a España por três vezes.

Nem sequer é muito alto o monte. Fica a cerca de 1570 metros acima do nível do mar e o desnível, a partir do início da subida é de apenas 1256 metros, mas a escalada, com 12,55 quilómetros e uma inclinação média de 10,04 % é a mais difícil que eu conheço.





Subi-a duas vezes.

Em 2000, na companhia do meu querido e eternamente presente Bruno Santos;
depois, em 2002, com o Fernando Emílio, acompanhando, por alturas da Volta às Astúrias, o Manel Zeferino que levou junto o Manel Neves, o seu 1.º mecânico, num “apalpar” das dificuldades que haveriam de encontrar cinco meses depois, na Vuelta.

Nos primeiros cinco quilómetros da escalada a subida engana. Tem uma inclinação média de 7,6 %, é verdade, mas ainda me lembro das palavras dos dois homens da então Milaneza-Maia. Tanto o Fernando como eu já tínhamos falado da singularidade desta subida e eles – tal como acontecera comigo, na primeira vez que a subi – tiveram a mesma reacção: “Subidas destas temos nós em Portugal!”



Não temos!

Nem nada que se aproxime e eles perceberam isso quando, depois de uma ligeira “baixada”, por alturas do parque de merendas, então a coisa se tornou séria.
Desde a marca dos 6 km até ao topo a inclinação média é 13,1 %. A parte a mais íngreme, que tem uma inclinação incrível de 23,6 % e é conhecida como Cueña les Cabres a, aproximadamente, três quilómetros do topo.
E desengane-se quem pensa que a escalada é mais fácil após este ponto, pois ainda há mais duas rampas mais com inclinações de 18 a 21 %.

Os organizadores da Vuelta procuraram durante muito tempo por uma montanha que poderia rivalizar com d'Huez de Alpe ou o Mont Ventoux, do Tour de France. E aceitaram o desafio lançado alguns anos antes pelo jornalista José Enrique Cima – ex-Corredor que foi contemporâneo de Joaquim Agostinho na segunda metade da década de 70 e primeira da de 80, no século XX – que escrevera um livro a partir dos dados que lhe chegaram através dos Cicloturistas que já usavam a espécie de estrada que leva até ao alto.

Depois… depois foi a felicidade de ter encontrado nas autoridades locais - ao nível das nossas câmaras municipais - a vontade de investirem. Foi asfaltado o caminho até ao topo e criada no alto uma zona plana capaz de albergar as infra-estruturas de uma máquina como a Vuelta e a subida fez-se pela primeira vez em 1999.

Depois disso foi-o por mais duas vezes.
Venceram lá no alto, primeiro o já falecido José Maria Jimenez, depois o italiano Gilberto Simoni e, finalmente, Roberto Heras.

De assinalar que, desde a primeira subida sempre tivemos equipas portuguesas no pelotão. E para o ano, quando já é certa a quarta subida, anuncia-se que poderemos ter o Benfica – que foi a primeira equipa lusa a subir o Angliru – na Vuelta.
Faremos, então, o pleno.

Subida de 1999

O moldavo Ruslan Ivanov chegou ao início da subida com cerca de 1 minuto de avanço, mas o russo Pavel Tonkov atacou forte perto de Ablaneo e pouco depois alcança-o. Em Viapará, Tonkov tem 40 segundos sobre um grupo formado por Rubiera, Heras, Jiménez e Ulrich e um minuto sobre Casero e Olano.
A 8 km de meta Olano alcança o grupo de Ullrich e pouco depois Heras lança um ataque ao qual apenas Jiménez consegue responder. Tonkov passa a 4 km da meta com 57 segundos sobre o duo formado por Heras e Jimenez e com 1.19 minutos sobre Olano e Ulrich. Beltran alcança Olano e este aproveita para deixar Ullrich para trás.

