quarta-feira, novembro 07, 2007

963.ª etapa

DIGO-O COM ALGUMA MÁGOA:
NÃO GOSTEI DE NADA!
(Mas quem sou eu…)


Digo-o desassombradamente: é má a entrevista ao Cândido Barbosa que sai neste último número do Jornal Ciclismo. O que não implica que eu mude de ideias em relação ao jornal e não deixe, como fiz no artigo anterior a este, de o recomendar.
Mas fiquei extremamente decepcionado. A valer!

Neste género de entrevistas longas é normal saltar-se de assunto em assunto e voltar-se atrás e, por vezes – muitas vezes, digo eu que já fiz muitas –, surgem declarações desfasadas do contexto próprio. É muito exigente e pede muito ao(s) jornalista(s) perceber isso. E não se deixar enganar. E não enganar o entrevistado.

A entrevista que acabo de ler baila aqui, algures, entre uma coisa e outra.
O mau da coisa é que acaba toda a gente por sair mal na foto.

Toda a gente conhece o Cândido. Quero dizer… toda a gente que anda no Ciclismo o tempo suficiente para o conhecer. Percebem onde quero chegar…

É extremamente penalizador, para o próprio Cândido, e é preciso conhecê-lo bem para não se cair neste tipo de tentações – “Fui contratado para ganhar” –, e o jornalista não deve aligeirar as suas responsabilidades.
Há coisas que têm que ser lidas dentro de determinados contextos. O que me parece, sinceramente me parece, não foi tido em conta.
Para além do facto de uma entrevista não deixar, nunca, de ser – pelo menos em algumas passagens –, também notícia. E esta exigir sempre confirmação.

Conheço o Cândido desde muito jovenzinho. Na verdade, a primeira corrida de Ciclismo que cobri foram uns nacionais de juniores, que ele ganhou. Ele tem 33 anos, por isso, há mais de 15 anos que o conheço. E sempre foi assim. Explosivo nas declarações. Sem verdadeira intenção de atropelar seja que fôr… mas também sem o cuidado de medir as palavras.

Nas mãos de jornalistas menos cautelosos… é uma bomba.

Mas, depois de tudo o que já fez pelo Ciclismo nacional… não merece ser assim exposto.

Disse-o logo a abrir, não gostei nem um bocadinho da entrevista.
Aliás, e ao contrário do que já lera em números anteriores deste jornal, desta feita houve muito pouco cuidado. Ao extremo de se lerem, por mais de uma vez, as (não feitas, pelo menos não escritas…) perguntas nas respostas que o Cândido terá dado.

Aquela do “passar por espanhol” é de morrer…
Mesmo que tenha sido o próprio Cândido a dizê-lo.

Nessa altura, por muito que custe ao Cândido – mas os jornalistas deveriam sabê-lo – ele não era identificável no pelotão. E, em tantos anos que levo de Ciclismo, não acredito que o tenha ouvido; não acredito que o adepto à beira da estrada grite para o meio do pelotão – porque, de facto, o Cândido nunca andou (ou se aconteceu foi uma vez e isso é irrelevante) - assim tão isolado… atrás, a ponto de merecer esse… incentivo. E depois porque não acredito que da berma da estrada alguém identificasse, naqueles dois segundos que um corredor leva a passar, a camisola de uma equipa a ponto de saber (e aqui acresce outra questão, conhecerão todos as camisolas?) que era espanhola.
Foi uma pequena efabulação. Desnecessária.

Mas o cerne da questão assenta noutro ponto.
Exactamente naquele que, lá atrás, eu identifiquei como, no meio de uma entrevista pode acontecer… notícia. E, repito, as notícias são para serem confirmadas, confrontando as partes.

O Cândido – e repito-o, correndo o risco de ser repetitivo – é uma pessoa, não um Corredor, mas uma pessoa que funciona a partir de um elevado grau de auto-estima. De auto-convencimento. Por isso eu disse que é preciso conhecê-lo bem. O que vai muito além de vê-lo só nas transmissões televisivas da Volta e dos flash-interview, etapa a etapa… sendo que, é verdade, nos últimos três anos ele esteve em 30 desses espaço-relâmpago onde se colhem as declarações a quente. Logo, esteve em todos.

É verdade. Mas isso não chega para que diga “Fui contratado para ganhar”, e, mais à frente, que acha que vai ser o chefe-de-fila da equipa, na Volta, sem que isso nos seja confirmado, ou não, pelo responsável da equipa.
E não esqueçamos que, só por acaso, essa equipa tem nos seus quadros um senhor chamado José Azevedo.

A esse ninguém jamais ouviu, nem vai ouvir, dizer que é ele o candidato-mor e “a”, “b” ou “c” estarão como “reserva”.
O Cândido disse-o? Não duvido.
Mas também é nosso (do jornalista) dever ler o que se diz, como se diz, como se quereria ter dito e, pesando isto tudo… escrever de forma a não deixar mal nenhuma das partes.