No Avirú, Jiménez deixa Heras para trás e começa a aproximar-se de Tonkov que já acusa o esforço e só tem 45 segundos de vantagem sobre o corredor da Banesto. Nas últimas curvas Jiménez alcança o corredor russo da Mapei e assegura a vitória… ao sprint.

Lá cima a grande surpresa era que Olano, apesar de uma queda e da grande dureza da etapa, foi quinto e manteve de forma explêndida a Camisola Dourada, aumentando a vantagem sobre Ullrich em um minuto.

Classificação final da etapa:
1.º, José Maria Jiménez (Esp/Banesto), 4.52.04 horas
2.º, Pavel Tonkov (Rus/Mapei), m.t.
3.º, Roberto Heras (Esp/Kelme), a 1.01 m
4.º, Manuel Triqui Beltrán (Esp/Banesto), a 1.13 m
5.º, Abraham Olano (Esp/ONCE), a 1.44 m
6.º, Leonardo Piepoli (Ita/Banesto), a 2.03 m
7.º, Jan Ullrich (Ale/Telekom), a 2.45 m
8.º, José Luís Rubiera (Esp/Kelme), m.t.
9.º, Davide Rebellin (Ita/Polti), a 3.00 m
10.º, Igor González de Galdeano (Esp/Vitalício Seguros), a 3.09 m
… e os portugueses?
30.º, Melchor Mauri (Esp/Benfica), a 9.07 m
37.º, Orlando Rodrigues (Banesto/Esp), a 11.12 m

61.º, Joona Laukka (Fin/Benfica), a 17.12 m
63.º, Oscar Lopez Uriarte (Esp/Benfica), a 17.32 m
64.º, Quintino Rodrigues (Benfica), a 17.57 m
101.º, Daniel Bayes (Esp/Benfica), a 27.54 m
108.º, Luís Sarreira (Benfica), a 29.20 m
127.º, José António Garrido (Esp/Benfica), a 30.47 m
161.º, Jorge Silva (Benfica), a 34.50 m


Subida de 2000

A 60 km da meta o pelotão estava esgotado devido ao trabalho da Kelme. Somente os melhores estavam no grupo de trinta corredores que seguia na frente depois da penúltima montanha do dia. A Kelme já não contava com Oscar Sevilla, que tinha o seu dia mau, nem com Chechu Rubiera que fez uma grande selecção na parte final da subida a La Colladiella, bem como na decida e também na subida ao Soterraña, onde o terceiro da geral, Igor González de Galdeano, descolou e abandonou a Vuelta antes da subida ao Angliru.

O grupo já só contava com uma dezena de corredores no topo de La Soterraña, grupo esse que continuo na frente até La Vega-Riosa. Dois quilómetros depois de Viapará, Escartín lança um ataque e Casero sente muitas dificuldades. No contra-ataque de Tonkov e Heras, em Les Cabanes, com 21 % de inclinação, Casero perde o contacto.

A 6,5 km da meta Heras toma a iniciativa de ir para a frente, tentando conseguir a maior vantagem possível sobre Casero. O seu forte arranque deixa Casero a 2.09 minutos, a 3 km para o topo. Entretanto, Casero começa a acusar o cansaço e tanto Rumsas como Escartín deixam-no para trás. Começa então o seu calvário até a meta, onde acaba por perder 3.41 minutos para Heras, o seu maior rival.

Este também passava mal, mas tinha obtido uma vantagem maior do que a que pensava. Heras não ganhou a etapa porque Simoni esteve incrível nos últimos 3 km, mas deu um passo de gigante rumo à vitória final em Madrid.

Classificação final da etapa:
1.º, Gilberto Simoni (Ita/Lampre), 4.37.34 horas
2.º, Jan Hruska (Che/Vitalício), a 2.19 m
3.º, Roberto Heras (Esp/Kelme), a 2.58 m
4.º, Thomas Brozyna (Pol/CCC), a 3.11 m
5.º, Pavel Tonkov (Rus/Mapei), a 4.27 m
6.º, Roberto Laiseka (Esp/Euskatel), m.t.
7.º, Laurent Brochard (Fra/Domo), a 4:44
8.º, Raimondas Rumsas (Lit/Fassa Bortolo), a 5.16 m
9.º, Gorka Gerrikagoitia (Esp/Euskatel), m.t.