Mas para isso é preciso saber-se muito bem do que se está a escrever.

Grandes pulos… grandes quedas!
Acho que posso sintetizar assim o trabalho com o Cândido.
Por exemplo… se ele diz, claramente, que prefere a Volta aos Jogos Olímpicos, seria interessantíssimo ter lido, nem que fossem só duas linhas, o que o Seleccionador nacional teria a dizer sobre isso.

Ainda por cima depois do que aconteceu este ano em relação aos Mundiais.

Como, mas isso já ficou implícito lá atrás, seria obrigatório ouvir o director-desportivo do Benfica a confirmar que o Cândido é a aposta para a Volta e que o Zé Azevedo não será mais que um aguadeiro de luxo…
Se o Cândido já tivesse ganho três Voltas… aí eu nem poria a questão.

Para terminar.
O Cândido é um rapaz que fala com o coração.

É emotivo e por isso conquistou os adeptos do Ciclismo em Portugal.

O que ele disse, eu compreendo. Só que o jornal não é escrito para mim…

6 comentários:

Unknown disse...

Olá. O meu nome é João Pedro Brandão, e gostaria de deixar aqui a minha opinião sobre o Cândido e esta entrevista em particular.
Tive oportunidade de falar pessoalmente com o Cândido depois de ele ter dado a entrevista (mas qeu não sabia que ele a tinha dado) e também fiquei admirado porque muitas das coisas que ele me disse não "batem certo" com o que se lê na entrevista. Não quero dizer que alguém está a mentir ou a a ser menos correcto, o que digo é que o jornalita ( e o jornalismo em geral) é uma "arte" difícil, pois quando mal feito pode levar a erros graves. De qualquer maneira penso que todos estarão de acordo que o Cândido é um "puro", e disso já há poucos hoje em dia.
Obrigado.

mzmadeira disse...

Sem dúvida, João Pedro Brandão, em relação ao Cândido Barbosa. É - e eu já tive oportunidade de o referir - um Corredor e um Homem extremamente Honesto. Que diz o que pensa. Será a isso que chama ser "puro". Concordo.

Mas faço uma ressalva, não disse, nem sequer pensei, que o trabalho jornalístico estivesse ferido de "erros graves", palavras suas.

O que afirmei, e fi-lo com conhecimento de causa, é que não é fácil ordenar no papel uma entrevista de fundo que, di-mi-lo a experiência, nascerá sempre de uma longa, muito longa conversa.
E uma entrevista como está não terá "custado" menos de três horas de conversa.
Em três horas diz-se muita coisa. Arrumar o que se diz de forma a não correr o risco de tirar seja o que for do seu contexto é a arte dos grandes entrevistadores. (Não sou, nem de perto nem de longe um deles, que fique claro!)
E depois há - como deve ver nos grandes jornais - tácticas a que se recorre. A subdivisão do trabalho, por exemplo, em peças (várias) mais pequenas, com uma pergunta concreta e a resposta directa a essa pergunta. Que o leitor perceberá que não é sequência de nehuma outra questão. É que uma pergunta, surgida em sequência normal a uma resposta, pergunta essa que pode até ser o lançamento de ouro assunto, nunca deixa de estar fisicamente ligada à resposta anterior e a resposta a essa pergunta pode ser "lida" como a continuação de um mesmo raciocínio...

pedropereira disse...

Concordo com o Sr. madeira... Totalmente... Quem vê o candido a falar para a imprensa nos ultimos 2/3 anos, é sem duvida o candido que dá esta entrevista... e aqui acredito totalmente no jornalista. O candido, antes de mais, esclareço, não é um ciclista, que se eu fosse DD do Benfica nunca contrataria, 1º: devido às criticas que colocou no dia da Serra da estrela na Volta à equipa do SLB,(o nucleo duro´dos ciclistas é o mesmo e a estrutura tecnica tambem, por isso são agora seu companheiros), 2º: é o ciclista só mais bem pago do pelotão nacional, certo? e que vitórias em grandes voltas tem? ZERO... ele é sprinter, ganhou muitas etapas, pois é o melhor português a sprintar. 3º: A idade, Candido tem 33/34 anos. Já lá temos o SR. ZÉ Azevedo, que também está em fase descendente da Carreira e esse sim tem qualidades de Chefe de equipa.
O Candido, faz falta ao Benfica para haver uma maior empatia do país ciclista com a equipa, pois Candido é o Corredor do povo e para o ano, vão existir mais apoiantes, sem duvida. candido faz falta também para chegadas ao plano e de etapas com poucos metros de altitude... aí im, foi uma aposta ganha do benfica.
Mas pronto, o benfica contratou-o, e espero que traga muitas vitórias para o benfica e se ele ganhar a Volta melhor ainda, para ele e para o clube.

Unknown disse...