10.º, Fernando Escartín (Esp/Kelme), a 5.46 m
… e os portugueses?
45.º, Segis de la Torre (Esp/LA-Pecol), a 14.06 m
47.º, Andrei Zintchenko (Rus/LA-Pecol), a 14.38 m
50.º, José Rosa (LA-Pecol), a 15.01 m
65.º, Fernando Mota (LA-Pecol), a 20.52 m
66.º, Saulius Sarkauskas (Lit/LA-Pecol), m.t.
72.º, Youri Sourkov (Mda/LA-Pecol), a 21.21 m
85.º, Rubén Oarbeaskoa (Esp/LA-Pecol), a 22.52 m


Subida de 2002

Na aproximação ao Angliru, José António Flecha e Oscar Pereiro seguiam na frente após mais de 150 km de fuga. A Kelme toma a comando para proteger o seu líder, Oscar Sevilla, mas a Saeco responde, tentando garantir a vitória para Simoni e no Cordal o seu companheiro Di Luca adianta-se com um grande ataque. No início do Angliru acaba a aventura de Flecha e Pereiro e Aitor Osa toma a dianteira.

O basco fez um grande trabalho mas foi neutralizado após o Viapará pelo ritmo alucinante imposto por Tauler, que arredou da luta muitos favoritos. Na rampa de La Cuesta les Cabanes (de 21,5%) surge um inesperado ataque de Aitor González que deixou ko o seu companheiro e líder da prova, Oscar Sevilla.

Roberto Heras aproveita a ocasião para contra-atacar e segue em solitário para a meta. Em La Cueña les Cabres (23,5% de inclinação) Heras teve um momento mau, mas recuperou de imediato. Beloki esteve brilhante nos últimos 3 km e conseguiu ser segundo, a 1.35 minutos de Heras.

O italiano Casagrande também demonstrou muita força e foi 3.º, a 1.41 minutos. O então jovem Iban Mayo deslumbrou ao ser quarto, a 1.54 minutos, à frente de Aitor González, Di Luca, Simoni e Casero

Classificação final da etapa:
1.º, Roberto Heras (Esp/US Postal), 5.01.02 horas
2.º, Joseba Beloki (Esp/ONCE), a 1.35 m
3.º, Franceso Casagrande (Ita/Fassa Bortolo), a 1.41 m
4.º, Iban Mayo (Esp/Euskatel), a 1.54 m
5.º, Aitor González (Esp/Kelme), a 2.16 m
6.º, Danilo Di Luca (Ita/Saeco), m.t.
7.º, Gilberto Simoni (Ita/Saeco), m.t.
8.º, Angel Casero (Esp/Team Coast), a 2.22 m
9.º, Fabien Jeker (Sui/Maia), a 2.34 m
10.º, Feliz Garcia Casas (Esp) Bigmat a 2.42 m
… e os (outros) portugueses?
15.º, Rui Sousa (Maia), a 3.48 m
17.º, Claus Möller (Din/Maia), a 4.08 m
29.º, Joan Horrach (Esp/Maia), a 8.53 m
46.º, José Azevedo (ONCE/Esp), a 12.16 m
53.º, Rui Lavarinhas (Maia), a 13.13 m
66.º, João Silva (Maia), a 18.52 m
133.º, Angel Edo (Esp/Maia), a 28.07 m
134.º, Melchor Mauri (Esp/Maia), m.t.

Portanto, o melhor representante de uma equipa portuguesa é ainda o suiço Fabien Jeker (Maia-2002), o único que terminou no top-ten na etapa; e o melhor português Rui Sousa, também dessa equipa da Maia, que foi 15.º, a menos de quatro minutos do vencedor.

Textos sobre as etapas a partir da Wikipédia

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