Caro Pedro Pereira,
Gosto em relação a atletas são relativos. é obvio que nem todos podemos gostar dos mesmo. Por exemplo: eu não gostava do estilo do Maradona, no entanto reconheço que ele foi um dos melhores jogadores de todos os tempos. Agora outra coisa é não saber reconhecer os meritos de um atleta. Quando pergunta o que o Cândido ganhou, peço-lhe que dê uma vista de olhos no curriculum dele. Ele pode precissar da volata a Portugal no curriculum dele por uma questão de realização pessoal e de terminar em bleza a sua carreia, mas para mim o Cândido será um dos melhores ciclistas de todos os tempos em Portugal, isto porque só quem anda nestas coisas do pedal (e refiro-me a quem pratica esta actividade, mesmo que de forma semi-profissional) é que pode dar o valor que ele merece. O esforço que um ciclista como o Cândido faz para conseguir ficar em nas posições que fica na Serra e na srºa da GRaç´s não é comparável com nada neste mundo.
O Cândido é um heroi, em cima e fora da bicicleta. Pelo homem que é e pela força interior que tem.
cumps,
JPBrandao

mzmadeira disse...

Não vamos agora encetar uma "guerra" entre os pró e os nem tanto, em relação ao Cândido. Não vale a pena.

Se a minha posição ficou dúbia, reforço, agora, que o Cândido não tem que ser chamado a esta questão. Tem o seu estilo e, no fundo, não há quem não o admire.
Porque é frontal, porque é emotivo, porque diz aquilo que às vezes queríamos dizer e não somos capazes...

Em termos desportivos, o Cândido precisa de um certo... "ruído" à sua volta para se sentir motivado. Nada a dizer.

Provoca-o ele próprio, na maioria das vezes... ele nunca descartou responsabilidades. É credor de todo o nosso respeito.

Mas - e aqui considero-me previlegiado em relação à maioria - já o vi dar o que tinha e o que não tinha em prol de um companheiro de equipa. Concretamente, em 2003, trabalhando que nem um... "mouro", para o Nuno Ribeiro...

Serei o último a criticar a sua coragem em se apresentar constantemente como favorito. Às vezes acho que se excede mas é um rapaz que me dá todas as garantias.

Neste caso concreto, acho que ele não mediu bem o peso que é preciso reconhecer que o Zé Azevedo tem na equipa. Mas também conheço o Orlando e fico descansado. A sua palavra ditará a forma como a equipa vai estar na estrada... Por isso percebo que, também ele, Orlando, terá subtraído peso às declarações do Cândido. sabe que ele é assim. Foram companheiros na Banesto e na LA-Pecol, conhece-o muito bem.

Em relação ao Zé Azevedo (aqui o Cândido terá de assentar os pés no chão), é superior a estas questínculas. Mas é bom para um DD ter na mesma equipa o Zé e o Cândido. Porque o Zé é um Homem com H grande e será o primeiro a dispor-se a trabalhar para um companheiro de equipa se este estiver em melhores condições de ganhar. A Volta, no caso em discussão. Mas o Cândido também é. E agirá exactamente da mesma forma.

Não vai acontecer nenhuma "guerra" entre os dois. Ponho a minha cabeça no cepo...

pedropereira disse...

Sr. Brandão, eu no meu comentário sobre o Candido quando me referi a vitórias em grandes voltas, queria referir vitórias de classificação Geral... não vitórias de etapas, pois o candido aí penso que salvo melhor opinião, é o ciclista Português com mais vitórias de etapa... eu não sou nem fui ciclista Prof. nem semi prof... sempre fui desde os meus 16 anos cicloturista e acompanhei a volta pelo país em duas situações, já fui ao alpe d`Huez duas vezes e á Volta a Espanha duas vezes também, sendo a 1ª ao angliru e a 2ª este ano em Vigo...
Posso não viver por dentro o ciclismo profissional mas nem só quem tá lá dentro é que sabe viver e perceber aquele mundo, pois eu sei perceber que tendo em conta as caracteristicas do Candido, ele de facto tem de treinar e esforçar-se muito para alcançar ou tentar alcançar os seus objectivos, que nos ultimos anos tem passado pela volta, e reconheço tem evoluido bastante (o homem é spinter, ou era...) mas talvez já vá tarde tendo em conta a idade. Sei que o candido tem coisas boas e, tou a lembrar-me da excelente etapa da Sra. da Graça de 2003 em que ele foi de facto o grande apoio do Nuno Ribeiro (seu cunhado).
Se gosto dele pelo que ele mostra ser na tv? não!!! Se ele tem qualidade? Muita... vejam-se as vitórias e o seu passado, concordo. se ele pode vencer a classificação geral da volta? Não... porque apesar do esforço "extra-terrestre" que ele faz, ele não tem caracteristicas
para a vencer... tinha de ser uma volta sem a Torre e sem o contra-relógio...
Eu já tinha esta opinião sobre o candido antes de ele ir para o Benfica e continuo a tê-la... mas aceito claro os vossos pontos de vista... Um abraço a todos e parabéns pelo Blog... está de facto muito bom.
Ass: Pedro Pereira